Por: Rangel Alves da Costa(*)
O
OUTRO LADO DA LUA
Como afirma
Mark Twain, cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a
ninguém. E quem se oculta no outro lado da lua jamais avista o que acontece na
terra, adiante, na rua.
Seria também
correto afirmar que cada pessoa sempre quer ser vista como uma lua bonita,
cheia, dourada, radiante, derramando graça diante de todos. Imagina-se sempre
lua cheia, e ainda que a maior parte de sua face esteja escurecida.
Mas será na
comparação entre as faces da lua e as faces humanas, incluindo-se aí as fases
de mais ou menos brilho, de sombreamento ou escuridão, que será mais fácil
demonstrar essa propensão humana em querer revelar somente
o lado que brilha.
A face escura
da lua se apresenta conforme o ângulo pela qual ela é vista. Na conjunção com o
sol, a face escura está totalmente visível. É lua nova e tudo está escurecido.
Na lua cheia a face mostra-se totalmente iluminada.
Por sua vez, a
face iluminada da lua é aquela voltada para o sol. E a fase da lua diz respeito
o quanto dessa face iluminada pelo sol está voltado também para a terra. Assim,
nenhuma face iluminada na lua nova; vestígios de luz na lua crescente; toda
resplandecente na lua cheia; perdendo a luz ou decrescendo no quarto minguante.
Mas as fases
da lua se modificam constantemente, diariamente. Se a cada momento o sol a
ilumina sob um ângulo diferente, do mesmo modo ocorre com suas fases e o poder
de luz que recai na sua face. Assim, a luz da lua está em constante
transformação. E nada diferente no ser humano.
Reafirme-se
que nas pessoas é assim também. Ninguém pode se mostrar permanente como
lua nova, toda sombreada, nem como lua cheia, completamente tomada de fulgor e
claridade. Mesmo imperceptivelmente as situações vão se modificando a cada
instante, para mais vivacidade ou sombreamento.
Tais feições
em constante transformação, contudo, ou são negadas pelas pessoas ou estas tudo
fazem para fingir que não estão imunes a mudanças repentinas, e muitas vezes
com radicais transformações. A única preocupação do ser humana é mostrar-se
sempre lua cheia, radiante, esplendorosa.
E são tais
mudanças que interferem nos temperamentos, nas incidências de raivas e atritos,
arrogâncias e gestos impensados; no surgimento de sensações de tristeza,
angústia, melancolia; no distanciamento ou negação da realidade; nos momentos
difíceis de serem administrados pela feição que a todo custo quer mostrar outra
imagem.
Ora, sendo lua
o ser humano, e sendo tão próprio de cada um querer-se mostrar tão belo,
poético, tão encantador, outra coisa não faz senão esconder, forçar que se
torne invisível em si, tudo que mostre uma face mais realista. E a realidade
nem sempre é tão lua cheia quanto se deseja.
Eis que o sol
que ilumina uma face - a face da lua humana - deixa sempre à mostra aquilo que
a pessoa tenta esconder. A alegria é desmentida pela feição entristecida, a
felicidade é negada no olhar que vagueia em busca de significados, a perfeição
é contradita pelas máculas que são tantas.
Assim, por
mais que a pessoa tente negar, esconder, colocar atrás de cortinas do ser e dos
sentimentos, jamais se mostrará somente no seu lado perfeito de lua. Ademais,
por mais brilho que tenha ou tente impor aos olhos dos outros, logo a falsa
luminescência se verá visitada pelos sinais, pequenas sombras que vão se
instalando na verdadeira feição.
Seria
demasiadamente artificial e até inconcebível que o ser humano, tentando
ostentar sempre uma lua cheia diante de si, esconda sempre ou por tanto tempo a
lua nova que na mesma proporção carrega. O mesmo ser da alegria é o da
tristeza, o mesmo homem que se diz indestrutível se ajoelha em prantos. Não há
como fugir, ou fingir, da realidade sem maquiagens ou acobertamentos. E,
irrefutável verdade, toda luz se apaga.
No homem,
portanto, nem tanta noite nem tanto dia, nem somente lua nova ou lua cheia, mas
apenas o momento do viver. Portanto, não adianta esconder as sombras que
carrega em si, pois é na luz demonstrada que estas aparecem. E às vezes com
terríveis feições.
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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