segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O GRÃO E O TODO

Por Rangel Alves da Costa*

Diante do olhar, o grão apenas existe sem importância, apenas se faz presença sem causar interesse. Enquanto o todo se avoluma e faz instigar o pensamento pela sua inegável presença.

O grão é o início, a germinação, a semente, aquilo que fecunda uma imensidão. O quase nada silenciosamente irrompe em busca do todo.

O todo é o tudo, a completude, o conjunto. No todo estão as partes, desde o primeiro brotar no minúsculo grão.

O grão é o pequenino, o minúsculo, o mínimo. De quase inexistência, imperceptível, talvez por isso mesmo exista sem que seja visto como algo a ser transformado.

O todo é a totalidade, a integralidade, a conjugação. Difere-se do nada, da parte, do algum. Eis que aí reside o grão.

Tem-se o grão como um nada diante do todo. O grão é insignificante perante o geral. O grão em nada interfere ante o conjunto. Mas tudo é formado pelo minúsculo, pelo pequenino, pelo grão.

A rocha imensa é formada pelo acúmulo de grãos, de poeira imperceptível, de minúsculos elementos. E sobrevive até voltar ao pó e esvoaçar pelo vento.

Ninguém pensa no grão senão como a semente que some nas entranhas da terra, como o minúsculo elemento que de repente já não existe mais. Enquanto o todo é avistado na planta imensa, não importando que tenha surgido do grão.


Assim acontece porque as pessoas valorizam as coisas, os seres e os elementos, muito mais pela aparência, tamanho e consistência que pela sua real importância.

Ora, o que uma pedreira ou mesmo uma pedra grande senão a junção de grãos de areia, solidificados num só elemento?

Adiante uma rocha imensa, mais atrás a ventania trazendo invisíveis grãos de areia. O pó, em minúsculos grãos, quando lançado num espaço vai se solidificando e formando a pedra. Mas é a rocha que todo mundo avista e dá importância.

Nem todos concebem dessa maneira, mas florestas vão surgindo através de minúsculos grãos. Os pássaros se encarregam de trazer sementes de lugares distantes e vão semeando por onde passam com seus rasantes.

As flores tão belas e perfumadas, num jardim primaveril radiante, mas que escondem segredos em tanta beleza. Tudo ali pode ter nascido com a ação do vento, do bico dos pássaros e insetos que cuidam de espalhar os grãos de pólen por outros canteiros.

Mas ninguém vê ou sente a importância do grão, do minúsculo, do invisível, daquilo que silenciosa e ocultamente age para que tudo aconteça. Ademais, os elementos da natureza são formados por micro-organismos.

Avista-se a árvore, a planta, a pedra, a rocha, mas não a sua substância nem aquilo que lhe deu formação. E assim porque se rejeita o supostamente ínfimo ou pequenino quando se está na presença do grandioso, do conteúdo ou da forma.

Assim, diante do todo o grão é tido como um nada. Perante o completo ninguém se volta para as minúsculas partes. Ante o tudo ninguém se preocupa com o que praticamente não se avista.

Mas de grande utilidade seria se todos entendessem a importância dos seres na vida, suas formas específicas de ser e de existir. Não importa que seja o todo ou o grão, mas a certeza do contributo de cada um.

O ser humano em si, esse todo completo e tudo, surgiu do sopro no grão arenoso, no barro da terra. E a ela voltará como o mesmo grão, ainda mais frágil e supérfluo, ainda que vaidosamente se imagine de ferro.

Poeta e cronista

http://blograngel-sertao.blogspot.com.br/2014/12/o-grao-e-o-todo.html

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