terça-feira, 15 de janeiro de 2013

DIA DE CORNO


Por: Clerisvaldo B. Chagas, 15 de janeiro de 2013. Crônica Nº 947
 

DIA DE CORNO

(Do romance inédito “Fazenda Lajeado”)

(...) Calixto saiu constrangido, mas foi embora dali. Montou e saiu da cidade.

Ora, além dos pensamentos que lhes furavam no caminho, encontrou mais problemas na fazenda. Mal chegou à casa-grande, Mocinha veio ao seu encontro:

— Seu Calixto, quero dizer ao senhor que o cabra João Dedé quis me forçar quando fui para o açude lavar roupa.

— O quê?! Não é possível uma coisa dessas, homem. Ô Bala Verde! Chame para mim o João Dedé, agora mesmo.
     
Bala Verde foi e voltou quase no mesmo segundo:
     
— Ele disse que vem já, padrinho. E que se o senhor tiver avexado que vá lá.
     
— Ah, é? Pois eu vou.
     
Verano botou o cavalo rumo ao açude, todo mundo foi atrás.
     
Ali estava o capanga amolando uma faca nas pedras das lavadeiras.
     
— João Dedé!  — falou forte Calixto — Agora cabra velho, já esborratou o copo. A primeira vez você roubou odinheiro, a sela e o rifle do novato.  Depois botou Gonga para correr. A terceira andou rodeando Dadá. Mas antes deu uma pisa num caboclo lá no povoado, sem ordem minha, estou sabendo. Certa vez quis bater em Bala Verde e agora quer pegar a pulso a mulher alheia. Ela lhe deu liberdade? Olhe, João Dedé, eu estou com você por aqui, entendeu —  e botou o dedo indicador horizontalmente no pescoço.
     
João Dedé inchou como sapo cururu. Ali estava todo o pessoal da fazenda. Mocinha aguardava providências, rifle na mão. Benedito espiava por baixo.
     
— Peste! — pronunciou o cabra, entredentes.
     
Calixto prosseguiu do lombo do cavalo:
     
— Não adianta bufar, João Dedé! Sei que você é um dos homens mais valentes do Pernambuco, está certo e eu até reconheço sua valentia, mas não se meta a brabo comigo não João Dedé, que eu sou mole que nem cocô de batata, mas hoje o diabo está comigo. Dez homens de sua qualidade, nesse momento, não me botam abaixo. Está aqui o seu dinheiro, duas vezes o que lhe pago. E agora se ponha daqui para fora que eu não gosto de gente podre na minha fazenda, não.
     
Apolônio estava ali perto, placidamente de cócoras, rifle entre as pernas, olho nos cabras...
     
João Dedé demorou muito a pegar o dinheiro, mas antes guardou a faca na bainha. Não respondeu uma só palavra. Foi procurar o cavalo e antes de trinta minutos deixou a fazenda sem olhar para trás. Levou os seus pertences, inclusive as selas roubadas.
    
Calixto voltou-se para o outro capanga:
    
— Sei que ele era seu amigo, Faustino, mas você nunca me deu trabalho. Vai com ele ou fica?
     
— Só saio daqui, Seu Calixto, quando o senhor me mandar embora ou não precisar mais de mim. João não era meu amigo, era um colega de trabaio; e falta de conseio não foi.
     
— Pois então vamos cuidar na vida.
     
O pessoal dispersou. Calixto ficou sozinho e foi para a mata curtir as últimas frustrações; deitou-se por cima das folhas secas e trancou-se com a chave da amargura. Os macacos aproximaram-se. Um bem-te-vi cantava no olho da jurema-branca e, lá de longe, do fundo da mata, vinham os arrulhos da rolinha-caldo-de-feijão: uuuuur... Uuuuur...


CLERISVALDO B. CHAGAS – AUTOBIOGRAFIA
ROMANCISTA – CRONISTA – HISTORIADOR - POETA

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA - Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei. 
Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º  teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.
Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).


Até setembro de 2009, o autor tentava publicar as seguintes obras inéditas: Ipanema, um Rio Macho (paradidático); Deuses de Mandacaru (romance); Fazenda Lajeado (romance); O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema(história); Colibris do Camoxinga - poesia selvagem (poesia).

Atualmente (2009), o escritor romancista Clerisvaldo B. Chagas também escreve crônicas diariamente para o seu Blog no portal sertanejo Santana Oxente, onde estão detalhes biográficos e apresentações do seu trabalho.

(Clerisvaldo B. Chagas – Autobiografia)

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2013/01/dia-de-corno_14.html


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