Por: Rangel Alves da Costa*
A IMENSA
SOLIDÃO HUMANA
Na Bíblia, em
Ezequiel 35-15, está escrito que “enquanto toda a terra estiver em alegria,
farei de ti uma solidão”. Era o Senhor prometendo espalhar o deserto e a
solidão entre os ímpios.
E ímpio
continua o ser humano perante sua existência. Confrontando e afrontando os
ensinamentos, as regras de conduta, as lições de convivência pacífica, vai
trilhando um caminho tão próprio que a outro lugar não chegará senão no deserto
da solidão.
Aliás, desde
muito já repousa nessa distância impiedosamente solitária. Talvez imagine que
só estaria solitário se distante de todos, recluso em pensamentos, ausente da
realidade exterior. Mas não.
Existe outro
tipo de solidão que é vivenciada sem que nenhuma sensação solitária esteja
presente. Não precisa de quarto fechado, de canto de sala, de olhar
distantemente olhando o nada. E nem de distanciamento do mundo. Nada disso
caracteriza esse novo tipo de solidão.

A solidão que
ora se espalha entre todos é vivenciada também entre todos, nas ruas, nos
lares, nos ambientes de trabalho, nos parques de diversões, em todo lugar. E é
uma solidão que se mostra existente todas as vezes que, imaginando poder
compartilhar de determinada realidade, a pessoa se sente incompreendida.
Ora, mas se
tem direito a vez e voz, a participar e opinar, a doar e receber, a achar que
está certo ou errado, seria até incongruência que nada disso seja respeitado
quando chega sua vez de vivenciar uma realidade. Contudo, ocorre que as pessoas
pensam em si mesmas e tanto faz que apenas um pretenda que seja diferente.
A solidão é
imposta pela exclusão, pelo deliberado afastamento do outro, pelo desrespeito,
pela discriminação. A pessoa pode ser importante para si mesma, pode pensar que
tem algum direito a ser reconhecido, pode se achar essencial na vida de
determinada realidade, mas se os seus anseios forem conflitantes com os demais,
indubitavelmente que será relegada ao distanciamento, à solidão.
No trabalho,
basta que a pessoa seja honesta e lute para alcançar reconhecimento que logo
surgirá alguém torcendo pelo pior, denegrindo sua imagem às escondidas,
tramando para vê-la profissionalmente arruinada. A pessoa nem imagina que
ocorra assim, mas está sendo lançada num terrível deserto. E está solitária em
meio a tantos que ainda olham sorridentes e cheios de cumprimentos.
Na família, no
lar, entre parentes também é assim. Todos se dizem unidos, numa grande família,
comemoram os laços de parentescos, mas cada um vai pro seu lado assim que surge
o primeiro conflito de interesses. Tome-se por exemplo os parentes se
engalfinhando por causa de uma herança. Neste momento não há parente que
respeite nem considere o outro. Cada um que se vire, que se lixe, pois o mais
importante é garantir o quinhão.
E não há maior
solidão que em momentos assim. Todos contra todos e cada um sem ninguém.
Somente quando a pessoa sente que já não pode confiar em ninguém, que foi
maltratada por quem confiava, que foi traída por quem acreditava, é que passa a
sentir a solidão em todas as dimensões. E solitariamente continuará porque mais
tarde, ainda que todos mostrem encantamentos e alegrias ao reencontrá-la,
certamente já não mais haverá confiança.
Não poderia
ser diferente. Seja difícil ou não, mas a pessoa tem de saber que, quando
muito, só tem a si mesma. Não adianta acreditar nos outros quando estes, no
primeiro conflito de interesses que houver, não vão pensar duas vezes em
jogá-la do precipício, arruinar a vida, fazer o que for possível para destruir.
Porque tudo é falsidade, mentira, um covarde jogo de interesses pessoais. Em
tudo e em todos.

Ora, se o
mundo, e a vida que nela há, possui joio em meio ao trigo, não se engane que os
maus frutos prevalecerão nos relacionamentos, nas amizades, nos convívios
familiares. Tudo pelo egoísmo, pela vaidade, pela ambição desenfreada, pela
vergonhosa cobiça. E dessa realidade que surge nos erros humanos, outra coisa
não se avista como tenebrosa paisagem: a solidão em cada um.
E em tudo a
imensa solidão porque diante de uma centena de pessoas ninguém pode dizer que
pode encontrar qualquer união. Ao menos uma sequer. O que existe são cem
pessoas solitárias, com cada uma distante da outra – ainda que no mesmo lugar -
e devendo se contentar em acreditar em si mesma.
Poeta e
cronista
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