sábado, 13 de dezembro de 2014

EDUCAÇÃO DA COLONIA A REPÚBLICA

Por Francisco de Paula Melo Aguiar

A organicidade da educação jesuítica foi consagrada quando Pombal os expulsou levando o ensino brasileiro ao caos [...].
                                          
Arnaldo Niskier

Pesquisadores e demais teóricos informam que a educação brasileira no período colonial é inegavelmente indissociável da Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola¹, tendo em vista as negociações de Dom João III², denominado de “o piedoso”, com a referida congregação missionária católica apostólica romana. É o marco fundamental para justificar tal pensamento. Assim sendo, tem inicio a educação no Brasil no período colonial do Império Português entre nós. Vem daí a origem da História da Educação Brasileira, justamente das relações de interesses multiplos entre o Estado e Educação, através dos padres jesuítas chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega³ em 1549.
         
E assim o tempo passou em termos educacionais em brancas nuvens, não existia escola pública para o povo brasileiro neste período, tudo vivia atrelado as vontades das ordens religiosas em termos de educação principalmente. A escravidão indigena e da raça negra era uma chaga nacional e internacional, o Brasil era colonia de Portugal e tinha um dos maiores comércios negreiros do mundo durante os séculos XVI, XVII, XVIII indo até a primeira metade do século XIX, em pleno segundo Império Brasileiro, pelos idos anos de 1850..
                    
É importante lembrar de que em 1759, aconteceu o que a história registra como reformas pombalinas, de objetivos mercantilistas e iluministas do pensamento europeu, em homenagem a figura emblemática de Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal4, que teve como objetivo principal expulsar os jesuítas de Portugal e suas Colônias, inclusive do Brasil, nascendo a partir daí a invenção ou instituição do ensino laico5 e público e tinha como base fundamental em termos de conteúdos as Cartas Régias6, emanadas do soberano português. Neste período o único sistema educacional existente no Brasil, que era o patrocinado pela Companhia de Jesus, foi totalmente destruido e ficamos órfãos em termos de escola pública ou privada porque não existia outro sistema de ensino em nosso território, conforme nos informa Niskier (2001, p. 34) ao afirmar que “a organicidade da educação jesuítica foi consagrada quando Pombal os expulsou levando o ensino brasileiro ao caos, através de suas famosas “aulas régias”, a despeito da existência de escolas fundadas por outras ordens religiosas, como os Beneditinos, os franciscanos e os Carmelitas”. Isso é fato e contra fato não se tem argumento. Tudo era censurado em termos educacionais pela Mesa Censória, criada em 1767, com o objetivo preliminar de examinar os livros e papéis introduzidos e a introduzir em Portugal e suas colônias nos mínimos detalhes, inclusive pelo gerenciamento da administração das escolas e dos estudos em geral de modo que em 1772, Portugal instituiu o “subsídio literário” visando manter o ensino primário e secundário, uma vez que “com os recursos deste imposto, chamado subsídio literário, além do pagamento dos ordenados aos professores, para o qual ele foi instituído, poder-se-iam ainda obter as seguintes aplicações: 1) compra de livros para a constituição da biblioteca pública, subordinada à Real Mesa Censória; 2) organização de um museu de variedades; 3) construção de um gabinete de física experimental; 4) ampliação dos estabelecimentos e incentivos aos professores, dentre outras  aplicações”, conforme Carvalho (1978, p. 128).
                  
É interessante mencionar Zotti (2004, p.32) quando ele nos informa que “o Brasil não é contemplado com as novas propostas que objetivavam a modernização do ensino pela introdução da filosofia moderna e das ciências da natureza, com a finalidade de acompanhar os progressos do século. Restam no Brasil, na educação, as aulas régias para a formação mínima dos que iriam ser educados na Europa”. Foram noites escuras em termos educacionais na Terra de Pindorama. Entenda-se como ensino laico, o tipo de educação elementar que se é caracterizada como sendo um ensino desvinculado de qualquer credo religioso. Tudo por influência do iluminismo europeu, cujos pensadores atacavam sistematicamente as ordens religiosas, tendo em vista a intromissão da Igreja nos assuntos relacionados a política e economia. Tais pensadores iluministas também denunciavam a injustiça, a dominação religiosa, o estado absolutista e os privilégios em termos de vícios da sociedade, levando-se em consideração de que afastava assim o homem ao direito de ser feliz, seu principal “direito natural”, pois, uma sociedade que é incapaz de se organizar e resolver seus próprios problemas, deve desaparecer porque não tem argumentos lógicos para justificar sua própria existência. É uma sociedade incapaz, portanto, deve desaparecer. Era o pensamento de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, dentre outros igualmente importantes que inspiraram tal travessia do religioso para o laicismo da cultura e da educação humana patrocinada pelo Estado.
                  
