Por: Marcos Cost@
Zé da
Quebrada, aquele que morava na ladeira. Sim. Ele
mesmo. Não sabe o que aconteceu?
Tentou o
futebol quando garoto, mas por causa da mãe que ficou doente ele teve que
trabalhar bem cedo na vida. Pai nunca soube quem era, mesmo assim ele não
desistiu. Talvez o problema do Zé fosse esse - não desistir de encontrar
saídas, mesmo quando tudo está difícil.
Com os
problemas da mãe e as visitas ao Hospital do Câncer, o patrão do Zé não tolerou
os atrasos, faltas, e mandou o sujeito embora – demitido.
Zé arrumou um
trabalho de entregas numa farmácia
depois que a sua mãe foi morar com Jesus e conheceu a Larissa, com quem se
casou e teve um guri, o Zezinho. Só que Zé não virou balconista e nem pensava
muito em ser. Não teve estudos e o pior que não acreditava em si. Não procurou
e não incentivaram como tantos. Claro que, com essa garra toda, ele iria se
dedicar a uma oportunidade que lhe dessem. Mas ele só abraçava as chances que
estavam em sua linha de visão e não aprendeu que certas tantas outras ficam
atrás das portas da vida.
Larissa
trabalhava também, diarista, mas foi ficando de saco cheio dessa vida. Não era
como na novela. Como era bom se tivesse um tiquinho de conforto. Talvez um
pouco mais que esse tiquinho a fizesse feliz. Talvez mais um pouco e um pouco
mais rapidamente de conforto. E em poucos anos a insatisfação surgiu durante o
prazo de validade do Zé. Inconformidade já batia na porta daquele lar. Larissa
queria um novo príncipe e tudo que o dinheiro pode dar, pelo menos um com carro do ano, melhor que o
Zé que só tinha uma bicicleta de entregar remédios.
Zé começou a
perceber que lá na comunidade estavam crescendo o olho pra sua Cinderela e
tratou de aceitar a proposta do Digão, o colega da farmácia metido malandro:
vender remédio como camelô. Só que seriam os remédios da farmácia mesmo.
Se o negócio
deu certo? O dinheiro em casa imediatamente. Larissa pouco queria saber de onde
vinha, só bastava tirar uma de senhora madame no shopping esfregando na cara
das amigas que bastava pressionar um pouquinho que o homem vende a alma pra não
perder a mulher.
Uma semana
durou o esquema. Nem um dia a mais. Pro Zé da Quebrada era dinheiro e trabalho
- Todo mundo ganha algum dando um jeitinho. Não é droga. É remédio – pensava
ele. Pro Digão, o Zé era um laranja que ganhava dinheiro pra ele. Pra
Larissa... Bem... Não era. Pra polícia o
chefe da quadrilha de roubo de medicamentos. Pra imprensa um prato cheio que só
ficaria saboroso até aparecer outra notícia.
Zé da Quebrada
foi preso estampando sua cara nas páginas dos jornais e programas de crime na
TV. Sua agora ex-mulher deu entrevistas exibindo um generoso decote e se
mostrando como uma mulher que sofria maus tratos do inofensivo Zé. Ela sonhava
que algum diretor de novela a visse e a escalasse para a próxima novela da
noite por sua "excelente" atuação. O Digão acabou ficando famoso
dizendo que o Zé era um mafioso internacionalmente procurado. O que lhe rendeu
até uma proposta de escrever um livro. A imprensa não acreditava, mas como o
povo engolia a história foi bem maquiada para dar um bom material e acalmar as
redações sedentas de notícias.
Zé da Quebrada
hoje cumpre pena em Bangu. Se dá bem com todo mundo: carcereiros, presos e até
o diretor. Até seus colegas sabem que houve muito exagero. Ele quer cumprir a
sua pena pelo crime que cometeu, sabe que vendeu roubo, e depois quer recomeçar
sua vida longe de Larissa, longe de amigos de copo, longe da cidade grande que
devora sem se perceber. Quer no fundo mesmo deixar alguma coisa para seu filho
Zezinho. É pedir demais?
autor: Marcos
Costa
Boa semana
para todos.
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Um comentário:
xcelete!
Postar um comentário