Por: Rangel Alves
da Costa(*)
Não, não diga
a ninguém não, mas vou contar um segredo:
Aquele por
quem tanto esperou sou eu. Em seu coração havia a certeza de que um dia a
pessoa certa chegaria ao seu lado e entraria na sua vida. Essa pessoa sou eu. E
seu sonho não se realizou porque não insistiu em sonhar. Mas sonhe, que o meu
sonho também é tornar tudo realidade.
Prometa que
não repassa, pois vou contar um segredo:
Os desenhos,
nomes e frases surgidos na sua janela embaçada em dias de chuva, quem os
escreve sou eu. E sou eu também o murmúrio do vento, os sons gotejando ao
redor, a natureza entristecida naqueles dias molhados. E também já molhei o seu
corpo quando abriu a janela para deixar que os pingos entrassem.
Confesse que
não diz a mais ninguém, pois contarei outro segredo:
Sou folha
seca, sou folha triste, sou folha de outono. Esvoaço pelo ar, desando de lado a
outro, mas sempre procuro a sua janela. Às vezes me avista sendo levada pelo
vento, outras vezes me encontra adormecida no umbral de sua janela ou largada
em cima de sua cama. E se sou assim, folha triste, é porque você ainda não me
recolheu para colocar em meio ao seu diário, pertinho daquele coração
desenhado.
Vou contar
outro segredo, mas peço que não diga a ninguém:
Sou o silêncio
e também a solidão. Sou a melodia triste que chega na brisa e também a saudade
que desponta sem qualquer motivo. Juro que nunca gostei de ser assim, tão
silêncio, tão solidão, o canto triste e a saudade que chega. Mas nunca pude
mudar de atitude, fazer diferente, se sempre encontro você pensando em alguém
que não sou eu.
Contarei um
segredo, e este imploro que jamais diga a ninguém:
Amo-te. Sempre
te amei. O coração desenhado no tronco da árvore contendo o seu nome, o bilhete
amoroso e cheio de versos apaixonados jogado dentro do quarto, a flor mais bela
deixada na sua janela, o olhar maravilhado que a acompanha por onde segue, tudo
fruto do meu amor. E jamais exigi recompensa pelo amor que sinto, vez que amor
sentido e desobrigado a ser amado.
Outro segredo,
sim. E dessa vez não conte mesmo a ninguém:
Sou anjo. Sou
anjo e seu guardião. E assim sou porque me permito, através da fé, da prece e
da oração, sair de mim para estar invisivelmente ao seu lado. Chego num voo, me
ponho em silêncio, estou onde está, sigo aonde vá, e faço tudo que um anjo faz.
Mostro a outra estrada, faço lembrar os espinhos, me adianto ao seu passo para
iluminar o caminho. Como consigo agir assim? Eis outro segredo que somente o
amor revela.
Mas tenho
outro segredo, e agora revelarei:
Estou no
espelho, no retrato, na fotografia. Estou na brisa do amanhecer ao abrir a
janela, estou na flor acariciada, estou no melhor pensamento que chega. Estou
no tempo, no minuto e no segundo, no calendário, no passado e no futuro. E sou
o presente. Estou na música que chega sem saber de onde, na poesia que recorda
ao entardecer, na revoada que passa adiante. E tanto estou e tanto sou que em
mim nada restou.
Segredo,
segredo, por isso não diga a ninguém:
Direi agora.
Você quase não me olha, mas depois eu vi seu mar; você não queria me ouvir, mas
guardou minhas palavras; você nem me deu esperança, mas não desisti; você disse
não, mas depois disse sim; não queria que soubessem, mas era minha namorada.
Passeamos de mãos dadas, nos beijamos, nos abraçamos, e um dia fizemos amor.
Fizemos amor muitas vezes, até que nasceu nosso filho. E até hoje carrego ele
comigo, pois sou eu mesmo. E não pode dizer que não foi assim porque o sonho é
meu e sonho como quiser.
Um último
segredo, e se prepare para ouvir, mas não diga a ninguém não:
O que aqui
está escrito não são apenas palavras. Aqui está a minha voz, o meu grito e o
meu silêncio. Também minha dor e minha alegria. E ainda uma confissão: Somente
dizeres ao vento, espalhando segredos vãos, alentam a alma e encorajam o
espírito para enfrentar essa solidão.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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