Por Rangel Alves
da Costa*
Parabéns,
Beija-Flor, merecidíssimo o título de campeã entre as agremiações do grupo
especial das escolas de Samba do Rio de Janeiro. Foi o 13º título de uma
trajetória ainda jovem na história do carnaval carioca. Numa disputa acirrada
com o Salgueiro, ainda assim prevaleceu a força de um trabalho que se
desenvolveu com técnica e perfeição ao longo de toda avenida.
A vitória da
escola da baixada fluminense logicamente que não agradou a todos. As escolas
rivais, contudo, parecem ter aceitado mais a pujança nilopolitana que muitos
internautas e participantes de redes sociais. Estes sempre apontam o apoio
recebido da Guiné Equatorial como forma de contestar o título. Esquecem-se da
força da escola em si, do seu trabalho de barracão, no seu perfeccionismo na confecção
das alegorias e adereços, na concepção dos carros alegóricos e na elaboração
das fantasias.
Não se deve
criticar o título de campeão àquele que fez por onde ser o melhor e deu provas
disso na avenida. Seja com apoio de governo ditatorial ou não, a verdade é que
a Beija-Flor fez por merecer mais um campeonato. Uma escola de samba pode
receber cem milhões de dólares de patrocínio e ainda assim não apresentar o
resultado esperado. Mas com a Beija-Flor não, pois do seu barracão só sai o que
é da melhor qualidade, seja num simples adereço ao carro mais luxuoso.
Lógico que
tudo planejado pela Comissão de Carnaval, tudo devidamente desenhado por
experientes profissionais, tudo longamente ensaiando pelos diretores de alas,
de modo a ter harmonia e poder evoluir com precisão, mas sempre com um
diferencial na Beija-Flor: o brilho, a perfeição maior, a riqueza de detalhes,
a grandiosidade luxuosa. As máscaras africanas estavam deslumbrantes, bem como
as faces negras em cima dos carros. Uma maestria que remonta Joãosinho Trinta e
que prossegue dando excelentes frutos.
E o título
lavou a alma, serviu para dar a volta por cima depois do injusto 7º lugar do
ano passado, quando não participou sequer do desfile das campeãs. As motivações
são passadas, mas a perseguição à escola deu-se unicamente por causa da ligação
de Boni, o homenageado, com a Rede Globo. Com raiva ou ciúmes da poderosa,
sobrou para a escola.
Não achando
pouco a injustiça praticada no carnaval de 2014, novamente quiseram prejudicar
– e a todo custo – o desfile da agremiação carnavalesca de Nilópolis neste ano.
Sob a desculpa de que o patrocínio veio do governo da Guiné Equatorial, acusado
da prática daquelas atrocidades próprias da maioria dos países africanos, logo
cuidaram de repassar a ideia de que a Beija-Flor estaria conivente com os
desmandos governantes daquele país.
Ora, mas não
se pode esquecer que a nosso lamacento e corrupto governo também patrocinou,
através da não menos lodosa Petrobras, o carnaval carioca e com o repasse de
muitos milhões. Desse modo, criticar a Beija-Flor por haver recebido patrocínio
do país africano e não dizer que todas as escolas do grupo especial também
receberam dinheiro de um governo sujo, no mínimo é não querer fazer um correto
juízo de realidade. Ou será que o atual governo brasileiro é mais honrado e
honesto que o da Guiné Equatorial?
Creio que o
problema todo tenha sido ocasionado por ciumeira, afinal foram dez milhões de
dólares. Esta foi, segundo dizem, a quantia disponibilizada pelo governo da
Guiné Equatorial para que a Beija-Flor desenvolvesse o enredo abordando as riquezas
culturais e históricas daquele país. Contudo, o enredo foi muito além, pois
cuidou da África como um todo, levando para a avenida toda aquela força mística
e cultural de um povo ainda não devidamente compreendido.
E a Beija-Flor
parece realmente gostar de desenvolver enredos africanos. Numa junção de
riqueza histórica e cultural do continente africano, com suas lendas, aspectos
tribais, discriminações e sofrimentos, e a maestria da escola em transformar
tudo isso em máxima beleza na avenida, não poderia dar outro resultado senão um
desfile para calar toda a crítica e fazer novamente ecoar o grito de campeã.
Como
resultado, uma impecável e belíssima apresentação, bem ao estilo rico e
majestoso da escola nilopolitana e do sempre genial Neguinho da Beija-Flor,
ecoando seu grito inconfundível: “O mar que trouxe a dor riqueza aflora/ Tem
uma família agora/ Quem beija essa flor não chora...”.
Enquanto o
Griô conta sua história, a Beija-Flor vai fazendo a sua. E com genialidade e
perfeição. Parabéns!
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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