Por Rangel Alves
da Costa*
Quem não ama a
solidão, também não ama a liberdade. A frase é de Arthur Schopenhauer
(1788-1860). Com isto quis proclamar o filósofo que a solidão não pode ser
vista apenas como um mal que atormenta o ser, eis que somente através dela o
homem é livre para expressar todo o seu sentimento, para proclamar-se sem
disfarces e demonstrar toda a sua força ou fragilidade. Eis o contexto em que
está inserida aquela frase:
“Cada um só
pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho.
Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se
está só é que se está livre. A coerção é a companheira inseparável de toda a
sociedade, que ainda exige sacrifícios tão mais difíceis quanto mais
significativa for a própria individualidade. Dessa forma, cada um fugirá,
suportará ou amará a solidão na proporção exata do valor da sua personalidade.
Pois, na solidão, o indivíduo mesquinho sente toda a sua mesquinhez, o grande
espírito, toda a sua grandeza; numa palavra: cada um sente o que é.”
As palavras
acima são de clareza singular. Afirma o filósofo que o homem completo, na sua
inteireza do ser, exsurge somente quando está sozinho. Eis que na solidão o
indivíduo revela-se completo, liberto, sem qualquer disfarce. Sozinho não há
imposição alguma da sociedade, não há força social que manipule o ser, e por
isso mesmo o homem se mostra apenas o que verdadeiramente é. Ademais, a
liberdade trazida pela solidão, colocando o homem sem amarras, proporciona a
este mostrar sua fraqueza, se fraco for; impor sua força, se forte for. Quer
dizer, somente a solidão para proporcionar ao homem a sua verdadeira liberdade,
pois momento único para se mostrar sem disfarces.
Daí a grande
lição da solidão: Sozinho, o homem não é mais nem menos do que verdadeiramente
é. Até mesmo fingir ser aquilo que não é, acaba comprovando o ser dissimulado
que o homem é. Daí que a solidão é instante único para espelhar sem retoques,
para mostrar a face sem qualquer máscara, para dizer que o homem sozinho assim
se comporta porque desse modo ele realmente é. Daí que chora porque não finge
sentimentos; enfurece porque propício ao enraivecimento; sofre porque propenso
à angústia, à dor, ao entristecimento.
Quando
Schopenhauer afirma que solidão é liberdade, certamente o faz para mostrar a
nudez que com ela é revelada. E nudez no sentido de verdade, de não fingimento
de sua realidade. Assim, a solidão se apresenta como momento único de liberdade
do ser. Como afirmado, dessa liberdade o agir sem a vigilância de outrem, o
pensar sem se sentir observado, o fazer o que quiser sem temer repressão de
quem quer que seja. Ora, está sozinho, liberto, encontrando apenas consigo
mesmo. E o indescritível instante para fazer o que seria impensável diante de
outros.
Daí que não é
tão ruim assim fechar a porta atrás de si e aproveitar ao máximo a solidão que
silenciosamente se apresenta. Talvez os outros, aqueles que apenas avistaram a
pessoa se recolhendo, fiquem falando ou imaginando a tristeza que deva estar
sendo suportado naquele quarto fechado, naquela insuportável solidão. Não
imaginam, contudo, que aquele recolhimento representa um caminho de liberdade.
Jamais supõem que a pessoa ali trancada, ao invés de estar inventando coisas
para dar cabo à vida, está feliz e reencontrando consigo mesma.
E não é à toa
que a solidão serve como fundamento ao conhecimento do ser pelo ser. A
meditação exige solidão, a reflexão filosófica implica em solidão, o percurso
mental em busca de conhecimento pressupõe uma boa dose de solidão. E assim
porque somente na solidão o homem é capaz de elevar o pensamento e encontrar
respostas para suas mais inquietantes indagações. Do mesmo modo no homem comum,
cuja solidão o faz tão verdadeiro como nem ele mesmo se imagina. O fato de
estar sozinho o faz liberto para ser outro, mas acaba sendo apenas sua própria
feição.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
.jpg)

Nenhum comentário:
Postar um comentário