terça-feira, 18 de novembro de 2014

MANHÃ DE CHUVA

Por Rangel Alves da Costa*

Dessa vez a meteorologia não falhou. Prometeu que choveria a partir desta segunda-feira em Aracaju e diversas regiões sergipanas e a chuvarada veio mesmo. Mas são chuvas inconstantes, ora mais fortes outras vezes apenas chuviscos.

Olhando mais adiante, na direção da barra, logo se percebe o tempo fechado, pesado, tomado de nuvens prenhes, o que sinaliza a continuidade da molhação. Como dizem no interior, a tela está toda pintada de chuva e só falta virar o quadro para a água se derramar de vez, sem medo de cair.

Ao menos continua assim neste começo de terça-feira. Levantei após as duas da madrugada e encontrei torneiras abertas e nuvens se derramando. Chuvarada de vai e vem, de chegar mais forte e depois recuar, porém constante.  

Esperava-se uma chuva mais forte e mais intensa, daquelas que fecham portas e tornam as ruas desertas. Também daquelas que não dá vontade nenhuma de levantar e não deixa ninguém com vontade de enfrentar seu açoite.

Não é, pois, uma chuva de trovoada, com trovões e relâmpagos, mas de vez em quando formando poças e correndo pelo asfalto. Certamente será mais um daqueles dias de guarda-chuvas, pessoas apressadas pelas ruas, panos encobrindo cabeças por medo do resfriamento.


De qualquer forma, qualquer chuva que caia chega sempre como alento e esperança. Basta chover um pouquinho e tudo parece se transformar, com ruas sendo lavadas, o clima modificado e outras cores surgindo na natureza. No mundo de asfalto e pedra até que não faz muita diferença, mas diferentemente ocorre perante a terra e o fundo do tanque.

E desde ontem que tenho notícias de águas caindo também pela região sergipana, tão necessitada de qualquer lembrança de nuvem. Não só para alimentar os tanques, açudes e barragens, como para molhar a terra e prepará-la para qualquer plantio.

Segundo a meteorologia, as precipitações ocorrerão durante a semana inteira. Não poderia haver notícia melhor, mais alentadora, principalmente para os sertanejos. O sol estava um exagero de vaidade, querendo prevalecer forte demais quase o dia inteiro. Precisava se esconder um tiquinho para descansar.

Tudo estava demasiadamente azul, acinzentado, seco. Ou, por vezes, exageradamente iluminado até o cair da noite. Quase não havia aquele lusco-fusco, aquele singelo ritual de passagem aonde a tarde vai chamando a noite por meio de cores vermelho-amareladas no horizonte. Ocaso, poente, fim de tarde, entardecer, um verdadeiro ritual de despedida e chegada.

Não que eu precise de chuva para ter molhada a horta do meu quintal.  Só tenho cimento e ferro. Mas o calor está insuportável, tudo abafado demais, num desassossego de doer na alma. Basta um passo e o suor surge na face, toma a roupa, causa uma inquietação danada.

Penso também lá nas terras de onde vim, penso no meu querido sertão. Lá sim, precisa de pingo d’água, de qualquer gota que diminua o sofrimento da estiagem que se mantém como constante ameaça e que tanto maltrata meu conterrâneo.

Mas quando chove aqui me alimento de tudo. Com o tempo fechado, escurecido, as águas caindo e meu âmago bebendo de cada gota. Saudades, relembranças, tristezas, alegrias, reencontros, tudo vem junto com a chuva. Mesmo a chuva fininha me traz um respingo de saudade.

Por aqui, no centro da capital sergipana, a manhã chegou, mas tudo ainda continua adormecido, com ar sonolento. O tempo fechado, molhado, espalha o silêncio e a solidão. E sei que muitos olhos não sabem se avistam vidraças embaçadas ou as próprias lágrimas.

Poeta e cronista
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