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Um dos colégios mais antigos do Rio Grande do Norte completa cem anos de
serviços prestados à cidade de Mossoró, bem como outras regiões encravadas na
Paraíba e Ceará.
Passaram por essa escola notórias autoridades que chegaram a administrar o Estado, bem como a cidade de Mossoró. Padres que atualmente regenciam igrejas da diocese freqüentaram os bancos escolares do Diocesano, que é detentor de glórias ao longo deste século de existência. O jornal O Mossoroense conversou com o padre Sátiro Cavalcanti Dantas, atual diretor, oportunidade em que obteve dele um retrato completo desde o dia em que o CDSL foi criado (2 de março de 1901) até os dias de hoje. O dirigente traça um perfil das dificuldades encontradas por todos que administraram a escola, mas relata também as glórias por ele evidenciadas.
POR
EDUARDO THOMÉ
O MOSSOROENSE - O Colégio Diocesano Santa Luzia completa 100 anos de existência neste mês de março. Quem foi o fundador desta escola?
PADRE SÁTIRO - A obra, o histórico, nós estamos fazendo até uma espécie de anotações para depois enviarmos à imprensa. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques era um bispo de João Pessoa, as igrejas da Paraíba e Rio Grande do Norte pertenciam à província eclesiástica de João Pessoa. Então, ele no fim do ano de 1900 esteve em Mossoró, viajando por Areia Branca, veja como eram as coisas naquele tempo. E nesta cidade reunia as famílias na igreja matriz e estas manifestaram o desejo de se criar o colégio católico em Mossoró e dom Adauto se comprometeu, constituiu uma comissão e esta ficou trabalhando. Veja como foi rápido. Começaram no final do ano de 1900 e já em março de 1901 o colégio estava constituído, sendo inaugurado no dia 2 do mês. Ele mandou do clero da Paraíba o cônego Estevão Dantas, aliás um intelectual, grande orador, para ser o primeiro diretor. Então, a história do colégio começa no dia 2 de março de 1901. Por isso que nós vamos comemorar o primeiro centenário a partir da sexta-feira desta semana, depois do carnaval, se estendendo até o próximo ano, fechando com a revista centenária. Nesse ínterim, o colégio se desenvolveu, teve um papel importante na história de Mossoró e do Rio Grande do Norte. Daqui saíram sete governadores, seis do nosso Estado e um da Paraíba, o João Agripino, senadores, deputados, prefeitos o que nem se conta. Estas carnaúbas plantadas do lado de fora, cada uma representa um ex-aluno governador.
OM - O senhor pode citar alguns nomes...
PS - Em ordem cronológica, Rafael Fernandes foi o quarto aluno matriculado. Nós estamos fazendo um levantamento dos 15 mil alunos que passaram pelo colégio. Quem defendeu a primeira turma de alunos foi Rafael Fernandes, prefeito de Mossoró e, posteriormente, governador do Estado. Depois veio Dix-sept Rosado, Cortez Pereira, Tarcísio Maia, Lavoisier Maia, João Agripino e Aécio Gurgel que foi governador de Fernando de Noronha durante a Segunda Guerra Mundial, quando aquela ilha era considerada um território livre. Ele era capitão do Exército. Então, o colégio tem a sua história na medicina, na advocacia, no comércio, nas prefeituras, etc. Atualmente quase todos os vereadores de Mossoró estudaram no Diocesano e os que não o fizeram, são pais de alunos.
OM - Como estabelecimento de ensino particular, ele foi pioneiro ou não?
PS - O primeiro em Mossoró e no Estado do Rio Grande do Norte tem também esta história a contar. Resultado: Não existia colégios nas cidades da região e interior da Paraíba, e Ceará, portanto Mossoró serviu como concentração dos estudantes daquela época. Por isso, Tarcísio Maia estudou aqui, os irmãos dele e por quê? Porque o pessoal de Catolé do Rocha e Pombal vinha para cá. Então, o colégio foi se desenvolvendo até chegar ao ponto de precisar de novas instalações. Aí é outra história.
OM - Vamos conhecê-la então...
