Por Rangel Alves
da Costa*
Repito: Quem
tem medo de ser biografado não vive fazendo besteiras. Toda essa problemática
envolvendo as biografias - e que já se prolonga desde o ano passado - diz
respeito, única e exclusivamente, ao medo de figurões em ter seus lados ocultos
revelados. Ora, que ajudem a pureza da própria história, produzam mais e façam
menos asneiras.
É uma situação
deveras complicada para quem se dispõe a descrever acerca do percurso de da
vida de um famoso. O próprio conceito de biografia, enquanto a descrição do
percurso da existência e dos feitos de alguém, não comunga com a ideia da
parcialidade. Ou a pessoa é ou não é, ou fez ou não fez, sem restar margem para
revelar apenas o lado bom de cada um.
Talvez o
problema esteja no endeusamento que determinados famosos chamam para si.
Estando acima do bem e do mal, fazendo da fama uma forma de que os holofotes
iluminem apenas o lado que desejem, deixando no esquecimento suas feições menos
louváveis, então tudo fazem para que ninguém se intrometa naquilo que chamam de
intimidade ou privacidade.
Contudo,
esquecem que são as suas intimidades que mais provocam arrepios, revelando
pessoas totalmente diferentes daquelas que aparentam ser. Ademais, impossível
contar a história da vida de alguém apenas pela sua arte, pela sua produção
cultural, pela importância que possui. A feição artística não está separada do
lado humano, e é neste que está o real jeito de ser, sua personalidade, suas
características pessoais.
Um cantor, por
exemplo, não é apenas uma pessoa de palco, de shows e compromissos artísticos.
É um ser humano, e para o bem ou para o mal é alguém que vive seu cotidiano
familiar, de amizades, de vícios e virtudes. E uma biografia escrita a seu
respeito jamais poderia deixar de citar, e até esmiuçar, esse seu lado comum,
enquanto pessoa que faz, que erra e acerta.
Ademais,
biografia não se presta a se transformar numa cronologia de vida, na mera
citação de fatos mais importantes na vida de alguém. A pessoa não vive apenas
somente de realizações, mas também enfrentado problemas e dificuldades, num
cortejo de sorrisos e lágrimas. E porque os seus acertos são devidamente
citados, logicamente que os erros também devem ser conhecidos. Afinal, os erros
fazem parte da história pessoal e jamais podem ser apagados, ainda que
provoquem dolorosas marcas pelo resto da vida.
Parece que não
atentam para o fato de que o mundo das celebridades, a vida de famosos e de
personalidades não pode ser comparável ao mundo dos mártires e santidades. Se
nestes há lados verdadeiramente obscuros e deploráveis, que se imagine em meio
a muitos que alcançaram e se mantêm na fama a custa do inimaginável. E o medo
maior, pois, é que os lamaçais de repente reapareçam putrefatos nas páginas de
um livro.
Muitas vezes
nem precisa de biografia para que o povo saiba dos reversos da vida de muitas
celebridades. Surgirá como normalidade a boemia, o homossexualismo, o uso de
drogas, os desencontros familiares, os amores inconstantes, os vícios, as
derrocadas, os abismos e precipícios. E por que desejam tanto que descrevam
apenas seus lados heróicos, suas grandes realizações, as características
positivas de suas personalidades?
Se é assim que
tanto desejam, e até brigam judicialmente para que desse modo seja, então que
procurem construir uma história digna de jamais ser maculada. Ademais, a mácula
não é criada nem inventada, apenas trazida ao conhecimento de um público que
estava vendo apenas uma feição naquela pessoa. De repente, o conhecimento do
outro modificará o conceito que se costumou.
O que o
biógrafo não pode e não deve é fazer da inventividade e da mentira meios para o
sucesso de sua obra. Tais aspectos são deploráveis até mesmo em revistas e
jornais sensacionalistas. Exigindo em tais casos a devida reparação ao dano
causado. No restante, que os baús sejam abertos e desvendados as flores e os
espinhos.
Poeta e
cronista
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