Por:Inácio Tavares(*)
Publicado em
18/03/2013
Na região
oeste da cidade, à margem esquerda do Piancó, uma suave elevação serrana, de
extensão intermitente, se estende, salvo engano, das mediações do sítio flores
até as terras do sítio outra banda.
Na sua
extensão recebe várias denominações. Nas proximidades da vila pombalzinho é
conhecido como ¨alto de Joaquim de Orlando porquanto no sítio outra banda
recebe a denominação, ¨alto da favela¨.
Não sei das
outras denominações que recebe a modesta serrinha na direção rio acima. O solo
tipicamente cristalino não se presta para a exploração agrícola.
O fato de ser
argiloso, por isso impermeável, abriga uma cobertura vegetal típica da região
tais como, favela, marmeleiro, jurema, entre outros pequenos arbustos.
Não se trata
de uma área totalmente inútil, pois, em meio à vegetação rústica brotam
diversas variedades de capins, de sistema radicular de pouca profundidade, que
servem de base alimentar para a pecuária extensiva.
Não há espaço para ajuntamento d’água de forma natural ou artificial. O pequeno serrote atua como se fosse um divisor de águas.
Uma parte
corre pra o Piancó, outra, no sentido contrário, alimenta riachos que vão dar
na fazenda Santo Antônio e em seguida deságua no rio Piranhas.
Por outro
lado, no alto da favela, de um lado os riachos que correm, na direção oeste não
desaguam no Piranhas, porquanto uma pequena elevação após o alto faz a água
retornar em direção leste.
O pequeno
riacho formado por essas águas alimenta um pequeno açude localizado no sítio
Cajarana, cuja sangria vai dar no Piancó.
Do lado de cá,
os arroios correm diretamente pra o Piancó. Em razão das dificuldades para o
acesso à água, os proprietários, cujas terras são cortadas por esta elevação,
evitaram construir casas para fins residenciais, ou qualquer outro tipo de
construção com finalidade agrícola.
O senhor Joaquim de Orlando foi a exceção. Construiu sua residência, exatamente, no alto da elevação. A modesta casinha, pintada de branco, enquanto erguida, era vista de qualquer ponto da cidade. No sentido inverso lá do alpendre da casinha éramos premiados com uma visão panorâmica da cidade.
A água de que necessitava para o consumo da família, animais e higiene familiar era armazenada em tanques de alvenaria no decorrer da estação invernosa. Fora da estação era conduzida em lombo de jumentos.
Mesmo assim, segundo o senhor Joaquim de Orlando valia pena morar na casinha branca da serra. O esforço de construção foi recompensado pela brisa que persistentemente invade o interior da casa, proporcionando-lhe um conforto climático bem diferente daqueles que estavam a residir lá embaixo, na cidade.
Repito, era uma casa branca, com um pequeno alpendre, duas janelas, na parte frontal uma porta, ainda duas janelas na lateral. Por várias vezes, eu e Carlito Herculano, subimos o serrote a fim de pegar canários da terra, que naquele tempo havia em abundancia.
A visão que tínhamos da cidade era deslumbrante. O pequeno sítio era uma faixa de terra que ficava entre o xique-xique, pertencente família Alexandre, nossos parentes, e o carro quebrado, propriedade do tio Onofre Cardoso.
A casa branca
de seu Joaquim de Orlando era um ninho de felicidade. Poucos móveis
ornamentavam os espaços disponíveis.
O que se via
eram tamboretes, potes de barro, uma fornida mesa de aroeira pra refeições,
fogão a lenha, outras coisas mais, típicas de uma residência de uma família
pobre.
Afora isso, não havia mais nada de especial de uso doméstico. Não havia iluminação elétrica, por conseguinte, não havia rádio, geladeira ou qualquer utilidade domestica movida a energia.
Na parede
fotografias quase, apagadas, do casal, dos ancestrais da família, além da de
São Jose e sua Santíssima esposa Maria, com o menino Jesus nos braços. Ah sim,
havia fotos do filho mais velho que residia no Rio de Janeiro.
Era assim o
cenário interno da casa, caprichosamente pintada de branco, do seu Joaquim de
Orlando. Ninguém passava pela estrada sem dar uma espiada lá pra o alto em
direção àquela modesta morada, porem repleta de paz e felicidade.
Da mesma
forma, na cidade, em qualquer lugar que estivéssemos, avistávamos a casinha
branca. Por outro lado, a família Orlando, lá de cima, por sua vez, com um
simples olhar, mesmo de soslaio, deslumbrava-se com a velha cidade de ruas
sinuosas, porém aconchegante e acolhedora.
Ah, seu Joaquim, quantas saudades!! O ponto que o senhor escolheu para construir o seu ninho de aconchego, com certeza, hoje, muitos gostariam de estar no seu lugar, inclusive eu.
A cidade
cresceu. Os problemas das cidades grandes são motivos de preocupações no nosso
dia-a-dia. Assim sendo nos restam boas lembranças, porque os escombros da
casinha branca da serra nos remetem àqueles tempos em que a felicidade, em meio
a pobreza, era uma mercadoria fácil de encontrar. Bastava procura-la.
João Pessoa,
18 de Março de 2013
Ignácio Tavares
Ignácio Tavares
(*) Economista. Colunista da Liberdade FM onde escreve sobre vários temas. CONTATOS: itavaresaraujo@yahoo.com.br
FONTE:
http://www.liberdade96fm.com.br/colunistas/inaciotavares
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