quarta-feira, 15 de maio de 2013

OLHANDO PARA O CÉU (Crônica)


Por: Rangel Alves da Costa(*)

OLHANDO PARA O CÉU 


Dia desses, de súbito, fiquei imaginando que nunca mais tinha reservado momentos para ficar olhando para cima, para o céu.

Não me refiro ao céu na sua ampla concepção religiosa. Céu celestial, morada divina, endereço do paraíso, lugar onde todos querem assegurar permanência após a morte.

Refiro-me ao firmamento, ao caminho das nuvens, às regiões acima da terra onde estão situados os corpos celestes. O céu das revoadas passarinheiras, das cores além do horizonte.

Céu de onde despontam a lua e o sol, por onde vagueiam os sonhos e as quimeras; espaço do passo daqueles que parecem viver muito além deste chão. Morada do Pequeno Príncipe e do Astronauta de Mármore. “Sempre estar lá, e ver ele voltar...”.

Céu de muitos significados. A paisagem amiga do sonhador, a poesia esvoaçante para os olhares românticos, as sombrias compreensões avistadas pelas pessoas entristecidas. Lá em cima há um pontinho que somente alguns olhos enxergam. E também um deserto de sombras e solidão.

Aconteceu de forma inusitada. À noite, eu estava passando por uma área aberta após o meu quarto quando me vi olhando para o alto. Céu estreito, nublado, escurecido, porém misterioso e maravilhosamente encantador.

Fui para o quintal, coloquei minha espreguiçadeira e ali fiquei mirando o firmamento por um longo tempo. A lua escondida, apenas uma ou outra estrela aparecendo e sumindo, somente o negrume cravejado de nuvens. Tempo de chuva depois do anoitecer.


Como faço de vez em quando, escolhendo o lugar silenciosamente ideal para conversar sozinho, ali me pus a dialogar com o pensamento. E me fiz de lua, de estrela, de nuvem, de astros perdidos, dos seres que habitam por aquelas distâncias.

Mas também me fiz poeta, sonhador, saudosista, romântico, um aventureiro melancólico e nostálgico pelas estradas etéreas. Cavaleiro do ar, lancei meu cavalo veloz em busca da estrela cadente. Encontrei a donzela e chorei o meu desamor.

Como é bom vivenciar momentos assim, de puro desprendimento, imaginando as belezas e os mistérios daquelas distâncias infinitas. Ele não estava lá, mas senti o bafo quente do fogo do dragão de São Jorge.

E quantos mistérios há neste universo, espalhando-se pelo firmamento feito poeira espacial. Dizem que há uma via-láctea, um caminho de leite, uma estrada de minúsculas partículas que levam a um palácio encantado.

E nesse palácio mora um ser mítico chamado mistério. Quando sobe na torre do seu palácio e sopra pelos quatro cantos então tudo se transforma em mistérios. E estes esvoaçam pelo ar espalhando indagações.

O que se esconde além, muito além, do que nossos olhos conseguem enxergar? Haveria vida naqueles planetas por lá existentes? Onde estará a garagem dessas máquinas voadoras, desses discos espaciais que de vez em quando são avistados sobre a terra?

Ou indagações quase lúdicas, singelas demais: Por que o céu é azul e não de outra cor, e por que primeiro a lua não ilumina sua casa para depois iluminar a nossa? Por que as nuvens são tão intrometidas e às vezes escondem a lua e as estrelas, deixando tudo mais triste e escurecido? Aonde foi parar a folha de outono que passou entristecida pela janela e foi subindo, subindo, subindo?

Olhando para o céu, ainda que em noite de lua escondida e estrela matuta, saio um pouco de mim para alçar o espaço. Não tenho medo da estrada dos aviões nem do disco voador que circula de luzes apagadas. Vou tomar banho na piscina da nuvem antes que ela derrame toda a água.

E mais tarde, quando à meia-noite a chuva forte começar a cair, descerei novamente no meu quintal. E que ninguém se espante se trouxer comigo um pedaço de lua e uma ponta de estrela. É que adormeci olhando o céu e acabei viajando em sonho pelos quadrantes desse maravilhoso firmamento.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.


Poeta e cronista
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