PS - O colégio começou naquele prédio onde hoje está instalado o Banco do Brasil. Ainda temos fotografias daquele tempo. Mais precisamente no dia 9 de julho de 1956 passou a novas instalações. Aqui era tudo mato e aí em frente uma enorme lagoa. Não havia o Colégio Estadual, bairro nenhum. Então, de uma certa maneira o Diocesano puxou Mossoró para esse lado.
OM - A programação de comemoração já está elaborada?
PS - A nossa programação está com data e horário cronometrados para ter início a partir do dia 2 de março, logo depois do carnaval, numa sexta-feira. Às 9h da manhã acontecerá uma missa solene na Catedral, presidida pelo senhor bispo e concelebrada por três ex-alunos que são sacerdotes. Ao todo são quatorze o número de padres da Diocese de Mossoró que estudaram no Colégio Diocesano. No mesmo dia, ao meio-dia, os jornalistas Emery Costa e Nilo Santos estarão no colégio, onde convidarão todas as emissoras de rádio para se unirem em cadeia, oportunidade em que ouviremos a leitura da ata de fundação do colégio. Esta leitura, no dia 12 de março de 1901, foi lida exatamente ao meio-dia e nós estaremos repetindo o ato simbólico. Conseguimos reconstituir a redação e colocarmos em um quadro de vidro, haja vista o documento apresentar estragos por causa do tempo. Após a leitura todos os sinos das igrejas da cidade estarão repicando, seguidos de foguetões em todas as áreas de Mossoró. À noite acontecerá a sessão magna solene que contará com a presença de autoridades federais, estaduais e municipais. O orador oficial será o professor João Batista Cascudo Rodrigues. A partir daí teremos a abertura. Ainda nesse dia estaremos entregando à imprensa a programação que será estabelecida ao longo dos meses e até o próximo ano, nos seus pormenores mas de forma global.
OM - Como se segue esta programação?
PS - Por exemplo, o mês de março será dedicado aos escritores ex-alunos. Será lançado o livro de poesia de uma aluna atual; o mês de maio será dedicado às mães e à imprensa - rádio, jornal e televisão; em junho comemoramos as instalações do colégio. Haverá um seminário pedagógico com a presença dos diretores, coordenadores e representantes de professores dos 20 colégios diocesanos espalhados pela Região Nordeste. Em julho, entre os dias 18 e 22, outro evento importante será realizado. Trata-se dos jogos interdiocesanos, onde mais de 1.200 atletas dos 20 colégios, nas mais diversas modalidades, disputarão a taça do Centenário Colégio Diocesano. Em setembro acontecerá o encontro dos ex-alunos, no dia 29, data esta que ficará marcada para acontecer todos os anos.
OM - Quantos diretores passaram pelo Colégio Diocesano?
PS - O cônego Estevão Dantas foi diretor por duas etapas, o mesmo acontecendo com o monsenhor Manoel, então constituindo dois mandatos para cada um, nós já tivemos 21 diretores. Dentre estes, alguns entraram para a história, como é o caso de dom Amâncio Ramalho, grande orador que entrou para a política durante a revolução de 30, ele em 1927 participou das trincheira de luta contra o bando de Lampião, era um vibrador da sociedade de Mossoró naquela época. Cônego Estevão Dantas, outro grande orador, um homem teimoso que lutou com toda a garra, insistiu, lutou de todas as formas e conseguiu com precariedade construir estas instalações que ainda hoje existem. Vivo, nós só temos dois, cônego Luiz Soares, que implantou o 2º Grau aqui em Mossoró, e o padre Sátiro que continua respondendo pelos destinos desta escola.
OM - Qual o ano da implantação do ensino de 2º grau em Mossoró? O Diocesano foi pioneiro?
PS - O ensino secundário foi implantado em Mossoró no ano de 1967, e pelo colégio Diocesano, já neste prédio novo, é claro, respeitando a Escola Normal, que a gente assim chamava. O segundo grau apesar de existir era conhecido como o ginasial.
OM - Quantos alunos estudam hoje no Colégio Diocesano?
PS - Estamos hoje com mil duzentos e cinqüenta alunos e eu sempre digo aos meus colegas diretores que cada colégio a essa altura tem a sua clientela. Então, vamos competir pela qualidade, não pela falta de ética, conquistar alunos, jamais o Colégio Diocesano entrará nesse tipo de disputa. Queremos trabalhar com qualidade. Este ano nós tivemos 179 matrículas novas, quer dizer, novas famílias acreditaram no nosso processo de formação.
