terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O ILUMINISMO

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

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Não desejando ser asfixiada até morrer penosamente, a classe média burguesa que surgia tratou de fazer com que a casca rompesse.
                                              
Leo Huberman

O ser humano vale o quanto sabe pensar para poder agir. Sempre foi e sempre será assim em todas as fases e ou idades da História da Humanidade. Assim sendo, podemos citar, por exemplo, que foram os iluministas os verdadeiros ideólogos da burguesia. De modo que assim como um camponês, em noite escura, deve ter uma lamparina ou lanterna para poder ver as coisas em sua volta, por analogia a esse feito, os iluministas, pensadores do século XVIII, acreditavam na tese de que o homem para ver as coisas tais como elas são, deve possuir lanterna poderosa. Que lanterna ou lamparina seria essa então? Sem sombra de duvidas podemos afirma que é a razão. É por esse motivo que aprendemos a chamar o século XVIII como sendo o século das luzes, daí o termo iluminismo. Isso é um fato, pois, somente a razão poderá auxiliar direta e indiretamente o homem no caminho que busca o conhecimento cientifico. Os filósofos e seguidores de tal orientação são conhecidos como iluministas e a maneira de pensar de iluminismo. A partir do momento em que o homem passou a valorizar a lua natural ou razão, surgiu o movimento iluminista. Ideologicamente falando, a razão iluminista que prometia o que chamamos de conhecimento e domínio da natureza através do meio e do desenvolvimento da ciência, via a emancipação política. De modo que a pesquisadora Olgária Matos (Matos, 1995, p.33), na obra A Escola de Frankfurt, reconhece plenamente a metáfora da luz quando cita:

“Aufklãrung – clareamento, clarificação, iluminação – enlightment, ilustración, iluminismo e esclarecimento remetem a um mundo inteiramente “iluminado”, isto é, visível. Nada deve permanecer velado ou coberto. O conhecimento da natureza emancipa-se do mito, e o conhecimento da sociedade deve, também, fundar-se na razão. A razão esclarecida é uma  razão emancipadora”.

Ideologicamente falando, pensar assim foi o único meio que os pensamentos iluministas tiveram para dar resposta aos problemas concretos da sociedade do seu tempo. Surgia a ideologia burguesa, a própria burguesia em si falando ao pé da letra. Foi neste tempo que surgiu o Estado intervindo em quase tudo, a começar pela intervenção na economia, ex-vi o que exemplifica por analogia Léo Huberman (1986, p. 148-149), que afirma que as idéias dos pensadores iluministas contribuíram ou fundamentaram a realização da própria Revolução Francesa. Ninguém tem dúvida de que foi a burguesia e ou classe media que idealizou e provocou Revolução Francesa, advindo daí a derrubada dos opressores, a elite reinante daqueles tempos, pois, caso contrário seria a mesma burguesia esmagada por eles. Isso por analogia é parecido com o pinto gerado dentro do ovo e quando cresce, aumenta de volume, vem o rompimento de sua casca para poder nascer, se assim não acontecer morrerá com todo certeza. Também não é diferente dos demais seres racionais e ou irracionais, inclusive com o ser “humano”, quando chega o tempo de nascer, ou nascer ou morre mãe e ou o filho, ou ambos morrerão. É aí que acontece o primeiro grande rompimento da convivência humana ainda na vida uterina. E a vida social do ser humano vai ser sempre de convergência no sentido de aderir a algo e ou a alguém e ou de divergência no sentido de romper com algo ou alguém. Sempre foi assim e vai continuar sendo assim. O homem vive de divergir e convergir, segundo seus interesses pessoais, profissionais, religiosos e políticos em todos os sentidos. O certo é que a Revolução Francesa acabou com os privilégios da classe dominante até então e inspirou o mundo europeu e americano, inclusivo o Brasil a pensar assim. Romper com a elite dominante de nossos destinos. Foi o que aconteceu com o surgimento da Inconfidência Mineira, em 1789 no mesmo ano da Revolução Francesa, através dos ideais de Tiradentes e seus companheiros, e posteriormente dos movimentos revolucionários do tipo: Conjuração Baiana, em 1798, da Revolução Pernambucana de 1817, além da Confederação do Equador em 1824, valendo destacar a personalidade de Frei Caneca, que pagou com a própria e não renunciou seus ideais republicanos e a Revolução Praieira em 1848, dentre outros movimentos de pequeno porte surgidos no território nacional brasileiro.
O povo sonhador respirava iluminismo, tendo em vista que criticava os resquícios feudais, tendo em vista a permanência da servidão. Também criticava o regime absolutista e o mercantilismo, tendo em vista que limitavam o direito à propriedade privada, além do mais, os iluministas criticavam à influência quase que suprema da Igreja Católica Apostólica Romana sobre todos os seguimentos da sociedade da época, tendo predominância nos campos da educação e cultura, somente o clero sabia de tudo e ponto final. E por fim, criticava ainda à desigualdade social no tocante aos direitos e deveres entre os indivíduos.

