Por Rangel Alves
da Costa*
O tempo não
pede passagem para seguir nem espera que resolvam acompanhá-lo, apenas avança
deixando para trás suas marcas. E quando situado no momento presente ou noutro
momento futuro, eis que suas marcas enfim se revelarão como o sujeito jamais
imaginou ter acontecido daquele jeito, com aquela feição.
O novo é tão
diferente porque fruto de outro tempo e outra mentalidade. Contudo, o que é
moda agora também era normalidade no passado, com a feição própria daquele
momento. No passado, as ruas centrais de Aracaju eram tomadas por transeuntes
com seus ternos de linho branco, chapéus panamás, todos numa elegância
europeia. Mas hoje tudo diferente, principalmente nas vestimentas.
A cidade, com
seu comércio, pessoas, moradias e edifícios, é um bom exemplo para sentir como
o tempo vai transformando, modificando tudo. Tal percepção, contudo, pouca
valia terá pela observação da cidade apenas no seu aspecto presente, na sua
feição de momento. As mudanças somente serão sentidas quando lançado um olhar
sobre o passado, procurando avistar como a cidade era e como se apresenta.

Não é difícil
sentir o impacto entre o passado e o presente. Não só na arquitetura e na
feição que se dá às novas construções, ou mesmo às antigas, mas também nos
hábitos e costumes da população, nas suas usanças e relacionamentos. Basta
olhar uma fotografia da Aracaju antiga ou mesmo de um passado recente, para
sentir imagens contrastantes com o presente. No intuito da modernização, muitas
empresas esconderam atrás de fachadas extravagantes prédios históricos de
inigualável beleza.
Os velhos
retratos em preto e branco não só guardam a memória da cidade como reproduzem
fielmente suas feições, características e aspectos históricos e geográficos.
Aracaju era marcada por construções imponentes, de arquitetura primorosa,
e não só nos grandes casarões como em edifícios públicos. A engenharia da época
construía realmente para o futuro, porém sem imaginar quanto ingrato seria o
tempo com a história da cidade.
O sólido
parece haver dado lugar ao descartável. As atuais avenidas Rio Branco e Barão
de Maruim eram os locais preferidos pelas elites para fixar moradias. E ali
faziam erguer casarões imponentes, com mármores e pedras importadas, contornos
do mais fino acabamento. Da atual Rua José do Prado Franco ao Palácio, as vias
eram ladeadas por edificações igualmente suntuosas. A Secretaria de Saúde ou Palácio
Serigy é um bom exemplo desse esmero arquitetônico. Mas nada igual ao prédio
onde hoje funciona a Associação Comercial de Sergipe.
Com a passagem
dos anos, o crescimento da cidade e a desintegração dos fortes núcleos
familiares, tais edificações, por força dos esmeros na engenharia, permaneceram
resistindo às mudanças, mas sem o zelo de outros tempos. Daí que muitos
casarões passaram a resistir apenas pela solidez do passado. E muitos, com
algumas reformas para preservação, ainda podem ser avistados como páginas vivas
da Aracaju antiga. Enquanto outros simplesmente foram deteriorando ou
reformados para ganhar características totalmente diferentes.
Mas não é
fácil preservar a história arquitetônica de uma cidade. Muitas vezes, os
edifícios e casarões antigos são fadados à destruição ou pelo desinteresse de
seus proprietários em conservá-los com alto custo ou pelos empecilhos
burocráticos impostos pelos órgãos que cuidam do patrimônio histórico e
arquitetônico. Por consequência, é mais fácil uma fachada desabar a ter sua
restauração autorizada. E prédios já fragilizados demais nem sempre esperam o
aval para o seu devido reparo.
É neste passo
que a cidade vai sendo modificada, perdendo sua feição anterior e adquirindo
formas modernas. Contudo, como já afirmado, muitas vezes apenas de fachada,
pois a construção antiga continua imperceptível, escondida por trás de tapumes
e madeirites. Tal aspecto é observável nas lojas do centro da cidade. Fachadas
modernas em prédios antigos, sobressaindo-se o fato de que basta levantar o
olhar para encontrar, nos andares superiores, os prédios antigos em todas as
suas formas.
Felizmente
ainda é possível encontrar edificações antigas bem restauradas e em plena
funcionalidade, ou mesmo casarões que ainda persistem com a grandiosidade e
beleza de sua arquitetura original. E é a história familiar que permite que
assim aconteça. Como tais casarões foram construídos por famílias tradicionais,
emergidas numa abastada classe de latifundiários, empresários e senhores de
engenho, como residência e demonstração de poder, ainda hoje há uma herança
familiar preocupada em manter viva sua história.

Um exemplo de
funcionalidade útil pode ser avistado no prédio da atual sede da OAB. O que
antes era um casarão da família Rollemberg foi adquirido e preservado nas suas
formas arquitetônicas originais. E continua lá imponente, com inigualável
beleza.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:
Postar um comentário