Por: Rangel Alves da Costa(*)
O
LIMITE DO ELÁSTICO (E DA VIDA)
A máxima é de
Vergílio Ferreira: “A razão é um elástico. Vê se consegues não a esticar muito
para não rebentar”. Mas, sem medo de errar, diria que tal elasticidade serve
como cuidado de manuseio para todas as situações da vida.
Verdade é que
muitos conhecem mais o elástico do que a vida. E vão puxando, esticando,
forçando, alongando, até... Ora, tudo tem um limite. O normal afina, a
plasticidade definha, o fio se parte em si mesmo.
O grande erro
humano é imaginar que a vida puxada e repuxada, esticada, forçadamente
estendida, voltará ao normal assim que a ponta elastecida for solta. Imagina
que tudo pode ser igual ao elástico.
Com
efeito, o elástico é um tipo de tecido com propriedades plásticas
que retorna, quase identicamente, à sua feição inicial após ser deformado,
esticado ou comprimido. Retorna de modo parecido, mas nunca igual ao que era
antes.

E isto porque
o simples elastecer já transforma as propriedades da matéria, já corrompe ou
afrouxa sua estrutura. Os olhos, erroneamente, imaginam que o elástico retorna
da mesma forma ao ponto de partida. Mas nunca acontece assim.
Do mesmo modo
acontece com a vida daqueles que a tem como brincadeira, como borracha de
esticar e fazer voltar, como objeto para testar sua suportabilidade. Não se
contentando em elastecer-se apenas nos momentos de precisão, insistam em
brincar, em puxar de lado a outro, em ver até onde a borracha vai.
E toda
borracha vai até o instante de se romper. Todo elástico se estende até um
determinado limite. Daí em diante é certeza que sua estrutura não suportará e
irremediavelmente romperá, quebrará. Algo parecido com a morte, ou não?
Um dia ouvi:
Tudo tem início e chegada, começo e fim; a estrada sempre dá em algum lugar; o
distante um dia será avistado. Mas um dia eu quis revirar tudo, dilatar a
estrada, trazer pra bem perto o que estava distante. Puxando, trazendo,
soltando, um dia descuidei. E nunca mais me encontrei ziguezagueando pela vida.
Transformar a
vida em feição de elástico é pretender que tudo se irrompa a qualquer instante.
Ora, o balão se enche, se arredonda, engrandece, até estourar. A peteca é
esticada até onde se pretende que a pedra alcance, senão o arremesso sai
descontrolado. O ioiô tem um limite de ir e voltar.
Tudo acontece
assim, ou respeitando o limite ou sabendo que perderá o controle. Por
consequência, ninguém imagine que a borracha biológica suporta muito tempo em
tanto ser esticada, voltada, forçada novamente. Aparentemente forte demais, o
corpo é estrutura plástica das mais vulneráveis.
Não precisa
ser especialista para entender o seu funcionamento, tanto do corpo como de
qualquer matéria elástica. Os demasiados impulsos enfraquecem a estrutura.
Quando retorna já está mais frágil; quando puxada novamente não alcançará com
segurança a mesma distância que antes. Do contrário se romperá.
Ainda que a
vida fosse de ferro exigiria cuidados de manutenção e conservação, e um dia
teria o seu fim. O ferro estraga, corrói, enferruja, vai desaparecendo com o
tempo. Ainda de objeto resistente que fosse, um diamante inquebrantável, sem
cuidados a vida é orvalho ao sol.
Orgânica e
biologicamente, a vida possui a flexibilidade adequada para cada situação. É
forte, potente, capaz, já demasiadamente elástica na sua normalidade e perante
o seu tempo. E perdurará o tempo certo se o homem não se juntar às adversidades
para corroê-la, romper suas forças, dilacerar.
E ela, a vida,
existe para ser vivida dentro de limites. Nem ferro nem orvalho, apenas uma
estrutura que precisa ser conservada. E torná-la fio elástico, peça de
borracha, cordel de látex, sempre significará fragilizá-la para antecipar o seu
rompimento, o seu fim.
E a
brincadeira acaba de vez no exato momento que a pessoa estava gostando tanto de
jogá-la lado a outro, puxando e soltando, fragilizando a si mesmo. E elástico
rompido sempre tende a tomar impulso inesperado. Algo assim como a morte.
Poeta e
cronista
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