Por: Rangel Alves da Costa(*)
SE
EU TE AMO E TU ME AMAS.
A frase
colocada como título pode ser encontrada na música “A maçã”, de Raul Seixas.
Contudo, diferentemente da letra, que trata da liberdade de amar (ainda que
outra pessoa) reconhecida à pessoa amada, aqui se verá outra noção do amor.
Prefiro dizer
do prazer em viver e conviver a dois, da cumplicidade existente entre os que se
gostam, do compartilhamento de sonhos e esperanças, da luminescência espiritual
pela certeza de amar e de estar sendo amado. Ora, se a estrada da felicidade
pode ser percorrida, não há que se falar em temer os espinhos próprios de todo
caminhar.
Não sou
conselheiro amoroso nem especialista em amor. Pelo contrário, pouco sei desse
sentimento; quase nada sei sobre o que seja verdadeiro amor. Não amo porque não
sei amar na medida, e o amor - que não duvide - é uma responsabilidade muito
maior do que imagina um vão coração apaixonado.
Como dito,
pouco posso falar de amor, mas também Ovídio, o poeta romano autor de “A Arte
de Amar”, pouco soube experimentar daquilo que tanto ensinou nas letras.
Shakespeare foi um amargurado; Florbela Espanca vivia desiludida. Ademais,
poucos poetas de amores lastreados em versos não passaram de noctívagos
melancólicos e entristecidos.
Mas a lógica
desse sentimento não pode levar a outra conclusão: o amor é tudo. E sendo tudo
o amor, certamente que amar é a elevação espiritual mais profunda. Êxtase da
alma, exaltação do coração, enobrecimento que coloca em pedestal qualquer
súdito da solidão. Tamanha a sua importância na vida do ser humano que todo
mundo deveria amar. E verdadeiramente amar.
Agora vem um
problema. Quando encontra o par supostamente perfeito, por que não cultivar
ainda mais o amor sentido? Ao sentir prazer, alegria e felicidade por viver
momentos maravilhosos junto à pessoa amada, então por que não desejar que num
tempo mais distante aquele abrasamento ainda esteja queimando?
Neste passo é
que surgem indagações: Se quero, por que não manter, conservar, preservar? Se
amo, por que não fazer desse amor um sentimento ainda mais forte e que,
duradouro, seja imbatível diante dos tantos problemas que certamente surgirão?
Se tenho certeza do que quero, então por que fraquejar diante dos momentos de
incertezas?
Sim, o amor
existe, pois se gostam, se amam, se querem. Mas de repente, um ciúme que surge
ou uma briga qualquer e tudo parece querer desabar. O sopro da discórdia sempre
chega disfarçado. Por que assim, ou será que o amor sentido é descartável,
consumível, perecível, e se basta todo apenas no momento da presença? Ora, se
eu te amo e tu me amas...
Se eu te ama e
tu amas há que se reconhecer a existência de amor. Você diz, eu confirmo; você
sente, eu também; você expressa ao seu modo, eu demonstro como posso. Então não
haveria que surgir qualquer dúvida da certeza, permanência e validade desse
sentimento.
Se eu te amo e
tu me amas, e se nessa jura íntima não há falsidade, se não há frieza e
incerteza no que expressamos, então não há que temer tempestades ou vendavais,
labirintos e encruzilhadas. E simplesmente porque somos muito mais fortes que
as provações e as armadilhas que certamente virão.
E virão
exatamente para testar nosso compromisso amoroso, nossa capacidade de união
diante do inesperado, nossa força em permanecer de mãos dadas diante do forjado
abismo. E se eu te amo e tu me amas, e tão verdadeiramente como demonstramos
sentir, absolutamente nada será capaz de ameaçar o solidamente construído.
Desse modo, se
eu te amo e tu me amas, nem precisaremos mais perguntar um ao outro sobre isso.
Muito menos falar em amor, em amar, em querer, em gostar. Não precisaremos mais
fazer nada disso. Sinta tudo em mim, e tudo sentirei em você.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário