Por: Rangel Alves
da Costa(*)
Foi no seio do
povo Rahii, uma antiga civilização que teve seu apogeu na região saariana de
Ahmenoff, que floresceu a concepção rahiinishta do amor. Fruto da filosofia
desenvolvida pelo grande sábio Rahiinsh, não foi, contudo, considerada pelo seu
povo, caracterizado pela devassidão e pelas relações promíscuas.
Bem diferente
era o mestre Rahiinsh. O sábio jamais se envolveu amorosamente, praticava a
castidade e era ferrenho crítico dos costumes de seu povo. Nesse entremeado de
pecados e de obediências aos ditames espirituais é que passou a conceber uma
filosofia bastante peculiar sobre o amor, alcançando inúmeros discípulos
perante outras civilizações.
O fundamento
básico da filosofia rahiinishta do amor se estruturava no seguinte postulado: A
impureza do ser humano é inversa à pureza do amor. O amor que se expressa no
relacionamento também se toma de impureza. Não há verdadeiro amante que queira
macular seu sentimento, tornando impuro seu amor. Daí que o amar verdadeiro
exige distância do outro, de modo que a relação corporal não macule o amor
sentido.
No mesmo
sentido, a concepção rahiinishta prega que o amor perde totalmente sua essência
quando se torna em relação corporal entre duas pessoas. Tal relacionamento
envolve sexo, pacaminosidades e outras entregas, e acaba descaracterizando o
amor no seu mais puro sentido. Nada do corpo em si serve de atributo de amor,
nenhuma aproximação serve para fortalecê-lo. Eis que o amor, para ser amado em
profundidade exige distância entre os que se amam.
Segundo ainda
a filosofia, o amor puro afasta de si toda aproximação humana, todo
relacionamento sexual, todo uso do corpo para fins de prazer. Experiências
sexuais, eróticas, permissivas ou acentuadamente corpóreas, possuem objetivos
muito diferentes e contraditórios da perenidade e pureza do amor verdadeiro. Só
se ama com a alma, não com o corpo. Este é sujo, imundo, pecaminoso.
O sexo, em si,
é uma experiência dramática e cruel no ser humano, pois não passa de uma
ilusão, de um fingimento, de algo que não se perpetua como prazeroso. E se
diferencia do amor porque este não vive de ilusões momentâneas nem de prazeres
passageiros, e sim de um profundo desejo que se acentua cada vez mais. Ora, o
amor não irrompe e some, não se desfaz de uma relação, não se destrói com
intrigas íntimas.
No
rahiinishmo, o amor deve ser objeto de desejo e não de prazer. Como as pessoas
não podem se aproximar para expressar corporal ou intimamente o que sentem,
logo se tem que tal amor deve ser vivenciado de modo dialógico na distância, um
amante sempre longe do outro amante. É a distância que purifica e preserva o
amor, garantindo beleza e intensidade.
A distância
purifica o amor porque tem o desejo como única aproximação. O amor à distância
eleva cada vez mais os conceitos de um ser sobre o outro ser, torna a pessoa
desejada cheia de virtudes e costumas, permite que a pessoa seja sempre vista
dentro de uma idealização enobrecedora. E nada disso é possível quando as
pessoas se aproximam. Pelo contrário, a verdade surgida em cada um conflagra no
sentimento uma verdadeira tragédia.
Quer dizer, o
rahiinishmo prega o amor concebido, de forma ideal e com o maior embelezamento
possível, na necessária distância entre o amante e a pessoa amada. Qualquer
aproximação corporal macula o sentimento, e por isso deve ser evitada a
qualquer custo. Cabe à mente aproximar, ao desejo fazer presença, ao querer
verdadeiro sentir em profundidade.
É pelo
pensamento que a concepção rahiinishta do amor se expressa. A pessoa ama outra
através da mente. Dessa mentalização vão surgindo as idealizações, as formas
que acabam aperfeiçoando a relação. Através da mente, do pensamento, a pessoa
amada se torna meiga, sublime, bela, cheia das melhores virtudes, tomada de
encantamentos. E, segundo o desejo do amante, a tendência é que o endeusamento
seja cada vez maior.
E assim deve
ser para sempre, sem qualquer aproximação. Nada, nenhuma ação ou atitude, pode
desconfigurar o que o pensamento tornou realidade. E o outro nem precisa saber
que está sendo amado, tão desejado e endeusado. Basta que um deseje e de
repente, mentalmente, tudo já será realidade. Até o sexo.
Por isso que o
mestre Rahiinsh, mesmo solteiro e castiço, se dizia pai de mais de cem filhos.
E quantas belas mulheres amou.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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