terça-feira, 23 de abril de 2013

MINHA LINDA SERTANEJA (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)


MINHA LINDA SERTANEJA

Canto a mulher sertaneja porque conheço a flor nascida na mais atroz aridez; louvo o dengo e o encanto agrestino porque sei quão doce é o fruto daquele pomar; exalto a meiguice campesina porque naquela simplicidade de jambo brota faceira a beleza da vida. E da mulher, da suavemente meiga mulher sertaneja.

Encontro-a por todos os lugares, de muitos jeitos, com muitas feições. Menina moça, moça menina, sempre faceira no seu caminhar. Ainda que pobre, subindo a ladeira, com lata na cabeça, com balde de roupa para lavar, seja lá como for, ao avistá-la primeiro encontro a flor. A flor no cabelo, a flor no lábio, a flor no corpo inteiro. E não precisa que exista pétala sobre ela, pois flor já será.


A mocinha da roça, matuta ainda entre modismos, com cabelos desgrenhados e maltratados, com olhos que nunca miram num outro olhar, feição entristecida e sempre cabisbaixa, representa o puro encanto. A pureza da quase inocência, do envergonhamento de suas formas perfeitas, do medo que um sorriso lhe desabroche a flor escondida no coração.

Ah, bela, bela, quanto és bela sertaneja! Vestido de chita, roupa na simplicidade do vestir, chinelo de dedo, sandália sem brilho nos pés mimosos que caminham para deleite do vento, da paisagem agrestina, dos olhos apaixonados que a avistam ao longe, pelo aroma tão mulher. E o vento se torna ventania para balançar seus cabelos, tocar na flor invisível que existe ali. Um jardim inteiro. E florido!

Queria demais, quero sempre, mas tão difícil é saber como está, o que sente, o que deseja. Por isso a imagino sorrindo, com sorriso preso entre os lábios macios e sedosos; penso no seu olhar avistando aquilo que avidamente quer avistar, seu coração pulsando cheio de alegria e felicidade. E amor. E amor sim, pois bem sei que coração tão jovial não se fecha para os desejos da vida.

Porém um véu se põe sempre sobre a minha linda sertaneja. Tirar esse manto e ouvir sua voz, ouvir sua doce palavra, sentir os lábios se abrirem a revelar segredos que não podem ser ditos com palavras. Apenas com o sorriso, o lábio trêmulo, a pele tomada de tinta vermelha, um leve toque, um beijo. A grande graça da vida. E beijo de sertaneja tem gosto de araçá. E fruto melhor não há.

Ao entardecer, junto com a aragem da hora, um aroma gostoso se espalha pela rua, pelos arredores, seguindo apaixonadamente adiante. Perfume de alfazema, de colônia de feira, de frasco sem nome, mas que exala a mulher em sua essência. E lá estará ela na sua janela, olhos viajantes, feição sonhadora, pensando no dia que seu príncipe virá. Não tem flor à mão, não esconde um verso de amor. Mas nem precisa, pois ali a flor e o poema.

Se verso eu soubesse escrever, minha bela campesina, riscaria um poema com rima e tudo, juntava paixão e coração, amor e sabor, beijo e desejo. Por que escrever diferente, escolher rima rica e desconhecida, se o encanto do verso é retratar a musa desnuda de estilos e floreios, estética e brilhos gramaticais? Ai, minha paixão em viagem ao seu coração, encontra do amor o melhor sabor, e com imenso desejo ajoelha pedindo um beijo...


E lembro-me do menino que fui, do menino que ainda sou, espalhado na noite, iluminado de lua, correndo veloz num cavalo de pau. Apressado demais, desejoso demais de chegar pertinho da roda e avistar a sertanejinha rodar e cantarolar: A rosa vermelha é do bem querer, a rosa vermelha e branca hei de amar até morrer... Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, só pra ver, só pra ver meu bem passar...

Oh, minha linda sertaneja, cresceste no bom chuvisco do milharal. O orvalho caiu sobre os lábios, a luz da lua sobre seu olhar. E do alvorecer trouxeste consigo a plangência do ser e a paz da existência. A bonequinha se fez mulher, fruto tão lindo e gracioso. E quem dera que dessa safra da vida jamais a tristeza lhe roubasse a doçura agrestina. E principalmente a flor. A eterna flor que há em você!

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
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