Por Rangel Alves
da Costa*
Sob a pena do
jornalista, secretário de governo e imortal Luiz Eduardo Costa, o ex-prefeito
de Poço Redondo, Frei Enoque, é um verdadeiro santo. Santifica-o de tal modo
que nenhuma mácula tão própria do ser humano caberia naquele que, segundo lê-se
nas entrelinhas, é o mais puro entre os seres humanos, a verdadeira inocência
em pessoa.
É até estranho
que o ilustre jornalista se esmere tanto na defesa intransigente do “pobre e
humilde Frei Enoque”, vez que sempre amigo do poder e dos que estão exercendo
funções eletivas. Contudo, o que mais assombra é a cegueira total, absoluta,
para não dizer vergonhosa, diante de uma realidade que não pode ser negada sob
qualquer aspecto.
Ora, toda a
nação brasileira sabe, desde muito tempo, das condenações impostas ao Frei
Enoque, tanto pelo judiciário como pelos tribunais de contas. No plano da
reincidência, afastada logo está a inocência. E certamente não é tão inocente e
imaculado assim aquele que já foi preso, teve contas rejeitadas, respondeu a
processos por improbidade, e continua sendo condenado.
Creio que a
valorização do ser humano está também no reconhecimento do erro. Mas o que o
jornalista Luiz Eduardo Costa quer passar à sociedade é a imagem de um Frei
Enoque com caráter inabalável, de absoluta honradez, alguém que não mereceria
qualquer pecha de corrupto, ímprobo, mau gestor da verba pública. E porque os
magistrados e outros julgadores sempre encontram rastros desviantes da
honestidade, então logo o ex-prefeito se torna na pessoa mais injustiçada do
mundo.
O povo de Poço
Redondo, mesmo aqueles seus eleitores, fanatizados e bajuladores (e que são
muitos), sabe muito bem o que se esconde por trás de Frei Enoque, como alguém
que desde muito abdicou de seu juramento religioso para enveredar no mundo
político e manter o poder a todo custo, e passando por cima de tudo e todos que
ousem desafiá-lo. Religioso, pacato, humanista?
Contudo, o que
mais se torna repugnante nas afirmações de Luiz Eduardo Costa é o
desnorteamento que pretende impor a fatos demasiadamente conhecidos pela
sociedade sergipana, e até afrontando a seriedade dos órgãos julgadores. Eis
alguns trechos do que o jornalista, sob o título “Frei Enoque ou a dignidade
castigada”, escreve na edição deste domingo (1º de dezembro de 2013) do Jornal
do Dia:
“Justamente
ele, exemplo de vida recatada, de desamor ao dinheiro, de dignidade e de
solidariedade humana”; “um cidadão que é moralmente inatacável”; “Frei
Enoque não deixou rombos no orçamento municipal, que ele tirou do bolso o
próprio salário para ajudar a manter funcionando bem o hospital, os postos de
saúde, que alimentou os pobres, tudo dentro das boas formas como se pratica a
caridade cristã”; “Curvem-se (...) à majestade honrada de um homem exemplar,
curvem-se e lhe peçam desculpas, talvez perdão”.
Ler tais
afirmações causa enojamento, repugnância, verdadeira aversão ao jornalismo
compromissado com a inverdade. Só faltava Luiz Eduardo Costa dizer que tão
pobre Frei Enoque é que se alimenta das esmolas que os seus fanáticos dão. A
pobreza seria mentirosa, mas as esmolas são verdadeiras.
No dia
08/03/2013, o mesmo Jornal do Dia publicava: “A pedido do Ministério Público
Federal em Sergipe (MPF), a Justiça Federal condenou o ex-prefeito de Poço
Redondo, Enoque Salvador de Melo, conhecido como Frei Enoque, por improbidade
administrativa. O processo diz respeito ao mau uso de verbas do Ministério da
Educação (MEC) relativas aos programas Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
Dinheiro Direto na Escola (PDDE), Educação de Jovens e Adultos (Peja) e
Nacional de Transporte Escolar (PNATE)”.
Já no último
dia 13/11/2013 Assessoria de Comunicação do TCE/SE publicava que “Devido a
despesas não comprovadas e ao excesso nos subsídios do prefeito e do
vice-prefeito, o Tribunal de Contas do Estado (TCE/SE) decidiu pela
irregularidade do período inspecionado de outubro a dezembro de 2009, na
Prefeitura Municipal de Poço Redondo, condenando o então gestor, Enoque
Salvador de Melo, a ressarcir o valor de R$ 46.725,72, além do pagamento de
multa de R$ 2mil pelas falhas formais constatadas. O julgamento ocorreu na
sessão da Segunda Câmara ocorrida na manhã desta quarta-feira, 13”.
E basta uma
simples pesquisa para conhecer diversas outras condenações impostas a esse deus
louvado por Luiz Eduardo Costa. Contudo, talvez até que o ilustre jornalista
esteja certo. Os magistrados, promotores e conselheiros dos tribunais de contas
deveriam saber que não são humanos os atos praticados por alguém reverenciado
como superior, ainda que envoltos no lamaçal da improbidade.
Poeta e
cronista
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