quinta-feira, 30 de junho de 2011

Do teatro de bonecos ao mundo da arte fantástica de Fábio Eduardo


Foto e texto: Alexandro Gurgel

           Em cenas bucólicas, podemos ver um carro de boi carregado da cana-de-açúcar, um pasto florido da última invernada e um vaqueiro em primeiro plano, mostrando os detalhes do gibão pelas costuras no couro; a indumentária do Boi de Reis em movimento, refletindo nuanças pelos espelhos que explode luz nas tiras de sedas dos galantes; meninos soltando pipa na beira de uma praia distante e o colorido dos papeis de seda, estampado nas pipas; o azul do mar, a vila de pescadores... Todas essas imagens, impregnadas de lirismo, são frutos da arte fantástica que está representada nos quadros do artista plástico natalense Fábio Eduardo.
           Quem vê a qualidade das pinturas de Fábio Eduardo, não imagina que o artista começou ainda no jardim de infância do Padre Thiago, no bairro de Igapó, onde despertou sua veia artística quando coloria as capas das provas e trabalhos escolares. Durante as primeiras letras, as professoras perceberam o talento do jovem Fábio e começaram a incentivar o talento com cadernos de desenho, material para colorir e outros mimos.
          Hoje, aos 35 anos, Fábio Eduardo lembra como começou sua carreira artística, quando aos nove anos, fazendo o primário, recebeu um convite para participar de um concurso “Mural Cidade da Criança”, em 1979. Na escola estadual Ary Parreiras, no Alecrim, através da disciplina “Educação para o trabalho”, aprendeu a fazer talha em madeira, pintura em vidro, em azulejo, em tecido, entre outras atividades artísticas.
           Vendo um caminho lucrativo com sua arte, começou a fazer pinturas em camisas e vender na escola. Observando o talento de Fábio, um amigo o chamou para trabalhar numa serigrafia, fazendo arte final para estampas de camisetas com motivos marinhos: praia, sol, surf, garotas, ondas...
            Na sua adolescência, entre o intervalo intelectual na escola Augusto Severo, o jovem artista-surfista gostava de deslizar nas ondas da Praia dos Artistas com sua prancha parafinada. Na Rua Campos Sales, descobriu o “Atelier Central” que viria a mudar sua vida. Fábio começou a estudar arte e desenvolver seu talento tendo como primeiros mestres João Natal, Jayr Peny, Alcides Sales, Luís Élson e Jomar Jackson.
           De acordo com Eduardo, a identidade maior pela pintura foi despertada quando passou a freqüentar o atelier pessoal do artista Jayr Penyr, em Mirassol, onde aprendeu as primeiras pinceladas profissionais.
            A partir de 1987, participou de salões de arte e concursos como uma forma de mostrar seu trabalho para a crítica especializada. Montou um atelier no bairro Passo da Pátria, formando um grupo de arte chamado “Passo a passo”, onde também participavam o artista plástico Luiz Anísio, o fotógrafo Adrovando Claro, o artista plástico Jaelson Júlio, o poeta João Andrade e o poeta Alexandre Tavares.
          Entre outros trabalhos, o grupo fez uma série de exposições coletivas itinerantes, cujo título era “Papel e Tela”, onde havia a junção de artes plásticas e literatura. O grupo chegou a fazer uma exposição no Museu Assis Chateaubriant, em Campina Grande. Em Natal, o Passo a Passo mostrou seus trabalhos na Galeria Criare, Galeria Newton Navarro, Fundação Hélio Galvão, entre outros locais.
          No inicio dos anos 90, na procura de novas perspectivas, Fábio Eduardo encontrou acolhimento para sua carreira “solo” na “Oficina Viva”, do designer e artista plástico Venâncio Pinheiro, onde teve incentivo para fazer sua primeira exposição individual intitulada “Corpo e Movimento”, na galeria de arte da Biblioteca Câmara Cascudo.
          Apresentando as obras de Fábio Eduardo entre as pessoas de sua influência, Venâncio Pinheiro abriu portas para o mercado das belas artes natalenses, através de Chico Miséria, na Gleria Hombre.
          Naquela época, Fábio conheceu o marchand Isaac, na “Taba Galeria de Arte”, passando a vender obras na própria galeria e participar de exposições promovidas pelo marchand. Seu trabalho despertou também a atenção de outros conhecidos empresários especializados em obras de artes. Entre eles, Antônio Marques, que dispõe de uma ampla galeria no Centro de Turismo, onde coleciona um acervo contendo os principais artistas plásticos potiguares
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A Arte Fantástica de Fábio Eduardo