É o ensino sem religião porque o Estado laico não tem religião oficial, haja vista a separação oficial entre o Estado e a Igreja, como é atualmente no Brasil, nos termos da Constituição de 1988 e das anteriores desde a proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Através das Cartas Régias, uma espécie de PCNs – Planos Curriculares Nacionais, da atualidade, foi implantado desde 1772 o ensino público brasileiro, laico, porém, manteve o ensino religioso em suas escolas no território nacional. As mudanças provocaram enormes rebuliços até se chegar à pedagogia que conhecemos nos dias atuais tendo como fundamento a Carta Magna de 1988 e a Lei nº 9394/96 e legislação complementar.

¹ Inácio de Loyola ou Loiola, nascido Íñigo López (Azpeitia/País Basco/Espanha, 31 de maio de 1491Roma/Itália, 31 de julho de 1556) foi o fundador da Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como os jesuítas, uma ordem religiosa católica romana, que teve grande importância na Reforma Católica. Atualmente a Companhia de Jesus é a maior ordem religiosa católica no mundo.

² Dom João III de Portugal (Lisboa, 6 de Junho de 1502Lisboa, 11 de Junho de 1557) foi o décimo quinto Rei de Portugal, cognominado O Piedoso ou O Pio pela sua devoção religiosa. Filho do rei Manuel I de Portugal, sucedeu-lhe em 1521, aos 19 anos. Herdou um império vastíssimo e disperso, nas ilhas atlânticas, costas ocidental e oriental de África, Índia, Malásia, Ilhas do Pacífico, China e Brasil. Continuou a política centralizadora do seu pai.

³ Manuel da Nóbrega (Sanfins do Douro, 18 de outubro de 1517Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1570) foi um sacerdote jesuíta português, chefe da primeira missão jesuítica à América.1 As cartas enviadas a seus superiores são documentos históricos sobre o Brasil colônia e a ação jesuítica no século XVI.

4 Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal (Lisboa, 13 de Maio de 1699Pombal, 8 de Maio de 17821 ) foi um nobre, diplomata e estadista português. Foi secretário de Estado do Reino durante o reinado de D. José I (1750-1777), sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e carismáticas da História Portuguesa de todos os tempos.
5 O termo ensino laico quer dizer que é um ensino não religioso, público e oferecido ao povo pelo Estado secular ou estado laico é um conceito do secularismo onde o poder do Estado é oficialmente neutro em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião.

Referências

ARANHA, M.L.A. História da Educação. 2ª Ed., São Paulo: Moderna, 1996
BAUSBAUM, Leônico. História sincera da República: das origens até 1889. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1957.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos Permanentes: tratamento documental. 2 ed. ver. ampl.. Rio de Janeiro: Editora Da FGV, 2004.
CARVALHO, Laerte Ramos de. As Reformas Pombalinas da Instrução Pública. São Paulo: Saraiva: Ed. Universidade de São Paulo, 1978.
MANACORDA, M.A. História da Educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo:Cortez, 2001.
MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal - Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
NISKIER, Arnaldo. Educação Brasileira: 500 anos de História. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2001.
RIBEIRO, Maria Luíza Santos. História da Educação Brasileira: a organização escolar. 18 ed. ver. ampl.. Campinas: Autores Associados, 2000.
ROMANELI, O.O. História da Educação no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1991.
XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado. História da Educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD, 1994.
ZOTTI, Solange Aparecida. Sociedade, Educação e Currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas: Autores Associados, 2004.


Enviado pelo autor: Francisco de Paula Melo Aguiar

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