Por: Rangel Alves
da Costa*
A indagação
acima poderia ser acrescida de muitos outros adjetivos, alargando-a para
perguntar por que os governantes são também tão arrogantes, prepotentes,
egoístas, arbitrários, autoritários e viciosos. E vícios que envolvem
corrupção, improbidade e má gestão da coisa pública.
Mas me atenho
à mentira por uma questão de lógica. E mentira como ação de faltar à verdade,
de falsear a realidade. E o embuste está para a política e a governança como a
esperteza está no trato com o dinheiro público. Atire, pois, a primeira pedra
aquele que vê a personificação da honestidade num governante.
Até que, como
desculpa ou defesa, um partidário ou apaixonado afirme que nem todos
administram com a pecha de desonesto. Mas aqui não me refiro ao político ou
governante como aquele que tem o olho e a mão grandes para as verbas que
administra, e sim como aquele reconhecidamente desonesto na palavra e na ação.
Aquele mentiroso contumaz, desde a campanha ao sentar no pedestal.
Ora, não há,
acima da terra e abaixo do céu, um só governante que na sua gestão não
contradiga o que tanto pregou na sua campanha. Parece praga de revoltoso, mas
sempre ocorre assim. Do mesmo modo, não há um só candidato que prometa apenas
aquilo que realmente possa cumprir se eleito. E o pior é que a maioria dos
votantes acredita nas deslavadas promessas.
Parece coisa
feita somente para enraivecer o povo. Se eleitor for não roubarei nem deixarei
roubar, farei a administração mais eficiente e produtiva de toda a história,
enxugarei a máquina administrativa e não admitirei quem quer que seja que
esteja envolvido em improbidade ou corrupção. Será o governo das mãos limpas,
do trabalho e da honestidade. Alguém já ouviu algo assim de um candidato?

Claro que sim,
pois todos agem do mesmo modo, tendo mesmo alguns que extremizam absurdamente
suas promessas de campanha. Não haverá mais um só buraco nas ruas, as escolas
serão todas reformadas e receberão o que de mais moderno houver em tecnologias
educacionais, os salários serão aumentados, cada cidadão será também o
administrador, pois se eleitor for o gabinete será do povo. Bem assim acontece.
Existem também
aquelas mentiras básicas e que servem desde expediente de campanha à
administração em si. Aquelas lorotas como educação de qualidade, serviços de
saúde do primeiro mundo, erradicação total da miséria e da pobreza,
desburocratização dos serviços, eficiente sistema de transportes, garantia de
alimento na mesa de todos.
O que acontece
com o governante é caso para estudo. E de conclusões aberrantes, certamente.
Não só se omite em realizar “as grandes obras” de palanque e porta em porta,
bem como passa a cometer uma aleivosia ainda mais grave. Isto porque não há um
só governante que não gaste rios de dinheiro com a velha e imoral propaganda dizendo
que ninguém nunca fez em tão pouco tempo como a sua administração.
Cada novo
governante age do mesmo modo, e cada um possui realizações muito superiores à
gestão passada. Tão grandiosas que acreditamos estar noutro mundo, noutra
realidade. Seja presidente, governador ou prefeito, cada um deles se mostra
como o suprassumo na saúde, na educação, na moradia, na geração de emprego e
renda, na qualidade de vida. As propagandas alardeiam assim, mas não conseguem
esconder os descalabros e desmandos observados na realidade.
Seria ótimo
que o propagado tivesse ao menos um pouquinho de verdade. Mais que isto, o país
inteiro estaria, desde muito tempo, com todos os problemas resolvidos. Ora, se
cada governante administra melhor que o outro, faz mais obras, faz tudo mais e
melhor, então haveria uma soma de grandes realizações. Mas por que, então, cada
um que assume sempre diz que encontrou o caos?
Na verdade,
ninguém sabe se mente mais o que saiu ou o que vai chegando. Quem entra
certamente sabe que pouco cumprirá do prometido em campanha. Aliás, há uma
descabida exigência de o candidato ter de apresentar ao TSE um plano de
governo. Alguém já viu a justiça eleitoral penalizar o governante que, para
esquecer logo as promessas, rasgou seu plano de governo ou simplesmente fez de
conta que não havia nem planejado nem prometido nada?
Aliás, não sei
mesmo para que exista plano de governo ou estratégia de administração. A
verdade é que as obras, acaso realizadas, são sobras de investimentos outros
realizados pelo governante, vez que primeiro se administra para si mesmo e
somente depois talvez pense no bem da coletividade. E não se pode esquecer que
muitos não realizam nem quando as verbas já estão disponíveis. Em diversas
situações as verbas retornam aos ministérios porque não foi providenciado
sequer um projeto.
Contudo, uma
indagação amarga precisa ser feita: Não seria o eleitor o grande mentiroso?
Rangel Alves
da Costa, nascido em 1963, é natural de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano
do São Francisco. É advogado e escritor, e reside em Aracaju. Já publicou os
seguintes livros: Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O
Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha
das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos
(romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã
(poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas
Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de
Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo –
Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos
Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea
Gandavos - Contando outras histórias. Possui outros livros prontos para
publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a
Ficção e a História - O Cangaço Imaginário. Colabora com artigos para o Jornal
do Dia, de Aracaju. Diversos sites também publicam seus textos.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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