Por: Rangel Alves da Costa(*)
ABSURDOS
Seria absurdo,
verdadeira aberração, não conhecer o conceito de absurdo. Contudo, o
desconhecimento do que o termo significa até que pode ser perdoado,
diferentemente do que ocorre com a falta de sensibilidade, a apreciação íntima,
que leva ao seu cometimento.
Por outras
palavras, pode-se eximir a culpa de quem não conheça, teoricamente, o que seja
absurdo. Contudo, jamais deverá ser perdoado aquele cujas práticas são
absurdas, até mesmo porque impossível alguém, em consciente estado mental, não
reflita sobre suas ações, sobre as boas e más atitudes.
Verdade é que
para muitos o reconhecimento do erro só vem quando os outros criticam a ação
errada. Mas também existem aqueles que sabem que agiram erroneamente e ainda
assim continuam como de sentimentos petrificados, não se reconhecendo
censuráveis de jeito nenhum.
E é por causa
dos insensatos, das ignorâncias e das irresponsabilidades que os absurdos vão
sendo cometidos desatinadamente. Nesse passo, a sociedade vai sendo vítima dos
despropósitos, das aberrações, dos disparates, dos equívocos de tal monta que o
espanto se assoma daqueles que ainda fazem uso da razão.
Absurdo é isso
mesmo, é a besteira contumaz, é a ação incoerente com toda lógica da vida.
Absurdo é o que está eivado de falta de bom senso, de lógica; é o que contraria
os modelos socialmente aceitáveis; é tudo aquilo que, propositalmente, foge a
regras e condições estabelecidas.
Já disse o
sábio que a absurdez não é aceitável nem naqueles ditos irracionais. Os bichos,
quando muito, cometem os imperdoáveis enganos de se aproximarem dos homens. E
aos olhos dos que não foram vitimados sempre haverá a noção do grande erro: o
absurdo instinto do presa na absurda crença nas qualidades humanas.
A filosofia
trata o absurdo como característico do homem em pleno estado de ignorância.
Erra pelo não conhecimento, comete equívoco pela não absorção da realidade, se
desvia do óbvio por não conhecer o caminho. Pedra bruta, precisa ser cinzelada
para não continuar pontiaguda e ferindo quem encontrar pela frente.
Contudo, não
há lugar para reincidência. Conhecendo a realidade e trilhando-a erroneamente,
surge a comprovação de que o ser humano nunca está plenamente desenvolvido.
Pelo contrário, vai aperfeiçoando suas fraquezas, fragilidades, corrompendo o
seu instinto e procurando corroer o que frutifica ao redor.
O Führer
talvez tenha sido o senhor dos absurdos. Contudo, não era insano, não era
psicopata nem tomado por qualquer anomalia mental. Sua maldade era intencional,
premeditada, pensada e repensada, objetivando aniquilar raças e submeter povos
à custa do lento extermínio ou da morte imediata. Aí o absurdo: vitimar
inocentes para satisfazer o ego.
Cometem
absurdos todos os governantes que pretendem ter o mundo a seus pés. Napoleão
não via fronteiras adiante, tudo parecia fácil demais de ser conquistado. E
morreu numa ilha, solitário. As hordas viking e mongol, absurdamente violentas
e devastadoras, não conseguiram sobreviver além daqueles instantes de tenebrosa
fúria.
Quantos
absurdos já praticaram reis, imperadores, homens poderosos, e tudo depois de
experimentar o vinho ou lançar o olhar em direção aos olhos misteriosos da bela
cortesã? No vinho a loucura, a sanha, o descomedimento. Que o digam Nero e
Calígula.
E na paixão a
punhalada, a traição, o abandono de seu império pelos braços da víbora sutil.
Não que amar fosse absurdo, mas sim esquecer a coroa diante do festim do corpo,
não atentar para a máxima dizendo que um trono se desfaz na promessa de uma
bela mulher. E depois do cálice, do corpo esquecido, a cortesã faz o inimigo
entrar nos aposentos. E acabou um império.

Ícaro cometeu
verdadeiro absurdo ao se aproximar do sol e confiar na cera prendendo suas
asas. Pandora incorreu em inquestionável absurdo ao se mostrar tão curiosa. Que
deixasse a caixa fechada e as maldades não estariam tão espalhadas tanto pelo
mundo. Prometeu e seu maior absurdo. Desafio o Olimpo e roubou o fogo dos
deuses para entregá-lo aos homens. E será também absurdo que sofra tanto tendo
o fígado continuamente devorado pela águia no alto daquele penhasco?
Mas o meu
maior absurdo é diferente de todos os demais. Não vejo mais nada com absurdez.
A não ser quando encontro um instante de paz, de sossego, de felicidade. E
pensar que fui tão feliz. Que absurdo!
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário