Por: José Romero Araújo Cardoso(*)
Quem vem do conjunto Vingt Rosado com destino ao núcleo habitacional Geraldo
Melo, localizados na porção leste do município de Mossoró/RN, na rua Teotônio
N. Brito, Alto da Pelônia, não deixa de se impressionar com as condições
subhumanas apresentadas pelas famílias que habitam casas de taipas totalmente
desprovidas da mínima infraestrutura que permita condições dignas de vida para
aqueles que são submetidos aos suplícios e aos infortúnios catalisados pela
ausência de compromisso dos poderes públicos para com a população de baixa
renda.
Intuindo contribuir para edificação eficiente da sociedade, realizamos
diagnóstico socioeconômico das famílias que residem nessas casas de taipa.
A afabilidade e a gentileza dos membros das famílias são marcas registradas do
comportamento do grupo familiar. Entrevistamos, no dia 31 de maio de 2010, os
seguintes chefes de famílias: Sr. Francisco Wanderley Severiano, cuja família é
composta por três pessoas. A Sra. Francisca de Assis de Lima, que mora sozinha.
A Sra. Maria da Conceição de Lima, que sofre de câncer no útero, cuja família é
composta de nove pessoas e o Sr. Gledson Samuel Severiano de Freitas, cuja
família é composta por duas pessoas, estando a esposa grávida do primeiro
filho.
A Sra. Maria da Conceição de Lima nos contou o drama que é realizar sessões de
quimioterapia em Natal. Os serviços prestados pelo SAMU não chegam às
habitações insalubres nas quais as famílias desditadas residem. Quando essa
gentil senhora necessita se deslocar para a capital do Estado é um verdadeiro
suplício, uma odisséia inadmissível, principalmente para quem sofre de uma
doença terrível como o câncer de útero.
São quatro famílias, quatro irmãos, cujas origens estão no Bairro Paredões.
Após a morte da mãe, a herança foi divida entre os filhos. Quatro resolveram
comprar lotes próximos aos conjuntos Vingt Rosado e Geraldo Melo, objetivando
buscar melhores condições de vida, as quais se mostram inexistentes no
presente.
Com base no levantamento quali-quantitativo realizado, apresentamos os
resultados para que a ação dos órgãos públicos se responsabilize em tirar essas
famílias da situação de pobreza crônica em que se encontram.
Condições habitacionais:
Condições habitacionais:
As condições habitacionais são precárias ao extremo, pois as moradias são casa
de taipas, construídas com material pouco resistente, apresentando inúmeras
rachaduras que põe em risco a vida dos moradores. Não há rede de esgoto, nem
água encanada. Devido falta de pagamento, a luz foi cortada, o que torna as
condições de vida ainda mais difíceis. Quando do período de inverno, a situação
fica ainda mais dramática e periclitante, principalmente para as crianças e
para o membro da família que sofre com doença crônica.
Reclamações feitas pelas famílias dizem respeito ao absoluto descaso dos
poderes públicos para com a situação de penúria em que se encontram. As
famílias fizeram o cadastro na Secretaria de Desenvolvimento Territorial e
Ambiental (SEDETEMA), da Prefeitura Municipal de Mossoró, a fim de serem
inseridas em programa de erradicação de aglomerados subnormais, mas nada foi
feito, nenhuma ação pragmática foi realizada no sentido de tirá-los das
condições de extrema pobreza em que se encontram.
Inexiste renda mensal entre as famílias entrevistadas. Nenhum membro está
inserido no mercado de trabalho. Vivem de biscates. Quando aparece trabalho,
algo inconstante, é que surge alguma renda extra que pode suprir ínfima parcela
das infinitas carências apresentadas pelas famílias. O Sr. Francisco Wanderley
Severiano declarou trabalhar como moto-taxista, mas, devido sua religião
Adventista, tem que guardar os sábados, sendo penalizado financeiramente em
razão de sua opção pela fé.
