Por Eridson
João Fernandes Medeiros1
Não foi à toa
que decidimos prestigiar, neste volume da Revista do TRT, o professor,
advogado, político, jornalista, procurador de justiça e juiz, Dr. Francisco
Bruno Pereira. Poucos sabem que ele foi o primeiro magistrado a integrar a
Justiça do Trabalho do Rio Grande do Norte, inicialmente, como órgão
administrativo e depois, já como judiciário, desde que esta passou a fazer
parte do Poder Judiciário Brasileiro, a partir da Constituição Federal de 1946,
pois, como é sabido, a Justiça Trabalhista antes estava aderida à Ordem
Econômica e Social com estrutura básica de órgão meramente administrativo.
Na realidade,
a Justiça do Trabalho propriamente dita já estava prevista nas Constituições de
1934 (art. 122) e de 1937 (art. 139), mas somente foi criada em 1939 (Decreto
1.237), sendo regulamentada em 1940 (Decreto 6.596) e instalada em primeiro de
maio de 1941, com as palavras de Getúlio Vargas2: "A Justiça do Trabalho,
que declaro instalada neste histórico Primeiro de Maio, tem essa missão.
Cumpre-lhe defender de todos os perigos nossa modelar legislação
social-trabalhista, aprimorá-la pela jurisprudência coerente e pela retidão e
firmeza das sentenças". Em 1943, foi promulgada a Consolidação das Leis
Trabalhistas - CLT e, somente com o Decreto-lei n. 9.797, de 09.09.46, foi
estabelecida a estrutura atual da Justiça do Trabalho Brasileira, integrando-a,
como já se disse, entre os órgãos do Poder Judiciário, organizando a carreira
de Juiz do Trabalho, com ingresso mediante concurso público de títulos e
provas, com promoções pelos critérios alternados de antiguidade e merecimento,
e assegurando-lhes, ainda, as garantias inerentes à magistratura. A organização
anteriormente formada pelos Conselhos Regionais e Conselho Nacional do Trabalho
passaram a ser denominados Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal Superior
do Trabalho, respectivamente.
Homenagem
justa, portanto, ao primeiro juiz trabalhista do nosso Estado, que nasceu em
Mossoró, a 06 de outubro de 1886, filho do Sr. Francisco Amâncio Pereira e Sra.
Maria José de Souza Pereira. Segundo pesquisa feita pelo advogado Frank Tavares
Correia3, em cujo texto nos baseamos para esta breve biografia do homenageado,
Francisco Bruno Pereira estudou inicialmente em Mossoró, concluindo seus
estudos em Natal, no Atheneu Norte-Rio-Grandense, ingressando na Faculdade de
Direito do Recife em 1905 e bacharelando-se em 1910.
Em 1912,
ingressou no Ministério Público, exercendo a Promotoria na comarca de Petrolina
até 1914, ano em que encerrou sua breve carreira de Promotor de Justiça,
retornando a Natal, onde dirigiu o jornal "A Imprensa", a convite do
Coronel Francisco Cascudo, proprietário do jornal e político de forte
influência.
Em 1915,
passou a ter seu próprio jornal - o "Correio da Tarde", dividindo o
tempo com o jornalismo, a advocacia e o magistério, este em razão de ter
passado no concurso público para lecionar no Atheneu, onde assumiu a cátedra de
História.
Bruno Pereira
militou também na política, tendo sido eleito Deputado Estadual. No ano de
1924, decidiu ir para o Rio de Janeiro, onde fundou a Revista "Nossa
Terra" para difundir o Rio Grande do Norte e lá permaneceu por sete anos.
Neste período, submeteu-se a concurso público para a carreira de juiz de
direito, sendo aprovado em primeiro lugar dentre os quarenta candidatos, porém,
não assumiu, voltando a Natal sem qualquer justificativa. Anos mais tarde teria
esclarecido a um dos filhos que se não retornasse a Natal seu coração
"estouraria de saudade de sua terra".
Em 1931, já em
Natal, voltou à política, no combate aos interventores federais, sendo esta a
fase mais agitada do jornalista Bruno Pereira. Atuou, em princípio, no jornal
"A Tarde" e depois, em "A Razão", do Partido Popular,
combatendo seus adversários na defesa dos direitos e garantias constitucionais.
Trabalhavam no jornal, ao seu lado, Eloy de Souza, Edgar Barbosa, Gentil
Ferreira e Alberto Roselli. Nos anos de 1933 a 1935, além do artigo
"Símbolo Cruento", escreveu os artigos "Não nos humilhem",
"Sangue de Calabar" e "Ancinidade Viril".
Em 1937,
regressou ao Atheneu, desta vez para lecionar Geografia e, além do magistério,
retornou a agitada vida forense como advogado e Procurador Geral do Estado,
cujos pareceres, segundo as palavras de João Medeiros Filho4, "eram razões
de decidir, digno continuador dessa outra figura inigualável que se chamou
Celso Sales, o mais técnico dos jurisperitos daquela época".
Em 1941,
Francisco Bruno Pereira, sucedendo a Paulo Viveiros, ingressou nesta
Especializada como primeiro juiz do trabalho, "contribuindo para a
compreensão exata, apurada, do Direito Social, com um acervo dos mais sérios
para a interpretação justa do novo sistema legal", na percepção do já
mencionado João Medeiros Filho.
Bruno Pereira,
jurista emérito, homem culto, tendo ocupado a cadeira nº 10 da Academia Norte-Rio-Grandense
de Letras, aposentou-se como magistrado trabalhista em 1956 e faleceu em Natal,
a 21 de abril de 1979, depois de uma existência digna e ousada.
Dentro deste
escorço histórico, pode-se afirmar que a figura do juiz Francisco Bruno Pereira
é conhecida por suas ações judicantes em prol de um Poder Judiciário
Trabalhista forte, ágil, confiante, íntegro e transparente, e é dentro desta
concepção que vangloriamos a sua pessoa, tendo a grata satisfação de
homenageá-lo, homenagem esta que para muitos chega um pouco atrasada, mas, de
qualquer forma, procura-se reparar a memória do povo potiguar.
1 Desembargador
Vice-Presidente do TRT 21ª Região
2 História da Justiça do Trabalho. A arquitetura da Justiça do Trabalho: do projeto à construção. Texto retirado da internet: http://www.mg.trt.gov.br/conheca/historia/arquitetura.htm
3 OAB Notícias - Ano XX, nº 103 -Órgão de Divulgação da Ordem dos Advogados do Brasil - Secc/RN, março/2000.
4 Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, v. 27, n. 15, p. 1-176, nov. 1979/80.
2 História da Justiça do Trabalho. A arquitetura da Justiça do Trabalho: do projeto à construção. Texto retirado da internet: http://www.mg.trt.gov.br/conheca/historia/arquitetura.htm
3 OAB Notícias - Ano XX, nº 103 -Órgão de Divulgação da Ordem dos Advogados do Brasil - Secc/RN, março/2000.
4 Revista da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, v. 27, n. 15, p. 1-176, nov. 1979/80.
Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo
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