sábado, 23 de fevereiro de 2013

O LIMITE DO ELÁSTICO (E DA VIDA) (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

O LIMITE DO ELÁSTICO (E DA VIDA)

A máxima é de Vergílio Ferreira: “A razão é um elástico. Vê se consegues não a esticar muito para não rebentar”. Mas, sem medo de errar, diria que tal elasticidade serve como cuidado de manuseio para todas as situações da vida.

Verdade é que muitos conhecem mais o elástico do que a vida. E vão puxando, esticando, forçando, alongando, até... Ora, tudo tem um limite. O normal afina, a plasticidade definha, o fio se parte em si mesmo.

O grande erro humano é imaginar que a vida puxada e repuxada, esticada, forçadamente estendida, voltará ao normal assim que a ponta elastecida for solta. Imagina que tudo pode ser igual ao elástico.

Com efeito,  o elástico é um tipo de tecido com propriedades plásticas que retorna, quase identicamente, à sua feição inicial após ser deformado, esticado ou comprimido. Retorna de modo parecido, mas nunca igual ao que era antes.


E isto porque o simples elastecer já transforma as propriedades da matéria, já corrompe ou afrouxa sua estrutura. Os olhos, erroneamente, imaginam que o elástico retorna da mesma forma ao ponto de partida. Mas nunca acontece assim.

Do mesmo modo acontece com a vida daqueles que a tem como brincadeira, como borracha de esticar e fazer voltar, como objeto para testar sua suportabilidade. Não se contentando em elastecer-se apenas nos momentos de precisão, insistam em brincar, em puxar de lado a outro, em ver até onde a borracha vai.

E toda borracha vai até o instante de se romper. Todo elástico se estende até um determinado limite. Daí em diante é certeza que sua estrutura não suportará e irremediavelmente romperá, quebrará. Algo parecido com a morte, ou não?

Um dia ouvi: Tudo tem início e chegada, começo e fim; a estrada sempre dá em algum lugar; o distante um dia será avistado. Mas um dia eu quis revirar tudo, dilatar a estrada, trazer pra bem perto o que estava distante. Puxando, trazendo, soltando, um dia descuidei. E nunca mais me encontrei ziguezagueando pela vida.

Transformar a vida em feição de elástico é pretender que tudo se irrompa a qualquer instante. Ora, o balão se enche, se arredonda, engrandece, até estourar. A peteca é esticada até onde se pretende que a pedra alcance, senão o arremesso sai descontrolado. O ioiô tem um limite de ir e voltar.

Tudo acontece assim, ou respeitando o limite ou sabendo que perderá o controle. Por consequência, ninguém imagine que a borracha biológica suporta muito tempo em tanto ser esticada, voltada, forçada novamente. Aparentemente forte demais, o corpo é estrutura plástica das mais vulneráveis.

Não precisa ser especialista para entender o seu funcionamento, tanto do corpo como de qualquer matéria elástica. Os demasiados impulsos enfraquecem a estrutura. Quando retorna já está mais frágil; quando puxada novamente não alcançará com segurança a mesma distância que antes. Do contrário se romperá.

Ainda que a vida fosse de ferro exigiria cuidados de manutenção e conservação, e um dia teria o seu fim. O ferro estraga, corrói, enferruja, vai desaparecendo com o tempo. Ainda de objeto resistente que fosse, um diamante inquebrantável, sem cuidados a vida é orvalho ao sol.

Orgânica e biologicamente, a vida possui a flexibilidade adequada para cada situação. É forte, potente, capaz, já demasiadamente elástica na sua normalidade e perante o seu tempo. E perdurará o tempo certo se o homem não se juntar às  adversidades para corroê-la, romper suas forças, dilacerar.


E ela, a vida, existe para ser vivida dentro de limites. Nem ferro nem orvalho, apenas uma estrutura que precisa ser conservada. E torná-la fio elástico, peça de borracha, cordel de látex, sempre significará fragilizá-la para antecipar o seu rompimento, o seu fim.

E a brincadeira acaba de vez no exato momento que a pessoa estava gostando tanto de jogá-la lado a outro, puxando e soltando, fragilizando a si mesmo. E elástico rompido sempre tende a tomar impulso inesperado. Algo assim como a morte.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE. 

Poeta e cronista
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