OM - Quanto ao processo de geração, existem famílias cujos avós e pais estudaram no Diocesano e hoje os netos e filhos destes continuam estudando?
PS - Nós estamos fazendo um levantamento entre os mais de quinze mil alunos que freqüentaram nossas salas de aula, para saber qual é a família que já está na terceira ou quarta geração. De antemão, uma família que está muito presente aqui na terceira geração é a Rosado. Todos os filhos de Jerônimo Rosado estudaram aqui; os netos também. Outros clãs familiares, tais como os Fernandes, também estudaram no Diocesano.
OM - Com relação a grande oferta de colégios particulares que entraram no mercado ultimamente, isto afeta o Diocesano?
PS - Acontece uma coisa interessante: o aluno num colégio x não é estudioso, muda de colégio, de turma e entra noutro. Por isso é bom aparecer várias ofertas. É claro que outros colégios têm que aparecer, pois um só não consegue suportar a grande procura. No entanto, eu desejo ainda, que o ensino público chegue a uma qualidade boa, pois muita gente hoje estuda em colégio particular mas só Deus sabe das dificuldades.
OM - Com relação à inadimplência...
PS- Olha, essa política salarial é terrível. Há mais de quatro anos que o funcionalismo público não tem aumento e nossos alunos na sua maioria são filhos destes funcionários, professores, e estes sentem a dificuldade. Aí se fala em inadimplência e nós dizemos: espera aí, a nossa clientela é essa. Mas no dia em que a escola pública tiver bom nome, haveremos de concorrer com ela, pela qualidade. E financeiramente, aqueles que não podem manter um pique possam ter uma boa escola. Por sinal, o secretário de Educação, Pedro Almeida, está com esse pensamento. Mas voltando à questão da inadimplência, a situação é muito delicada. Primeiro, existe uma medida provisória, porque atirar com a pólvora alheia é fácil. O presidente Fernando Henrique Cardoso assinou uma medida provisória, já reeditando cinqüenta e duas vezes, amarrando os colégios. O colégio não pode cobrar o aluno na sala de aula, não pode privá-lo de fazer provas, não pode negar a transferência. A única coisa que pode ser feita é se no fim do ano ele continuar devendo mensalidades, não efetuar a nova matrícula e orientá-lo a procurar outro estabelecimento de ensino. Aqui no Diocesano não acontece isso. Já em Natal, um colégio só recebe aluno transferido trazendo o carnê quitado de um outro.
OM- Em Mossoró, alguns colégios particulares que lecionam até o segundo grau estão projetando a implantação de cursos de terceiro grau. O Diocesano também almeja este empreendimento?
PS - Não. Aliás, o professor João Batista Cascudo Rodrigues me perguntou isso. Nós antes do ano de 1965, depois do Concílio Vaticano Segundo, antes do movimento para ser criada a Universidade de Mossoró, a primeira instituição a ser procurada foi a Diocese. Então, padre Américo, padre Alfredo, padre Sátiro, cônego Raimundo, padre Amílcar, decidimos: vamos apoiar a prefeitura e naquela época a tendência pastoral da igreja era trabalhar nos bairros, na periferia e por causa disso um colégio Marista em Natal, fechou. O professor nos procurou, mas nós não optamos por isso. Apesar de eu ser um dos fundadores da Universidade, o clero não prevalece em não assumir. Atualmente, Mossoró está com dois indícios bons. O Mater Christi, que vai entrar com dois cursos de nível superior, e o Diocesano que vai entrar em parceria com a Universidade Potiguar (UnP). Tenho certeza que a UnP passará aqui de três a cinco anos. O pensamento dela é que ganhe uma universidade em Mossoró. Nesta parceria, virão nos próximos anos cinco cursos, este ano dois, dentre eles o de Direito que é muito procurado. O Mater Christi já começa com Direito e começa muito bem porque nestes próximos dez anos será o carro-chefe das universidades particulares. Estamos já com duas novas universidades implantadas. O Diocesano àquela época se colocou ao lado da universidade municipal, e a essa altura não tem mais pensamento nesse sentido.
OM - Para encerrar a nossa conversa, gostaria que o senhor fizesse sua autobiografia:
PS - Sou filho de uma família média, a Ferreira Nunes, política, da cidade de Pau dos Ferros, os meus ancestrais Justinos, tivemos várias autoridades dente eles o prefeito de Pau dos Ferros, o deputado Izael Nunes, mais de sete vezes assumiu o parlamento. Mas a vocação de minha família é jurídica, temos mais de setenta e cinco primos, dentre os quais o ministro José Dantas, do Supremo Tribunal Federal (STF), que aposentou-se no ano passado. No entanto, a minha vocação foi o sacerdócio, sempre com aquela tendência jurídica, tanto que fiz o curso de Direito na Universidade Federal da Paraíba e depois de padre já aqui no Diocesano. Então, todo o meu trabalho, além da igreja, fui coadjutor em Areia Branca, vigário por quatro anos na igreja do Alto de São Manoel e mais tempo no clero diocesano. Fui secretário desde que cheguei de Roma, onde fiz o curso de Teologia, terminei em 1955 e ao chegar a Mossoró me implantaram dentro do Colégio Diocesano como secretário. Como diretor estou desde 1971. Então, toda a minha vivência é com o colégio, como também na capelinha de São Vicente, que desde 1957 está sob a minha regência. Antes da minha formação pedagógica, fui professor da Escola Normal, fui professor do Estado durante 26 anos, fiz o curso de História, lecionei na Universidade, lecionei quase todas as faculdades e tenho a honra e o prazer de dizer que eu e Vingt-un Rosado fomos os fundadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró e esta serviu de base para a fundação da Universidade. Posteriormente fui diretor da Faculdade de Educação por duas vezes e em 1985 naquela crise da Universidade, sendo prefeito Dix-huit Rosado, ele me convocou para conduzir os destinos da instituição. Graças a Deus fomos muito felizes, ao lado de vários segmentos, empenhamos a bandeira da estadualização com aquela vitória completa, onde o então governador Radir Pereira assinou termo incorporando a Universidade Municipal ao Estado. Desde aquele tempo a Universidade vem passando por situações de dificuldades, mas em situação diferente.
Fonte:
http://www2.uol.com.br/omossoroense/2502/entrevista.htm
Passaram por essa escola notórias autoridades que chegaram a administrar o Estado, bem como a cidade de Mossoró. Padres que atualmente regenciam igrejas da diocese freqüentaram os bancos escolares do Diocesano, que é detentor de glórias ao longo deste século de existência. O jornal O Mossoroense conversou com o padre Sátiro Cavalcanti Dantas, atual diretor, oportunidade em que obteve dele um retrato completo desde o dia em que o CDSL foi criado (2 de março de 1901) até os dias de hoje. O dirigente traça um perfil das dificuldades encontradas por todos que administraram a escola, mas relata também as glórias por ele evidenciadas.
POR
EDUARDO THOMÉ
O MOSSOROENSE - O Colégio Diocesano Santa Luzia completa 100 anos de existência neste mês de março. Quem foi o fundador desta escola?
PADRE SÁTIRO - A obra, o histórico, nós estamos fazendo até uma espécie de anotações para depois enviarmos à imprensa. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques era um bispo de João Pessoa, as igrejas da Paraíba e Rio Grande do Norte pertenciam à província eclesiástica de João Pessoa. Então, ele no fim do ano de 1900 esteve em Mossoró, viajando por Areia Branca, veja como eram as coisas naquele tempo. E nesta cidade reunia as famílias na igreja matriz e estas manifestaram o desejo de se criar o colégio católico em Mossoró e dom Adauto se comprometeu, constituiu uma comissão e esta ficou trabalhando. Veja como foi rápido. Começaram no final do ano de 1900 e já em março de 1901 o colégio estava constituído, sendo inaugurado no dia 2 do mês. Ele mandou do clero da Paraíba o cônego Estevão Dantas, aliás um intelectual, grande orador, para ser o primeiro diretor. Então, a história do colégio começa no dia 2 de março de 1901. Por isso que nós vamos comemorar o primeiro centenário a partir da sexta-feira desta semana, depois do carnaval, se estendendo até o próximo ano, fechando com a revista centenária. Nesse ínterim, o colégio se desenvolveu, teve um papel importante na história de Mossoró e do Rio Grande do Norte. Daqui saíram sete governadores, seis do nosso Estado e um da Paraíba, o João Agripino, senadores, deputados, prefeitos o que nem se conta. Estas carnaúbas plantadas do lado de fora, cada uma representa um ex-aluno governador.
