Por: Rangel Alves da Costa
AMORES
(AINDA) POSSÍVEIS
Num tempo
muito distante, quando as pessoas viverem em estado apenas de suportabilidade
de um para com o outro, as más virtudes prevaleçam sobre a vida em comunhão e o
amor estiver tão banalizado que poucos ainda acreditarão na sua força e poder,
ainda assim será possível amar. E amorosamente amar.
Palavras de um
velho sábio, ditas pelos caminhos passados, quase como uma vidência ao que
aconteceria nos dias atuais. Mas perguntado pelo discípulo como podia falar em
amor como sentimento prevalecente entre dois que se gostam, quando jamais
experimentara um relacionamento amoroso, o velho sábio simplesmente respondeu:
Ora, o amor
não exige conceito, conhecimento, teoria ou prática incessante para ser
compreendido, valorizado, perseguido e efetivamente amado. O amor é feito flor
do campo que lindamente brota nas asperezas da terra. Não precisa ser semeado
intencionalmente, pois germina onde poderá florescer. Olhai a vida por cima da
pedra, o que lindamente nasce quase na impossibilidade.

O amor sempre
será possível naqueles que primeiro conheceram o amor cordial, humano e afetivo
consigo mesmos e perante o próximo. Conhecendo o amor sentimental, aquele que
deve ser presença constante na vida, certamente que as pessoas poderão dar voos
mais altos, procurar cimentar os sentimentos ao lado de outra pessoa
merecedora.
Verdade que
não amei aquele amor do profundamente gostar, do abraço, do beijo, da
intimidade, da relação carnal, mas conheço suas raízes. Ora, meu bom discípulo,
as coisas e os fatos que devem ser e como devem ser não precisam que sejam
vivenciados ou experimentados para ser conhecidos. As formas de amor que falei
são da essência humana, de sua natureza e, portanto, devem ser antecipadamente
conhecidas por todos.
Está escrito
que o amor é sentimento que não pode ser mantido escondido ou negligenciado.
Ninguém pode guardar amor para amar depois. Ou ama o que deve ser amado ou não
conhece o que seja amor, ou ainda está desvirtuando sua serventia. Mas, que se
diga meu bom discípulo, a ninguém é dado o direito de forjar desejos ou sair
por aí, aleatoriamente, fazendo perigosas experiências com seus sentimentos. E
também dos outros.
O amor é
possível toda vez que a pessoa passe a ter consciência que está preparada para
amar. Exige-se tal conhecimento prévio porque ninguém entra numa relação já
sabendo as dimensões do amor sentido. Ora, meu bom discípulo, minha sede não me
permite avidamente debruçar sobre qualquer veio d’água que encontre adiante.
Tudo pode ser muito perigoso sem o conhecimento e o preparo.
Preparando-se
para o amor poderá, a um só tempo, definir o que se adequa ao seu sentimento, o
que pretende encontrar no outro, quais os caminhos a serem percorridos na
construção do relacionamento, antever alguns perigos e armadilhas e como fazer
para evitá-los. Por fim, ter a consciência do que está reservado àqueles que
percorreram com tenacidade os caminhos do fortalecimento da relação. A
eternidade, enquanto durar a vida.
Mas não
imagine, meu bom discípulo, que igualmente todos possam percorrer tais
caminhos. Na estrada todos podem colocar os pés, mas só conseguirão seguir cada
vez mais adiante aqueles que, ainda descalços, souberem o que pretendem na vida
e o que desejam encontrar como prazer da existência. A cada passo da estrada
estarão construindo o futuro e neste certamente estará dar conforto amoroso ao
coração. E assim verão que é preciso amar, e amor que conduz à união entre
dois.

Por isso
mesmo, meu bom discípulo, ainda que nos tempos agora anunciados já estaremos
petrificados sob as encostas dos rochedos, lentamente trazidos como pó pela
ventania da vida, vislumbro a possibilidade da existência do amor. Será
possível encontrar tal sentimento em alguns poucos corações sinceros.
Será um tempo
sombrio, violento, de guerras, ameaças, desumanidades, de devastações, mas
ainda assim haverá lugar para os bons corações. E nestes a semeadura de todo
amor, e até do amor verdadeiro entre dois, pois as raízes que alimentam os
corações serão as mesmas que temos agora. Mas poucos serão os que saberão
encontrá-las.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do
São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e
advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos
Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não
cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das
Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em
"Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes";
contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e
outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia
Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel -
prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão
- Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
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