Por: Rangel Alves da Costa(*)
MINHA
LINDA SERTANEJA
Canto a mulher
sertaneja porque conheço a flor nascida na mais atroz aridez; louvo o dengo e o
encanto agrestino porque sei quão doce é o fruto daquele pomar; exalto a
meiguice campesina porque naquela simplicidade de jambo brota faceira a beleza
da vida. E da mulher, da suavemente meiga mulher sertaneja.
Encontro-a por
todos os lugares, de muitos jeitos, com muitas feições. Menina moça, moça
menina, sempre faceira no seu caminhar. Ainda que pobre, subindo a ladeira, com
lata na cabeça, com balde de roupa para lavar, seja lá como for, ao avistá-la
primeiro encontro a flor. A flor no cabelo, a flor no lábio, a flor no corpo
inteiro. E não precisa que exista pétala sobre ela, pois flor já será.
A mocinha da
roça, matuta ainda entre modismos, com cabelos desgrenhados e maltratados, com
olhos que nunca miram num outro olhar, feição entristecida e sempre cabisbaixa,
representa o puro encanto. A pureza da quase inocência, do envergonhamento de
suas formas perfeitas, do medo que um sorriso lhe desabroche a flor escondida
no coração.
Ah, bela,
bela, quanto és bela sertaneja! Vestido de chita, roupa na simplicidade do
vestir, chinelo de dedo, sandália sem brilho nos pés mimosos que caminham para
deleite do vento, da paisagem agrestina, dos olhos apaixonados que a avistam ao
longe, pelo aroma tão mulher. E o vento se torna ventania para balançar seus
cabelos, tocar na flor invisível que existe ali. Um jardim inteiro. E florido!
Queria demais,
quero sempre, mas tão difícil é saber como está, o que sente, o que deseja. Por
isso a imagino sorrindo, com sorriso preso entre os lábios macios e sedosos;
penso no seu olhar avistando aquilo que avidamente quer avistar, seu coração
pulsando cheio de alegria e felicidade. E amor. E amor sim, pois bem sei que
coração tão jovial não se fecha para os desejos da vida.
Porém um véu se
põe sempre sobre a minha linda sertaneja. Tirar esse manto e ouvir sua voz,
ouvir sua doce palavra, sentir os lábios se abrirem a revelar segredos que não
podem ser ditos com palavras. Apenas com o sorriso, o lábio trêmulo, a pele
tomada de tinta vermelha, um leve toque, um beijo. A grande graça da vida. E
beijo de sertaneja tem gosto de araçá. E fruto melhor não há.
Ao entardecer,
junto com a aragem da hora, um aroma gostoso se espalha pela rua, pelos
arredores, seguindo apaixonadamente adiante. Perfume de alfazema, de colônia de
feira, de frasco sem nome, mas que exala a mulher em sua essência. E lá estará
ela na sua janela, olhos viajantes, feição sonhadora, pensando no dia que seu
príncipe virá. Não tem flor à mão, não esconde um verso de amor. Mas nem
precisa, pois ali a flor e o poema.
Se verso eu
soubesse escrever, minha bela campesina, riscaria um poema com rima e tudo,
juntava paixão e coração, amor e sabor, beijo e desejo. Por que escrever
diferente, escolher rima rica e desconhecida, se o encanto do verso é retratar
a musa desnuda de estilos e floreios, estética e brilhos gramaticais? Ai, minha
paixão em viagem ao seu coração, encontra do amor o melhor sabor, e com imenso
desejo ajoelha pedindo um beijo...
E lembro-me do
menino que fui, do menino que ainda sou, espalhado na noite, iluminado de lua,
correndo veloz num cavalo de pau. Apressado demais, desejoso demais de chegar
pertinho da roda e avistar a sertanejinha rodar e cantarolar: A rosa vermelha é
do bem querer, a rosa vermelha e branca hei de amar até morrer... Se essa rua,
se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com
pedrinhas de brilhante, só pra ver, só pra ver meu bem passar...
Oh, minha
linda sertaneja, cresceste no bom chuvisco do milharal. O orvalho caiu sobre os
lábios, a luz da lua sobre seu olhar. E do alvorecer trouxeste consigo a
plangência do ser e a paz da existência. A bonequinha se fez mulher, fruto tão
lindo e gracioso. E quem dera que dessa safra da vida jamais a tristeza lhe
roubasse a doçura agrestina. E principalmente a flor. A eterna flor que há em
você!
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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