Não há nenhum benefício da assistência social, pois não foi registrada nenhuma
aposentadoria entre os membros das famílias. Programa do governo federal, como
o Bolsa-Escola, se responsabiliza por boa parte dos recursos obtidos a fim de
minimizar a carência aguda apresentada, como o drama da fome. Fome é a
reclamação mais constante, pois não há nada nas casas de taipas para
saciar essa necessidade primária dos seres humanos. As crianças mostram-se
desnutridas, famintas. Os adultos, sem perspectivas nenhuma, exibem as
consequências da ausência de proteínas, mas principalmente os pequenos
inocentes que clamam por comida.
Faixa etária:
O Sr. Francisco Wanderley Severiano conta no presente com a idade de trinta e
três (33) anos, enquanto sua esposa está com trinta e dois (32) anos. O casal
tem um filho de cinco (05) anos. A Sra. Francisca de Assis Leite nos revelou
estar com 46 anos. A Sra. Maria da Conceição de Lima tem 50 anos. Em sua casa
moram as seguintes pessoas: Nicolau Fernandes, que tem 24 anos. Natanael
Fernandes, 21 anos. Nicole Fernanda Lima de Oliveira, 20 anos. Francisco
Florentino de Oliveira, seu esposo, 59 anos. Tainara Kelly Lima Gomes, 05 anos.
Sayonara Jordana Oliveira de Lima, 03 anos. Vitória Taís de Oliveira, 01
ano e o pequeno Thalisson Henrique de Oliveira Sousa, de meses de idade.
Gledson Samuel Severiano de Freitas tem 15 anos e sua esposa, grávida, de nome
Mayra Denise de Oliveira, tem a idade de 16 anos.
Educação:
O Sr. Francisco Wanderley Severiano declarou possuir o segundo grau incompleto,
tendo cursado até o segundo ano do ensino médio. Sua esposa cursou até a quinta
série do ensino fundamental, correspondente hoje ao sexto ano. O filho do casal
está matriculado na Unidade Municipal de Apoio à Criança (Creche) do conjunto
Vingt Rosado. A Sra. Francisca de Assis leite disse ter cursado até o quarto
ano do ensino fundamental, correspondente hoje ao quinto ano, mas que não sabe
nem ler e nem escrever, apenas assina o nome. A Sra. Maria da Conceição de Lima
nos afirmou que não sabe ler e nem escrever. Em sua residência as seguintes
pessoas foram notificadas quanto ao grau de escolaridade: Nicolau Fernandes
cursou até o primeiro ano do ensino médio. Natanael Fernandes cursou até o
quarto ano do ensino fundamental, correspondente ao quinto ano hoje. Nicole
Fernanda Lima de Oliveira tem a quinta série incompleta, do ensino fundamental.
Francisco Florentino de Oliveira cursou até o oitavo ano do ensino fundamental,
mas ficou incompleta. Tainara Kelly Lima Gomes está matriculada na
alfabetização, na Unidade de Apoio à Criança do Conjunto Geraldo Melo. Sayonara
Jordana Oliveira de Lima está matriculada na Unidade de Apoio à Crainaça do
Conjunto Geraldo Melo. Vitória Taís de Oliveira e o pequeno Thalisson
Henrique de Oliveira Sousa ainda não estudam.
Conclusão:
Com base no diagnóstico realizado, constatamos que as condições de vida dessas
famílias são precárias ao extremo. Precisa-se, com urgência, que ações públicas
sejam direcionadas para esse bolsão de miséria apresentado de forma contundente
no entorno dos Conjuntos Geraldo Melo – Vingt Rosado, mas não apenas para a
amostra que nos despertou a atenção, bem como para outras situações de miséria
crônica apresentada nos espaços urbano e rural do município de Mossoró, tendo
em vista que a inexistência de geração de emprego e renda e de uma política
habitacional mais consistente, intercambiadas pelos números apresentados pela
exagerada urbanização mossoroense, a qual extrapola o impressionante percentual
de mais de noventa por cento da população total, criam condições que propiciam
o surgimento da pobreza extrema em áreas desprovidas de ações públicas neste
município.
(*) José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e
em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato:
romero.cardoso@gmail.com.
Endereço residencial: Rua Raimundo Guilherme 117 – Quadra 34 – Lote 32 –
Conjunto Vingt Rosado – Mossoró – RN – CEP: 59.626-630 – Fone: 084-3312-0239.
Enviado pelo autor: José Romero Araújo Cardoso
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