Por: Rangel Alves da Costa(*)
IGREJAS
INTOLERANTES
As igrejas
pregam seus norteamentos de fé, suas convicções religiosas, seus postulados
divinos, e se dentre tais ações também pregam o preconceito e a discriminação,
e principalmente a intolerância perante outras religiões, estarão incorrendo em
violação à lei, agindo criminosamente. Não há como afirmar diferente.
Parece atitude
normal, mas não é. As estratégias levadas a efeito por determinados líderes de
igrejas, objetivando desacreditar as outras crenças e credos, as outras
manifestações religiosas, acabam se transformando em pregação da intolerância.
Daí o estímulo a que discípulos menos conscientes façam do açulamento os
caminhos mais fáceis para a injúria e a difamação, dentre outras atitudes
reprováveis.
E tais
aspectos não dizem respeito apenas às igrejas que atacam os outros credos com
ódio, ira, sempre desrespeitosamente. Não contentes em atingir os primados de
suas concorrentes - pois vendendo um mesmo Deus de forma diferenciada - se
lançam ao ataque às organizações, às entidades, aos profissionais e até mesmo
às obras de ficção.
E fazem isso
com tal fúria que mais parece um confronto maniqueísta, o bem e o mal se
digladiando pela demonstração da superioridade desta ou daquela igreja. E
logicamente em defesa da primazia de seus preceitos, ainda que sustentados em
objetivos escusos ou pouco confiáveis. Atacam violentamente, mas se resguardam
de pedras à mão para novamente jogar sobre quem conteste suas aleivosias e
aberrações.
São muitos os
exemplos dando conta de igrejas que tentam ridicularizar, desacreditar perante
os seus fiéis e a sociedade acrítica, quem ou o que quer que vá de encontro aos
seus princípios. Agem como se fossem paladinas da moral, da verdade religiosa,
únicas possuidoras dos caminhos da salvação. E nessa disputa de poder, de busca
de riquezas e de rebanhos, vão afrontando deliberadamente a lei, a moral, a
ética, os princípios e as virtudes religiosas.
Todas as
estratégias e artifícios são utilizados para, a um só tempo, desqualificar a
outra religião e tentar proclamar a sua igreja como detentora da única verdade.
Assim, criminosamente, surge alguém com força de líder para chutar imagem
sacra, para zombar dos seguidores de outros credos, para erguer na mão um
microfone e pregar que os símbolos de outras religiões não passam de disfarces
do inimigo.
Para tais
igrejas, nenhum significado possui o sincretismo, de nenhuma valia é o culto da
concorrente, e apenas o seu credo - ainda que maculado, pretensioso e com
objetivos escusos - deve ser acatado e proclamado. Fazendo tais afirmações
perante os fiéis, logicamente que estarão semeando a discórdia e os seus
abomináveis frutos.
Costuma-se
dizer que muitos desses fiéis, com o passar do tempo e com a estratégica
pregação que recebem, acabam se tornando pessoas irreflexivas, sem poder de crítica
sobre a realidade de sua igreja, completamente manipuladas. E, infelizmente, é
sobre tais pessoas que os líderes religiosos agem para alastrar a discórdia.
Utilizam os fiéis como instrumentos para a disseminação da intolerância, do
preconceito e da discriminação.
Ora, se um
bispo diz, por exemplo, que tudo fará para que seus fiéis boicotem uma novela
porque a mesma menciona São Jorge, e este santo também está presente numa
religião de cunho afro-brasileiro - o ogum do candomblé -, então está pregando
o preconceito e a discriminação contra símbolos de outras religiões. Não só
desrespeita o sincretismo como abre brechas para a intolerância.
Quando a Rede
Globo anunciou a minissérie “O Canto da Sereia”, logo líderes religiosos
iniciaram uma ferrenha campanha contra a sua exibição. Afirmando que a
minissérie trataria de temas como bissexualidade e faria referência explícita a
Iemanjá - orixá das religiões afro-brasileiras -, pastores e bispos cuidaram de
declarar guerra. Quer dizer, tudo aquilo que não diga respeito à sua igreja, ao
seu credo, então será considerado um atentado à verdadeira religiosidade, que,
ao que parece, é somente a deles. E isto é crime, é indubitavelmente
criminoso.
Ora, a
Constituição Federal do Brasil, no seu art. 5º, VI, preceitua que é inviolável
a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos. Contudo, alguns investidos do poder religioso insistem em
confrontar o primado constitucional da liberdade de crença e criminosamente
perseguir outros cultos e credos.
Por sua vez, a
Lei nº 7.716/89 (que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de
cor), preceitua no seu art. 1º que serão punidos os crimes resultantes de
discriminação ou preconceito de religião. E o art. 20 diz que é crime praticar,
induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de religião.
De modo
específico, a legislação penal também tipifica o crime de preconceito ou
discriminação religiosa. O art. 140, § 3º, do Código Penal prevê o crime de
injúria qualificada pelo preconceito: “Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem”. Assim, ofender a
honra de pessoa porque pertence a determinada igreja estará incorrendo no crime
de injúria qualificada pelo preconceito.
Assim,
demonstrado está que a religiosidade, ou o modo como ela é exercida, se
utilizada por líderes religiosos para denegrir a imagem de outros credos, nada
mais é que um palanque maculando a própria fé existente nas pessoas. Ao ferir o
fiel e sua crença estarão ferindo a sua liberdade de escolha religiosa. E isto,
repita-se, é crime.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta
e cronista
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