quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

OUTRAS FORMAS DE DIZER “TE AMO” (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

OUTRAS FORMAS DE DIZER “TE AMO”

Por enquanto, esqueça a palavra. Não precisa ter a poesia na ponta da língua; não necessita ensaiar palavras bonitas.
Pequenos gestos, simples atitudes e sinceros acenos do coração fazem o mesmo – ou até mais – efeito do que o dizer “te amo”.
Conte um segredo de vento. Presenteei com uma concha do mar, ainda que seja pequenina.
As flores são palavras, melodias e versos de amor. Não há quem não se encante ao receber uma cor de jardim ou mesmo flores do campo.


Não precisa ser um grande bardo, um poeta de reconhecida inspiração para escrever a doce poesia do coração. Um versinho simples faz sempre mais efeito do que entregar um Shakespeare inteiro.

Queira ver como ela fica contente, como os olhos brilhando ao morder a fruta da estação. Uma goiaba madura, uma manga olorosa, oferecida assim ao abrir a porta, é certeza de amoroso agradecimento.

Que tal fazê-la sentir um pouquinho de saudade? E também que tal reconhecer que seria tão difícil viver sentindo saudade dela?

Chegue de mansinho e inesperadamente diga que esqueceu a cesta de presentes que havia preparado para oferecê-la. E por isso tem medo que o sol, a lua e o arco-íris vão embora sem que a dona os receba.

Um pequeno souvenir faz enorme efeito no coração; a singeleza de um objeto artesanal demonstra o quanto singelo é o amor que sente; uma feição se encanta diante da mão que entrega a mais inesperada lembrancinha.

De mãos dadas, vão cortando estrada até encontrar uma árvore. No tronco, cuidadosamente, risque um coração e depois coloque no meio dois nomes. E prometa reavivá-los a cada nova estação.

Os álbuns antigos, da infância e da meninice, produzem efeito sentimental incomparável quando folheados e recordados a dois. Cada um vai comparando a beleza que o outro era com a formosura que está ali.

Ela precisa sentir o fascínio de um abraço muito mais apertado do que geralmente é dado. E tão unido ao corpo que o outro imagine um adormecimento no seu leito, e no sono o sonho realizável do amor.

A montanha, o monte, a relva, os campos floridos, as estradas do entardecer. No silêncio da natureza, no toque das mãos, no abraço dos corpos, sempre haverá um sublime agradecimento pela existência dos dois
.
Não tenha medo de gripar nem de ser acometido por um leve resfriado. Mas quando a chuva cair faça com que ela o aviste todo molhado debaixo de sua janela. E tenha na mão uma flor. Ainda que encharcada, tenha na mão uma flor.

Aquela música antiga que ela tanto adora e cantarola de vez em quando, aquele livro famoso que ela recorda sempre, aquilo que ela sente tanta saudade e acha difícil de encontrar. Que tal fazer uma belíssima surpresa?


Existem situações que superam todas as palavras de amor que possam ser ditas. O seu olhar é tão apaixonado quanto ela imagina que é; o calor em cada toque é a temperatura do desejo e da satisfação; o modo como chega ou parte dizem se quer chegar ou partir.

Esqueça, propositalmente, sua agenda na casa dela. Certamente ela irá folhear até encontrar, perdido em meio a uma folha inocente, uma frase dizendo assim: O amor tem nome. E escreva o nome dela. E mais adiante: E logo darei um sobrenome.

Descubra outras formas de demonstrar amor. Invente uma verdade maior que palavras. E terá o universo no grão semeado.

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE. 

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com


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