Dentre os principais representantes do movimento iluminista surgido na França, podemos mencionar: o Barão de Montesquieu (1689-1755), que escreveu “O espírito das leis”, sua obra principal, tendo em vista que é nela que ele procurou estudar diversas formas de governo: despotismo, monarquia e república, onde deu ênfase à monarquia parlamentar inglesa. E finaliza defendendo que o Estado deve separar as funções gestoras em três poderes: Executivo, legislativo e judiciário. Diante de seus estudos, facilitou assim o surgimento de inúmeros Estados após a Revolução Francesa; Voltarei (1694-1778), autor das Cartas Inglesas e Cândido, suas principais obras, além de ser considerado o mais importante dentre todos os iluministas franceses. Criticou os privilégios da nobreza e não poupou a Igreja Romana. Defensor da liberdade individual, bem como a participação da burguesia esclarecida no governo, visando garantir a paz e a liberdade. Foram os seus ideais que influenciaram os teóricos da Revolução Francesa e vários governantes europeus do seu tempo, vem daí o que chamamos de déspotas esclarecidos, uma vez que são seguidores das suas propostas de reforma social e estatal; Rousseau (1712-1778), autor das obras “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens”, “Emílio” e o “ Contrato Social”, obras essas que contém suas idéias fundamentais. Ele foi o maior dentre os demais radicais de seu tempo. Preferiu criticar a burguesia e ficar ao lado das  classes populares. É defensor árduo da idéia de que a sociedade deveria ter como base a justiça, a igualdade e soberania do povo. Nasce daí a teoria e/ou idéia da “vontade geral”, o que vai brilhantemente inspirar os lideres da Revolução Francesa e do próprio Movimento Socialista, surgido no século XIX. No território inglês, John Locke foi o principal representante do iluminismo e Kant, na Prússia.

Podemos então dentre as conseqüências do iluminismo, mencionar as mudanças nas questões de ordem jurídica no que se refere aos direitos e deveres de cada cidadão; o surgimento do fenômeno despotismo esclarecido em diversos países da Europa; a própria criação basilar em termos de ideologias para eclodir a Revolução Francesa, além do aparecimento dos movimentos de independência das colônias americanas; influencia a cultura, a ciência e a educação da sociedade do ocidente nos séculos XIX e XX; e a limitação do poder da Igreja Romana, tendo em vista a separação oficial entre o Estado e a Igreja, advindo daí o Estado laico, sem religião oficial.
               
Na realidade brasileira, o iluminismo está presente no nosso dia a dia, como por exemplo, na Constituição Federal de 1988, na Lei nº 9394/96 e nos Parâmetros Curriculares Nacionais. A base fundamental de tais documentos é a ideologia iluminista da Revolução Francesa: Igualdade, Liberdade e Fraternidade, desde que cada cidadão brasileiro entenda realmente em viver dentro dos princípios democráticos. A cidadania  é a palavra número um para que exista realmente “Ordem e Progresso”, lema de nossa nacionalidade e escrito em nossa Bandeira Nacional. Invocar a definição de cidadania, significa dizer que todo o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido. Cidadania significa autonomia nos termos mencionados na legislação do ensino brasileiro, em nossa LDB-LEI DE DIRETRIZES E BASES  e nos PCNs-PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, ou seja cada individuo deve caminhar ou guiar dentro de seu próprio conhecimento e ou entendimento, comer por suas próprias mãos e ou andar sem necessidade de ajuda de quem quer que deseja. E tudo isso vem dos fundamentos epistemológicos do iluminismo. Ideologia é como capim, morre aqui e nasce acolá e jamais leva fim.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5113975

Enviado pelo escritor Francisco de Paula Melo Aguiar

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