Por: Rangel Alves da Costa(*)
PALAVRAS
NÃO DIZEM NADA, ABSOLUTAMENTE NADA
Adiante
comprovarei que as palavras não dizem e não valem nada, absolutamente nada.
Faria diferente, voltaria atrás, se você conseguisse me provar agora ter
absoluta certeza de que é verdade aquilo que ouve e tudo o que diz.
Experimente
fazer isso. Olhe para trás e veja se jamais se enganou ao confiar demais
naquilo que ouviu, se nunca sofreu por ter acreditado em belas palavras vindas
de bocas insuspeitas, se já não sofreu ludibriamento verbal de alguém que tanto
confiava. E imagine também quantas vezes já usou deliberada e intencionalmente
da mentira.
A verdade é
que a palavra é tão amiga da inverdade como o mau-caratismo da falsidade. E
quando é verdadeira, quando a palavra procura fielmente expressar uma
realidade, ainda assim nunca é totalmente acreditada. E com razão. Quem conhece
os seus falsetes logo se apega ao tomeísmo: ver para crer.
Também é
verdade que nenhuma palavra sai de uma boca humana carregando o dom da
santidade, da pureza ou da inocência. Crianças fingem, mentem, brincam para
obter o que desejam; amantes sempre dizem além dos reais sentimentos; vizinhos
transformam grãos em montanhas. A própria voz íntima nem sempre diz a verdade.
A palavra em
si é inofensiva, realmente despida de qualquer maldade ou falsidade, mas apenas
enquanto som fonético, ruído, expressão. O que a suja, macula, torna reprovável
é a intencionalidade nela contida, o objetivo de quem a transmite. Sai da boca
límpida, cristalina, mas vai sendo transformada assim que o som é propagado e
chega ao outro.
Ora, o que é a
palavra senão uma expressão, algo pronunciado, uma informação repassada? Qual a
prova de verdade na expressão pronunciada, quem sabe dizer se aquilo
pronunciado é verdade ou não? A máquina até que pode verificar a probabilidade
de mentira, mas o que vale é o dito no instante.
É o falado e
ouvido que causa impacto, comove, tremula, entristece, alegra; é a força da
expressão que pode mudar toda uma situação, impedir uma realização, dar forças
para o prosseguimento. Mas será verdadeira a palavra que tem o dom de causar
tantas consequências?
Não há
mecanismo humano, recurso tecnológico ou qualquer outra coisa que impeça a
pronúncia do que a pessoa bem entender. Poderá sofrer consequências após, mas
no instante da boca livre não. É nesse instante que demonstra toda a sua força,
pois ouvida, acreditada ou desacreditada, impondo sempre reações no ouvinte. E
tanto poder para nada, absolutamente nada.
Repita-se,
pois, que palavras não valem nada. A pessoa abre a boca e diz o que bem
entender, o que quer e como quer. Tome-se por exemplo a palavra do mentiroso
contumaz. De tanto mentir, falsear a verdade, modificar a realidade dos fatos,
passa a ser totalmente desacreditada. Ainda que jure ajoelhado estar dizendo a
verdade nenhuma valia terá sua confissão. Mas a palavra pronunciada por outra
pessoa, tida como insuspeita, não é diferente daquela do mentiroso.
Indago: Qual a
prova de verdade que se tem ao ouvir uma pessoa pronunciando qualquer coisa?
Nenhuma, absolutamente nenhuma. A expressão pode ser verdadeira ou não, pois o
ouvinte não tem o dom, naquele instante, de verificar nada acerca de sua
veracidade. Daí que a palavra é apenas um som, uma pronúncia, e despida de
qualquer valoração de verdade.
Quem advoga é
forçado a ouvir aquelas advertências vindas dos magistrados, no sentido de
alertar a testemunha que ela está ali sob juramento, para dizer apenas o que
for verdade, sob pena de incorrer nas sanções legais. E jamais soube de caso
onde o testemunho mude de versão apenas por medo de sair algemado da sala de
audiência.
Pelo
contrário, pois sempre expressa, confirma e reafirma aquilo que o advogado
achou mais conveniente como defesa. E tal fato prova que, mesmo sob juramento,
a palavra toma o contorno que a pessoa quiser. Deveria sair da boca de um
jeito, mas sai de outro. E quem irá provar, naquele instante, que está
mentindo?
Portanto, não
se contente muito ao ouvir um te amo. Procure acreditar na pessoa, conhecer a
realidade do amor, para depois não se sentir amorosamente ludibriado como
tantos outros.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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