Texto: Alexandro Gurgel

           Em 2003, Fábio Eduardo fez sua segunda exposição individual chamada “Aquarelas”, na Sparta Book & Store, produzida por Dorian Lima. Durante essa fase de maturidade artística, Fábio encantou o modernista, poeta, escritor e pintor, Dorian Gray Caldas, um dos papas do cenário literário e artístico norte-riograndense, que escreveu: “Uma arte tonal desenhada, plana, de belas figuras idealizadas sem o estorvo das pompas artísticas ou o excesso de conteúdo histórico. Fábio pinta quadros para serem vistos, contemplados na intenção descritiva”.
            Atualmente, no trabalho de Fábio Eduardo há traços cubistas e futuristas, com uma temática figurativa, sobretudo regional, baseada no folclore e na literatura de escritores como José Lins do Rego, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Ariano Suassuna. Suas telas exploram o universo dos teatros de bonecos, dando aos personagens uma estampa cibernética num misto de homens e andróides.
           Nos quadros de Fábio Eduardo, as personagens tradicionais são compostas dentro da visão de um futuro lúdico, trazendo influências da Escola Fantástica em telas a óleo ou aquarelas. Usando uma linguagem figurativa, o artista busca humanizar a fantasia, de uma maneira simples e ao mesmo tempo sofisticada, capaz de evocar a fusão da arte contemporânea com lampejos estéticos de vanguarda.
           Hoje em dia, sua obra já está espalhada pelas galerias de artes brasileiras e européias. Em Natal, Fábio Eduardo trabalha no projeto “Danças Folclóricas”, com uma série de 15 painéis em óleo sobre tela, esperando ser aprovado pelas Leis de Cultura.  
           O homem do campo no seu dia a dia, as brincadeiras de crianças, as danças folclóricas, as festas populares, os santos padroeiros, os heróis, os bandidos, os cangaceiros e toda a fauna do repertório popular nordestino estão presentes no imaginário de Fábio Eduardo, um natalense que desperta reconhecimento no cenário das artes pela identidade universalista impressa nos seus quadros.
           Apreciando a arte de Fábio, temos a certeza que estamos diante de um artista fantástico.

 
            O artista potiguar, Fábio Eduardo, começou a\ brincar com pinceis ainda criança, aos seis anos, no Jardim da Infância do Padre Thiago (Thielsen). Aos poucos teve despertado o gosto pela aquarela, a tinta guache e o lápis de cor, pintando livros de colorir.

Trazia material para praticar em casa, mas foi no primário, que os professores observaram sua inclinação para a Arte. Depois do concurso Grande Mural da Cidade da Criança, realizado em 1979, aos nove anos, sentiu-se mais motivado a prosseguir na carreira de artista plástico.

Sua madrinha trabalhava com Levi Bulhões na UFRN e foi ela que o incentivou ao amadurecimento gradativo junto ao próprio Bulhões. Quando ingressou no Instituto Ary Parreiras, durante as aulas de Educação Para o trabalho, Fábio experimentou com técnicas como tecido, vitrais e estampa em serigrafia.

Já no Colégio Augusto Severo, travou contato com nomes admirados do Atelier Central - Jomar Jackson, Jair Peny, entre outros. No atelier, passou a ler e pesquisar História das Artes Plásticas.
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Admirador de Dorian Gray, “quando passava perto da Praça das Mães e via aquele painel dele”, também admirava Newton Navarro, conhecendo artistas de renome das outras gerações e visitando exposições de Tomé, Diniz Grilo e seu “Surrealismo Regional”.

Nessa entrevista, ele fala sobre a chance de, finalmente, estar sendo reconhecido em outra região.

Como você define hoje o seu trabalho?

Venho buscando uma linha contemporânea, mas sem deixar de beber nas fontes do folclore nordestino, dando roupagem nova a ele, uma estampa nova aos personagens, às roupas. Algo mais contemporâneo.

Como você define o seu estilo de pintar?

Tenho vários estilos: um pouco de futurismo, do cubismo, do neoclássico. Meus quadros lembram o Naïf, por causa da estilização que dou aos meus personagens, o que confere um ar de boneco a eles. Busco a cada dia uma linha contemporânea, mas que não deixe de beber nas raízes do Folclore Nordestino.

O que você gostaria de ver como fato novo nas Artes do Rio Grande do Norte?

Esse primeiro passo: da arte da gente ir lá pra fora. Temos artistas muito bons aqui em Natal. O que está faltando é isso: expor em Brasília, São Paulo, nos grandes centros. Que os órgãos do Governo promovam excursões dos artistas locais.


Exposições


Coletivas

1987 - II Salão de Artes Plásticas do SESC, Natal RN

1988 - III Salão de Artes Plásticas do SESC, Natal RN
IX Festival de Artes de Natal, Cidade da Criança, Natal RN

1989 - I Exposição Coletiva Papel e Tela Galeria, Criare, Natal RN

1990 - Exposição de Litografia, Restaurante Ana Macrobiótica, Natal RN
II Exposição Coletiva Papel e Tela, