Por Rangel Alves
da Costa*
Diante do
olhar, o grão apenas existe sem importância, apenas se faz presença sem causar
interesse. Enquanto o todo se avoluma e faz instigar o pensamento pela sua
inegável presença.
O grão é o
início, a germinação, a semente, aquilo que fecunda uma imensidão. O quase nada
silenciosamente irrompe em busca do todo.
O todo é o
tudo, a completude, o conjunto. No todo estão as partes, desde o primeiro
brotar no minúsculo grão.
O grão é o
pequenino, o minúsculo, o mínimo. De quase inexistência, imperceptível, talvez
por isso mesmo exista sem que seja visto como algo a ser transformado.
O todo é a
totalidade, a integralidade, a conjugação. Difere-se do nada, da parte, do
algum. Eis que aí reside o grão.
Tem-se o grão
como um nada diante do todo. O grão é insignificante perante o geral. O grão em
nada interfere ante o conjunto. Mas tudo é formado pelo minúsculo, pelo
pequenino, pelo grão.
A rocha imensa
é formada pelo acúmulo de grãos, de poeira imperceptível, de minúsculos
elementos. E sobrevive até voltar ao pó e esvoaçar pelo vento.
Ninguém pensa
no grão senão como a semente que some nas entranhas da terra, como o minúsculo
elemento que de repente já não existe mais. Enquanto o todo é avistado na
planta imensa, não importando que tenha surgido do grão.
Assim acontece
porque as pessoas valorizam as coisas, os seres e os elementos, muito mais pela
aparência, tamanho e consistência que pela sua real importância.
Ora, o que uma
pedreira ou mesmo uma pedra grande senão a junção de grãos de areia,
solidificados num só elemento?
Adiante uma
rocha imensa, mais atrás a ventania trazendo invisíveis grãos de areia. O pó,
em minúsculos grãos, quando lançado num espaço vai se solidificando e formando
a pedra. Mas é a rocha que todo mundo avista e dá importância.
Nem todos
concebem dessa maneira, mas florestas vão surgindo através de minúsculos grãos.
Os pássaros se encarregam de trazer sementes de lugares distantes e vão
semeando por onde passam com seus rasantes.
As flores tão
belas e perfumadas, num jardim primaveril radiante, mas que escondem segredos
em tanta beleza. Tudo ali pode ter nascido com a ação do vento, do bico dos
pássaros e insetos que cuidam de espalhar os grãos de pólen por outros canteiros.
Mas ninguém vê
ou sente a importância do grão, do minúsculo, do invisível, daquilo que
silenciosa e ocultamente age para que tudo aconteça. Ademais, os elementos da
natureza são formados por micro-organismos.
Avista-se a
árvore, a planta, a pedra, a rocha, mas não a sua substância nem aquilo que lhe
deu formação. E assim porque se rejeita o supostamente ínfimo ou pequenino
quando se está na presença do grandioso, do conteúdo ou da forma.
Assim, diante
do todo o grão é tido como um nada. Perante o completo ninguém se volta para as
minúsculas partes. Ante o tudo ninguém se preocupa com o que praticamente não
se avista.
Mas de grande
utilidade seria se todos entendessem a importância dos seres na vida, suas
formas específicas de ser e de existir. Não importa que seja o todo ou o grão,
mas a certeza do contributo de cada um.
O ser humano
em si, esse todo completo e tudo, surgiu do sopro no grão arenoso, no barro da
terra. E a ela voltará como o mesmo grão, ainda mais frágil e supérfluo, ainda
que vaidosamente se imagine de ferro.
Poeta e
cronista
http://blograngel-sertao.blogspot.com.br/2014/12/o-grao-e-o-todo.html
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