Por: Rangel Alves da Costa(*)
NO
CAMINHO, COM MAIAKOVSKI: OS FATOS E AS CONSEQUÊNCIAS
O que são
fatos? Fatos são coisas, ações ou acontecimentos; ocorrências, eventos ou
circunstâncias. E o que são consequências? Além de serem os reflexos dos fatos,
são também os resultados de alguma coisa, os seus efeitos e os seus alcances.
Pois bem. Muitas
vezes os fatos são tão patentes, visíveis e analisáveis, que ninguém, ao menos
agindo na normalidade humana, poderia deixar de conhecê-los e até
compreendê-los. E isto para mais tarde não se deparar com consequências
desagradáveis, chorando o leite derramado quando percebeu a panela fervendo. E
nada fez...

Mas por que
dizer isso, quando aparentemente do conhecimento de todos? Ledo engano. Pode
até ser que seja do conhecimento de todos, mas eis que surge sempre o problema
da cegueira social, do ver e deixar pra lá, do não querer acreditar ou
enfrentar a realidade até que a bomba estoure.
Ora, são
inúmeros os exemplos onde somente quando os fatos tomam proporções
incontroláveis, cujas consequências já são as mais danosas possíveis, que as
pessoas querem voltar no tempo para remediá-los na raiz. Entretanto, quando já
é tarde demais. Daí valer a velha e verdadeira máxima dizendo que seguro morreu
de velho.
Permitirei uma
ilustração poética. Os contornos dos fatos e das consequências podem ser
observados no poema “No caminho, com Maiakovski”, do poeta niteroiense Eduardo
Alves da Costa (com o mesmo sobrenome do meu, mas infelizmente sem linhagem
familiar), cujo excerto diz o seguinte:
"[...]
Na primeira
noite eles se aproximam
e roubam uma
flor
do nosso
jardim.
E não dizemos
nada.
Na segunda
noite, já não se escondem;
pisam as
flores,
matam nosso
cão,
e não dizemos
nada.
Até que um
dia,
o mais frágil
deles
entra sozinho
em nossa casa,
rouba-nos a
luz, e,
conhecendo
nosso medo,
arranca-nos a
voz da garganta.
E já não
podemos dizer nada.
[...]"
No poema, onde
estarão os fatos? Logicamente que a aproximação, o roubo da flor, o pisar as
flores, matar o cão, entrar sozinho na casa, roubar a luz e arrancar a voz da
garganta. E as consequências, onde estão os efeitos e alcances? Estão na
passividade desde o primeiro momento que tomaram conhecimento dos fatos, na
continuidade da aceitação e, finalmente, na normalidade com que tudo
infelizmente se torna.
Ora, se não
digo nada quando entram no meu jardim e roubam uma flor; e também prefiro calar
quando entram pela segunda vez para pisar as flores e matar o cão; e ainda
silencio de vez, sinalizando aceitação, quando mais uma vez entra qualquer um,
mas não mais no jardim, e sim na casa, e destrói o restante que encontra, então
plantei para colher tais consequências.

Contudo, há no
poema consequências maiores da inação, da passividade e da fragilidade que não
apenas no entrar no jardim, destruir o que quiser, e depois na casa, para
desfazer o que resta de esperanças. A impotência do homem, a sua submissão, a
sua covardia e sua falta de senso de irresignação são as consequências maiores.
E no poema um
alerta: O mal deve ser cortado pela raiz. Se deixar que tudo, por ser
aparentemente um nada, vá simplesmente acontecendo, mais tarde, quando o frágil
mostrar suas garras, já será muito difícil de combatê-lo.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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