Por Rangel Alves
da Costa*
Recordei-me
agora de aspectos comparativos entre lobos e homens que li ou ouvi em algum lugar.
Dizia da estreita relação no jeito de ser e viver de humanos e os canídeos
uivantes. Apontava a proximidade instintiva entre uns e outros, confirmando da
selvageria que os une diante das presas mais inocentes.
Mas as
interrelações vão além. Eis que os lobos, igualmente aos homens, são animais
territoriais, lutam para proteger seus espaços; preservam fortemente os laços
familiares, vez que geralmente acompanhados dos seus; são solitários e
sentimentais, vez que os uivos nas estepes são também expressões de
entristecimento; são carnívoros; atacam com violência; mas fogem quando
acossados.
E também já li
alguma coisa dizendo que os lobos, quando resolvem atacar, são os animais mais
perigosos e devastadores que possam existir, pois deixam somente as carcaças
depois das investidas. São também furtivos, traiçoeiros, sempre espreitando a
fragilidade da presa antes de proferir o ataque. Quando menos se espera, e os
lobos já estão com seus dentes afiados na pele.
Cada um na sua
selva, mas não há como deixar de reconhecer que lobos e homens possuem o mesmo
modo de ser, de agir e de mostrar sentimentos. Tudo igual, mas com motivos
diferentes. E não é a racionalidade que diferencia tais motivos, vez que os
canídeos, por serem irracionais, bem poderiam agir mais impensada e vorazmente
que os humanos. Mas não é assim que ocorre.
Inversamente
aos humanos, que são maldosos, traiçoeiros, pensam e repensam nas maldades a
praticar, os lobos agem justificadamente. Ainda que ataquem com traição,
covardemente, sem deixar qualquer chance de defesa, fazem assim porque
necessitam sobreviver em meio a outros ainda mais ferozes. Então fazem uso de
estratégias e armas verdadeiramente humanas para abater o animal que servirá de
alimento próprio e aos seus.
Pelo que eu
saiba, não há um só humano que aja premeditadamente sob justificação. Ou a ação
é imediata como legítima defesa ou planejada cautelosamente para alcançar todos
os objetivos pretendidos com a violência. Não surge das estepes ou dos
escondidos da mata porque precisa agir para obter meios de sobrevivência. Surge
repentinamente sim, saem dos escondidos, porém para atacar maldosamente quem
não deveria lhe servir de presa.
Os lobos são
assassinos vorazes, avançam e destroçam com violência desmedida, mas a justificação
do ataque logo se percebe. Não matam por matar, não sangram e dilaceram o outro
para depois simplesmente deixar o corpo estendido. Ali mesmo se alimentam, ali
mesmo removem as entranhas até se fartarem. E quase sempre recuam levando
pedaços para a próxima refeição.
E os lobos não
retornarão, não farão novos ataques a não ser para se proteger ou revidar, ou
porque novamente precisam de alimentos. Seus outros instantes servem para o
convívio familiar, para cavar suas tocas, para observar as forças do meio em
que vivem, pois sabem que em determinadas épocas devem migrar para outros
locais. Mas ao anoitecer, como por encanto, cada lobo procura sua janela em
cima do monte para os uivos sentimentais.
Neste momento,
os canídeos aparentam novamente aos humanos. O homem, por mais bestial que seja
o seu instinto, por maior dureza que pareça ter no coração, ainda assim não
consegue fugir dos sentimentalismos, das melancolias íntimas, das aflições
corroendo a mente entremeada de passado e presente. Alguns não conseguem
esconder seus sentimentalismos e angústias, porém outros escolhem a forma mais
dolorosa de sofrer, que é a interna.
Deveriam agir
como os lobos e subir aos montes após o entardecer, ao descer da lua, na noite
fechada. E lá do alto uivar o mais alto que puder; ecoar sua saudade ou sua
tristeza da forma pujante que conseguir. Pois depois desses lamentos tristes os
lobos descem confortados e prontos para os desafios. E quem sabe o homem não se
ouviria, ele mesmo, nesse seu grito. E talvez aprendesse a sofrer apenas por
coisas que possam ser resolvidas pelo coração.
Poeta e
cronista
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