OM - O senhor pode citar alguns nomes...
PS - Em ordem cronológica, Rafael Fernandes foi o quarto aluno matriculado. Nós estamos fazendo um levantamento dos 15 mil alunos que passaram pelo colégio. Quem defendeu a primeira turma de alunos foi Rafael Fernandes, prefeito de Mossoró e, posteriormente, governador do Estado. Depois veio Dix-sept Rosado, Cortez Pereira, Tarcísio Maia, Lavoisier Maia, João Agripino e Aécio Gurgel que foi governador de Fernando de Noronha durante a Segunda Guerra Mundial, quando aquela ilha era considerada um território livre. Ele era capitão do Exército. Então, o colégio tem a sua história na medicina, na advocacia, no comércio, nas prefeituras, etc. Atualmente quase todos os vereadores de Mossoró estudaram no Diocesano e os que não o fizeram, são pais de alunos.
OM - Como estabelecimento de ensino particular, ele foi pioneiro ou não?
PS - O primeiro em Mossoró e no Estado do Rio Grande do Norte tem também esta história a contar. Resultado: Não existia colégios nas cidades da região e interior da Paraíba, e Ceará, portanto Mossoró serviu como concentração dos estudantes daquela época. Por isso, Tarcísio Maia estudou aqui, os irmãos dele e por quê? Porque o pessoal de Catolé do Rocha e Pombal vinha para cá. Então, o colégio foi se desenvolvendo até chegar ao ponto de precisar de novas instalações. Aí é outra história.
OM - Vamos conhecê-la então...
PS - O colégio começou naquele prédio onde hoje está instalado o Banco do Brasil. Ainda temos fotografias daquele tempo. Mais precisamente no dia 9 de julho de 1956 passou a novas instalações. Aqui era tudo mato e aí em frente uma enorme lagoa. Não havia o Colégio Estadual, bairro nenhum. Então, de uma certa maneira o Diocesano puxou Mossoró para esse lado.
OM - A programação de comemoração já está elaborada?
PS - A nossa programação está com data e horário cronometrados para ter início a partir do dia 2 de março, logo depois do carnaval, numa sexta-feira. Às 9h da manhã acontecerá uma missa solene na Catedral, presidida pelo senhor bispo e concelebrada por três ex-alunos que são sacerdotes. Ao todo são quatorze o número de padres da Diocese de Mossoró que estudaram no Colégio Diocesano. No mesmo dia, ao meio-dia, os jornalistas Emery Costa e Nilo Santos estarão no colégio, onde convidarão todas as emissoras de rádio para se unirem em cadeia, oportunidade em que ouviremos a leitura da ata de fundação do colégio. Esta leitura, no dia 12 de março de 1901, foi lida exatamente ao meio-dia e nós estaremos repetindo o ato simbólico. Conseguimos reconstituir a redação e colocarmos em um quadro de vidro, haja vista o documento apresentar estragos por causa do tempo. Após a leitura todos os sinos das igrejas da cidade estarão repicando, seguidos de foguetões em todas as áreas de Mossoró. À noite acontecerá a sessão magna solene que contará com a presença de autoridades federais, estaduais e municipais. O orador oficial será o professor João Batista Cascudo Rodrigues. A partir daí teremos a abertura. Ainda nesse dia estaremos entregando à imprensa a programação que será estabelecida ao longo dos meses e até o próximo ano, nos seus pormenores mas de forma global.
OM - Como se segue esta programação?
PS - Por exemplo, o mês de março será dedicado aos escritores ex-alunos. Será lançado o livro de poesia de uma aluna atual; o mês de maio será dedicado às mães e à imprensa - rádio, jornal e televisão; em junho comemoramos as instalações do colégio. Haverá um seminário pedagógico com a presença dos diretores, coordenadores e representantes de professores dos 20 colégios diocesanos espalhados pela Região Nordeste. Em julho, entre os dias 18 e 22, outro evento importante será realizado. Trata-se dos jogos interdiocesanos, onde mais de 1.200 atletas dos 20 colégios, nas mais diversas modalidades, disputarão a taça do Centenário Colégio Diocesano. Em setembro acontecerá o encontro dos ex-alunos, no dia 29, data esta que ficará marcada para acontecer todos os anos.
