Por Clerisvaldo B.
Chagas, 17 de setembro de 2014 - Crônica Nº
1.262
Santana do
Ipanema toda jogava ximbra. Moda interessante que dominava as ruas sem
calçamento, fazia a meninada divertir-se a valer. Praticava-se ainda o pinhão e
a bola nas mesmas ruas da cidade.
O bom
pinhão era feito de goiabeira pelos artesãos da periferia mesmo. Depois começou
a aparecer belos pinhões torneados a que chamávamos “pinhão de praça”. Eram
vendidos na “Casa Imperial” de Seu Piduca, no Comércio. Mais tarde essa mesma
casa implantava a moda de belos ioiôs coloridos. Vendia ximbras também, a
princípio, lisas em variadas cores; depois coloridas e cada vez mais
aperfeiçoadas e atraentes, incentivando jogo e coleção. Nunca chamávamos a ximbra
de bola de gude. Seu Marinho Rodrigues, pai do primeiro médico santanense
Clodolfo Rodrigues, era um grande vendedor de ximbras em seu armazém de secos e
molhados no antigo “prédio do meio da rua”. Ficávamos admirados diante do
grande frasco transparente cheio de bolinhas multicores, de vidro. Seu Marinho,
homem muito alto e forte, metia a manzorra na boca do recipiente e com
satisfação imensa nos passava a mercadoria tão cobiçada.
Em toda a
extensão da Rua Antônio Tavares (antes Cleto Campelo) a sair no final do Bairro
São Pedro, inúmeros grupos de meninos eram encontrados jogando “Papão”,
brincadeira de ximbra que nos fazia cavar três pequenos buracos arredondados
necessários ao mister. Parecia um imenso festival. Nossos odiados predadores
era o senhor Aloísio Firmo (juiz de menor) acompanhado do soldado Genésio.
Essas odientas criaturas faziam os meninos correrem para casa com o perigo
iminente de tomadas de ximbras. Às vezes Aloísio aparecia montado numa burra e,
o soldado, que morava próximo a minha casa, o acompanhava a pé. Era a dupla
terror da criançada.
Quando medito
sobre os péssimos governos que tivemos em Alagoas e em nossa querida Santana do
Ipanema, concluo que apenas trocamos a idade. Deparamo-nos com outros Aloísios
e outros Genésios, aterrorizando nossas purezas, matando nossa felicidade e
roubando as nossas ximbras.
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