domingo, 12 de maio de 2013

MINHA MÃE FOI ALI (Crônica)


Por: Rangel Alves da Costa(*)

MINHA MÃE FOI ALI

No dia de hoje, que é tão especial em comemoração ao dia das mães, muitas delas estão por aí orando pelos seus, lavando e passando, preparando o alimento, recebendo o abraço de um ou de outro que chega. São muitas situações que elas podem estar vivendo agora, ainda que nesse dia lhes coubessem o repouso e o reconhecimento pela dádiva de existirem.

Muitas mães que estão por aí, contudo, nem serão lembradas pelos seus filhos. Infelizmente muitos destes espelham a letra da música de Erasmo que, ligeiramente transformada, diz assim: Ei mãe, não sou mais menino. Não é justo que também queira parir meu destino. Você já fez a sua parte me pondo no mundo. Agora sou o meu dono mãe e nos meus planos não está você...

Filhos ingratos existem sim, mas sobre mãe ingrata preciso acreditar. Ainda nesse dia, mesmo esquecidas que sejam pela sua prole, não será difícil encontrá-las ajoelhadas diante da imagem sacra e rogando pela família, pedindo proteção para os seus, entabulando murmúrios que somente os santos podem decifrar.

Mulheres fortes na fragilidade da vida, mães sertanejas, matutas, caboclas, senhoras de tez recortada pelo tempo e cabelos esbranquiçados pelo pó dos dias infindos. Mães envelhecidas, encurvadas, de passos lentos e olhos embaçados. Ou mães jovens, na flor da idade, ainda mocinhas que escolheram a maternidade cumprindo o desígnio da procriação.

Todas elas e de qualquer matiz; todo credo e toda condição de existência e subsistência, seja ainda jovem ou já se tornando criança novamente, serão as mesmas mães perante os filhos que nelas puderem enxergar a razão maior de estarem presentes neste mundo e trazendo consigo o caderno moral com as tantas lições recebidas.

Ora, que ninguém se esqueça dos dissabores de uma gravidez, de mês após mês numa eternidade, das dores do parto, das noites insones, do seio adoçado para a boca faminta, dos chás e remédios caseiros, dos temores pela vida afora. A criança chorando e a mão embalando o berço, a cantiga de ninar ecoando pela janela, o bicho-papão fugindo com medo do amor de mãe.

Todas as mães merecem o justo reconhecimento pela vida inteira. Contudo, filhos existem que nem nesse dia lembram suas existências. Talvez por isso mesmo tenham anunciado o segundo domingo de maio como o seu dia para que os filhos possam se redimir de suas ausências e, ao procurá-las para um simples gesto, poder renovar a aliança que jamais deixou de existir.

Que bom que os filhos possam encontrar, reencontrar, vivenciar suas mães nesse dia e sempre. Uns levam à mão uma flor, outros um presente embrulhado, e ainda outros vão carregados de abraços, sorrisos e doces palavras. Mas para a mãe nada disso soa mais importante do que a própria presença do filho. É o senti-lo que lhe enche de seiva de vida e contentamento.

Mas nesse dia, como já faço desde mais de três anos, irei encontrar minha mãe de um modo diferente. Na saudade, na lembrança, na recordação, na sensação de estar na sua presença. Naquele 23 de junho de 2009 ela ouviu o chamado de Deus e foi. Ela não está mais aqui porque foi ali.

Minha mãe foi ali e fiquei esperando o seu retorno. Mas o tempo foi passando e ela não veio. Meu pai foi ao seu encontro e sei que um dia também partirei. Avisto o caminho e reconheço a estrada. Tenho que aprender na vida o caminho por onde terei de seguir. E ao reencontrá-la, um dia, entregarei o presente que tenho guardado ao longo desses anos.
A joia da honra, minha mãe. A preciosa joia da honra, do caráter, da dignidade. Esse presente mais precioso que possa existir num filho teu.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.


Poeta e cronista
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