OM - Quantos diretores passaram pelo Colégio Diocesano?
PS - O cônego Estevão Dantas foi diretor por duas etapas, o mesmo acontecendo com o monsenhor Manoel, então constituindo dois mandatos para cada um, nós já tivemos 21 diretores. Dentre estes, alguns entraram para a história, como é o caso de dom Amâncio Ramalho, grande orador que entrou para a política durante a revolução de 30, ele em 1927 participou das trincheira de luta contra o bando de Lampião, era um vibrador da sociedade de Mossoró naquela época. Cônego Estevão Dantas, outro grande orador, um homem teimoso que lutou com toda a garra, insistiu, lutou de todas as formas e conseguiu com precariedade construir estas instalações que ainda hoje existem. Vivo, nós só temos dois, cônego Luiz Soares, que implantou o 2º Grau aqui em Mossoró, e o padre Sátiro que continua respondendo pelos destinos desta escola.
OM - Qual o ano da implantação do ensino de 2º grau em Mossoró? O Diocesano foi pioneiro?
PS - O ensino secundário foi implantado em Mossoró no ano de 1967, e pelo colégio Diocesano, já neste prédio novo, é claro, respeitando a Escola Normal, que a gente assim chamava. O segundo grau apesar de existir era conhecido como o ginasial.
OM - Quantos alunos estudam hoje no Colégio Diocesano?
PS - Estamos hoje com mil duzentos e cinqüenta alunos e eu sempre digo aos meus colegas diretores que cada colégio a essa altura tem a sua clientela. Então, vamos competir pela qualidade, não pela falta de ética, conquistar alunos, jamais o Colégio Diocesano entrará nesse tipo de disputa. Queremos trabalhar com qualidade. Este ano nós tivemos 179 matrículas novas, quer dizer, novas famílias acreditaram no nosso processo de formação.
OM - Quanto ao processo de geração, existem famílias cujos avós e pais estudaram no Diocesano e hoje os netos e filhos destes continuam estudando?
PS - Nós estamos fazendo um levantamento entre os mais de quinze mil alunos que freqüentaram nossas salas de aula, para saber qual é a família que já está na terceira ou quarta geração. De antemão, uma família que está muito presente aqui na terceira geração é a Rosado. Todos os filhos de Jerônimo Rosado estudaram aqui; os netos também. Outros clãs familiares, tais como os Fernandes, também estudaram no Diocesano.
OM - Com relação a grande oferta de colégios particulares que entraram no mercado ultimamente, isto afeta o Diocesano?
PS - Acontece uma coisa interessante: o aluno num colégio x não é estudioso, muda de colégio, de turma e entra noutro. Por isso é bom aparecer várias ofertas. É claro que outros colégios têm que aparecer, pois um só não consegue suportar a grande procura. No entanto, eu desejo ainda, que o ensino público chegue a uma qualidade boa, pois muita gente hoje estuda em colégio particular mas só Deus sabe das dificuldades.
OM - Com relação à inadimplência...
PS- Olha, essa política salarial é terrível. Há mais de quatro anos que o funcionalismo público não tem aumento e nossos alunos na sua maioria são filhos destes funcionários, professores, e estes sentem a dificuldade. Aí se fala em inadimplência e nós dizemos: espera aí, a nossa clientela é essa. Mas no dia em que a escola pública tiver bom nome, haveremos de concorrer com ela, pela qualidade. E financeiramente, aqueles que não podem manter um pique possam ter uma boa escola. Por sinal, o secretário de Educação, Pedro Almeida, está com esse pensamento. Mas voltando à questão da inadimplência, a situação é muito delicada. Primeiro, existe uma medida provisória, porque atirar com a pólvora alheia é fácil. O presidente Fernando Henrique Cardoso assinou uma medida provisória, já reeditando cinqüenta e duas vezes, amarrando os colégios. O colégio não pode cobrar o aluno na sala de aula, não pode privá-lo de fazer provas, não pode negar a transferência. A única coisa que pode ser feita é se no fim do ano ele continuar devendo mensalidades, não efetuar a nova matrícula e orientá-lo a procurar outro estabelecimento de ensino. Aqui no Diocesano não acontece isso. Já em Natal, um colégio só recebe aluno transferido trazendo o carnê quitado de um outro.
