Por: Rangel Alves da Costa(*)
UM
CAFEZINHO
Um cafezinho?
Ora, aceito sim, mas só se for para ser bebericado na sua companhia, pois,
acredite amigo, não via a hora de esse momento chegar para abrir o baú que
andava me atormentando o juízo.
Não, quero
açúcar não. Café só fumaçando na xícara pequena, sem açúcar, adoçante ou
qualquer coisa que lhe tire o gosto e o aroma. Também não quero biscoitos,
nada, apenas sorvê-lo com a palavra que tenho à boca e o prazer indescritível
desse momento.
Pois bem
amigo, andei pensando muito sobre aquela história. Uma história dessas jamais
iria sair assim do meu pensamento. Verdade é que não acreditando mais no que
diziam, acabei indo até lá para ver com meus próprios olhos e acabar com todo
aquele disse-me-disse.

E sabe o que
encontrei? Acredite se quiser, mas ainda tem gente vivendo pelos escondidos do
sertão que nunca, em qualquer momento da vida, colocou os pés além da cancela.
Quer dizer, nunca conheceu outra casa, não sabe o que é rua, muito menos
cidade. Se falar, haverá de pensar que loja é bicho, escola é coisa do outro
mundo, igreja é assombração.
À moda dos
últimos índios embrenhados na selva e ainda imunes às nefastas ações dos
visitantes, se comportam de tal modo que não é possível precisar bem se estamos
na presença de uma criança ou de um adulto. De reconhecida inocência, ou fica
de rosto fechado, em silêncio profundo, ou esboçando um sorriso meio sem jeito.
Ainda há gente assim, compadre, e pode acreditar.
Outra coisa
que me cafinfou por muito tempo diz respeito aos seres de outros planetas, os
tais extraterrestres, que dizem viver entre nós. Digo logo que acredito
plenamente que isto seja verdade. Se alguém me falasse sobre eles há algum
tempo atrás juro que tomaria na pilhéria, na brincadeira de mau gosto. Mas
agora não posso mais duvidar.
Não falo
bobagem não, compadre, nem pense em conversa fiada de minha parte. A televisão
mostra muito sobre isso, porém nada igual como a gente ver com nossos próprios
olhos. Era noite já tomada de escuridão, mas ainda assim avistei um vulto
descendo num pulo da goiabeira da casa da vizinha. Coisa tão rápida que parecia
um gato.
Gato ou outro
bicho, mas ao cair no chão ficou de quatro por alguns instantes, e como que
farejando. Num segundo depois já ficou de pé feito gente e se encaminhando
sorrateiramente para a porta dos fundos da casa. Ora, se a porta só vive
fechada, ele só pode tê-la ultrapassado pela madeira mesmo, sem precisar
empurrar ou abrir.
Depois comecei
a ouvir um barulho estranho e logo temi pela sorte da vizinha, principalmente
porque o marido ainda estava trabalhando àquela hora da noite. Corri até lá e
estranhamente encontrei a porta apenas encostada. Ouvindo o barulho cada vez
mais perto, uma gemedeira danada, então logo gritei pelo nome da coitadinha. A
gemedeira parou no mesmo instante, mas ouvi outro barulho como se fosse de uma
janela se abrindo e alguém pulando dela.
Desesperado,
temendo pelo pior, apressadamente entrei no quarto e encontrei uma cena
esquisita. Eis que a vizinha estava quase pelada, esparramada em cima da cama,
toda suada, com o cabelo desengonçado, e respirando com dificuldade conseguia
apenas apontar pra janela. Corri para preparar um copo de garapa e quando
voltei encontrei-a na mesma posição, só que completamente nua.

E ainda
parecendo transtornada começou a me agradecer por tudo na vida. E disse que se
não fosse a minha chegada ela certamente teria sido abduzida por um ser
estranho de outro planeta, um extraterrestre musculoso que fugiu pela janela
assim que sentiu a minha presença ali. E a coitadinha estava tão assustada que
me pediu para ficar ali ao lado dela por mais alguns instantes.
Tenho certeza
que o compadre vai me perguntar se fiquei, não é mesmo? Não compadre, fiquei
não. Que ninguém saiba, que fique só aqui entre a gente, mas a verdade é que
também tenho um medo danado dessa gente desconhecida, de gente de outro
planeta. Esse povo é muito perigoso. Juro que não consigo esquecer a gemedeira
da pobrezinha. Deus me livre!
Mas se não for
muito trabalhoso vou aceitar mais um cafezinho, pode ser? Pois bem. Então vou
contar a história do padre que pegou o coroinha por cima da beata na sacristia.
Coitado do prometido. Morreu nos braços da amante. Crime passional cometido
pelo vigário, pois era apaixonado pelo rapazinho. Mas não fica só nisso não...
Biografia do autor:
(*) Meu nome é
Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no
município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito
na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também
História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou
autor dos eguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e
"Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas
Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em
"Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros
contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e
"Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada
sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão -
Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do
Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor:
Av. Carlos Bulamarqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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