Por: Rangel Alves da Costa(*)
NUVEM NO AR,
HOMEM NO CHÃO
Não conheço um
só relato afirmando que o homem sempre entregue aos devaneios sonhadores tenha
alcançado seus objetivos sem suor e sacrifício.
Não conheço
nenhuma história dizendo que as ilusões e quimeras foram suficientes para o
homem alçar-se do chão e alcançar a felicidade noutras distâncias que não a
terrena.
Não conheço
nada apontando que o sonho, a ilusão e a fantasia sejam os ambientes mais
propícios para que o ser humano estabeleça aí os alicerces da subsistência e da
sobrevivência.

Não conheço
quem bata ponto na estrelas, faça feira na lua, pague contas na galáxia, vá
curar enfermidades no leito do sol, vá bater à porta do cometa para ser
recebido por alguém.
Também não
conheço quem não beba da água que cai, que não se alimente do fruto da terra,
que não vista do algodão da florada, que não pranteie seu parente abaixo do
chão, que não vá para o mesmo lugar.
Os voos
espaciais são passageiros, os astronautas vão e retornam, a estação espacial
tem prazo de existência, os aviões possuem curso e percurso, os balões chegam
ao alto e depois descem, os satélites lançados se deterioram e espatifam.
Marte é uma
fotografia, um desenho, uma ideia tridimensional; a dança dos astros, o
nascimento e morte das estrelas, a descoberta de novos planetas, tudo não passa
de teoria; buraco negro como ideia fenômeno que assombra pelo desconhecimento.
Até as nuvens
que passeiam acima, visíveis a olho nu, apenas instigam a imaginação humana. Os
olhos passeiam com elas, vagueiam no seu percurso, imaginam estar dentro delas,
mas apenas pelo desejo de vivenciar o desconhecido.
Mas o homem
não pode dizer que desconhece o chão onde pisa, a terra onde vive, a sua
realidade. Mas esta realidade é assim tão angustiante, dolorosa, penosa demais,
que será preciso viver de ilusões estelares para aplacar seus
descontentamentos?
Por mais que o
indivíduo se contraponha à realidade, não há como fugir da vivência do mundo, e
este mundo presente no olhar, no tocar, no pisar, no sentir, no ferir, e até no
fazer amar.
Por mais que o
indivíduo renegue sua condição terrena, jamais conseguirá afastar de sua
realidade os seus vizinhos na terra, a natureza ao redor, os outros que passam
tramando, as pessoas que passam amando.
Por mais que o
indivíduo se feche em redoma, resolva entrar no silencioso porão ou
simplesmente fingir que não está nem aí para o que aconteça adiante, ainda
assim não poderá fugir de sua condição existencial, de sua condição terrena.
É até louvável
que se pretenda alcançar o que antes nenhum homem conseguiu fazer, que foi
fugir de vez da realidade terrena para viver de sonhos e ilusões, vagando por
outros mundos como um ser de ficção científica. Mas terá isto como eternidade?

É até
aceitável que determinado ser humano - como fuga do caos terreno existente -
viva imaginando que pelos ares seria bem melhor de se viver, que na lua teria
melhor acolhida, que o solo solar lhe reservaria oásis e paz. Mas seria
realizável?
Já disse o
velho sábio que estrada foi feita para se andar, caminho para ser percorrido,
distância para se alcançar. Mas não disse o velho sábio que tudo isso seria
melhor resolvido ou alcançado no pensamento.
Se a vida na
terra é tão difícil assim, então que se procure transformar a forma de viver
para suportá-la. Mas ninguém transforma a realidade senão a partir da própria
realidade, adequando-a ao que deseja como mais útil e proveitoso.
Que o sonho
persista, que o voo seja tão desejado, que o passeio na nuvem se torne
realidade. Mas é preciso ter cuidado com os limites. Nenhum passo acima da
mente sem que os pés continuem no chão.
(*)Poeta e
cronista
e-mail:
rac3478@hotmail.com
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