OM- Em Mossoró, alguns colégios particulares que lecionam até o segundo grau estão projetando a implantação de cursos de terceiro grau. O Diocesano também almeja este empreendimento?
PS - Não. Aliás, o professor João Batista Cascudo Rodrigues me perguntou isso. Nós antes do ano de 1965, depois do Concílio Vaticano Segundo, antes do movimento para ser criada a Universidade de Mossoró, a primeira instituição a ser procurada foi a Diocese. Então, padre Américo, padre Alfredo, padre Sátiro, cônego Raimundo, padre Amílcar, decidimos: vamos apoiar a prefeitura e naquela época a tendência pastoral da igreja era trabalhar nos bairros, na periferia e por causa disso um colégio Marista em Natal, fechou. O professor nos procurou, mas nós não optamos por isso. Apesar de eu ser um dos fundadores da Universidade, o clero não prevalece em não assumir. Atualmente, Mossoró está com dois indícios bons. O Mater Christi, que vai entrar com dois cursos de nível superior, e o Diocesano que vai entrar em parceria com a Universidade Potiguar (UnP). Tenho certeza que a UnP passará aqui de três a cinco anos. O pensamento dela é que ganhe uma universidade em Mossoró. Nesta parceria, virão nos próximos anos cinco cursos, este ano dois, dentre eles o de Direito que é muito procurado. O Mater Christi já começa com Direito e começa muito bem porque nestes próximos dez anos será o carro-chefe das universidades particulares. Estamos já com duas novas universidades implantadas. O Diocesano àquela época se colocou ao lado da universidade municipal, e a essa altura não tem mais pensamento nesse sentido.
OM - Para encerrar a nossa conversa, gostaria que o senhor fizesse sua autobiografia:
PS - Sou filho de uma família média, a Ferreira Nunes, política, da cidade de Pau dos Ferros, os meus ancestrais Justinos, tivemos várias autoridades dente eles o prefeito de Pau dos Ferros, o deputado Izael Nunes, mais de sete vezes assumiu o parlamento. Mas a vocação de minha família é jurídica, temos mais de setenta e cinco primos, dentre os quais o ministro José Dantas, do Supremo Tribunal Federal (STF), que aposentou-se no ano passado. No entanto, a minha vocação foi o sacerdócio, sempre com aquela tendência jurídica, tanto que fiz o curso de Direito na Universidade Federal da Paraíba e depois de padre já aqui no Diocesano. Então, todo o meu trabalho, além da igreja, fui coadjutor em Areia Branca, vigário por quatro anos na igreja do Alto de São Manoel e mais tempo no clero diocesano. Fui secretário desde que cheguei de Roma, onde fiz o curso de Teologia, terminei em 1955 e ao chegar a Mossoró me implantaram dentro do Colégio Diocesano como secretário. Como diretor estou desde 1971. Então, toda a minha vivência é com o colégio, como também na capelinha de São Vicente, que desde 1957 está sob a minha regência. Antes da minha formação pedagógica, fui professor da Escola Normal, fui professor do Estado durante 26 anos, fiz o curso de História, lecionei na Universidade, lecionei quase todas as faculdades e tenho a honra e o prazer de dizer que eu e Vingt-un Rosado fomos os fundadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró e esta serviu de base para a fundação da Universidade. Posteriormente fui diretor da Faculdade de Educação por duas vezes e em 1985 naquela crise da Universidade, sendo prefeito Dix-huit Rosado, ele me convocou para conduzir os destinos da instituição. Graças a Deus fomos muito felizes, ao lado de vários segmentos, empenhamos a bandeira da estadualização com aquela vitória completa, onde o então governador Radir Pereira assinou termo incorporando a Universidade Municipal ao Estado. Desde aquele tempo a Universidade vem passando por situações de dificuldades, mas em situação diferente.
Fonte:
http://www2.uol.com.br/omossoroense/2502/entrevista.htm
Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Guimarães Segundo
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