(*) José
Romero Araújo Cardoso
Forrageira
nativa do semiárido nordestino, encontrada em todos os Estados da região, a
favela (Cnidoscolus phyllacanthus (Muell. Arg.) Pax. Et K. Hoffman) é um
arbusto de grande porte da família das Euphorbiaceae bastante consumido pelo
animais, sobretudo quando das grandes secas.
Seus espinhos
urticantes e o látex que exsudam quando os galhos são cortados, consistem nas
características botânicas mais proeminentes apresentadas por esta planta das
caatingas.
Quando da
guerra de Canudos, tropas do Exército Brasileiro concentraram-se no Morro da
Favela, o qual tinha essa denominação devido a profusão impressionante dessa
espécie vegetal bastante comum na região onde se desenrolavam os conflitos no
sertão baiano.
Diversos
soldados do contingente carioca que regressara após concluído o massacre do
aldeamento místico erguido sobre a ênfase das pregações carismáticas de Antônio
“Conselheiro”, devido razões econômicas, pois deixaram de receber o soldo
mensal e não puderam mais custear a permanência nas antigas habitações que
ocupavam antes do conflito sertanejo, começaram a ocupar o Morro da Providencia,
localizado atrás da Estação Ferroviária Central do Brasil, no centro da cidade do Rio de Janeiro.
Alguns
militares, veteranos da campanha de Canudos, trouxeram sementes da planta do
semiárido nordestino, a qual foi introduzida com sucesso no solo árido
existente nas adjacências do Morro da Providência.
Houve impressionante
expansão das faveleiras pela encosta do morro, dando ênfase para que houvesse
correlação com o acidente geográfico no qual se estabeleceram no sertão baiano,
pois à semelhança com o morro da favela imperava no lugar a ausência de
infraestrutura que permitisse mínima condição de existência para os moradores
que se instalaram na Providência.
Discussões
constantes, contendas por motivos fúteis e banais, integravam de forma
indelével a paisagem no Morro da Providência, referendando ainda mais a decisão
dos moradores em denominar de “Favela” o local onde construíram suas moradias
insalubres.
Com a intensificação
da campanha sanitarista levada avante pela equipe comandada pelo médico Oswaldo
Cruz, cujo combate ao mosquito Aedes Aegypti, transmissor de doenças tropicais
como a febre amarela e a dengue, as quais transformavam o Rio de Janeiro no
calvário de estrangeiros e nativos, fomentou a vacinação obrigatória da
população e o desalojamento dos habitantes dos cortiços, bem como a destruição
destes, localizados em áreas atualmente hipervalorizadas, como a Avenida Vieira
Souto.
A população de
baixíssima renda, sem condições de ocupar outros espaços urbanos que não fossem
os morros, começaram a seguir os passos dos militares cariocas que retornaram
de Canudos.
Houve
exponencial formação de aglomerados subnormais que passaram a ser denominados
de “Favelas”, o que popularizou extraordinariamente o topônimo na geografia
urbana brasileira.
Ainda marcadas
pela ineficiência ou mesmo ausência da ação do Estado em prol da melhoria das
condições de vida da população, as “Favelas” brasileiras revelam indicadores
sociais e econômicos que atestam as diferenças interclasses que caracterizam a
sociedade desde os primórdios da colonização, pois a preponderância de negros e
mestiços instiga reflexão de que as mesmas constituem a reedição das antigas
senzalas de outrora.
(*) José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.
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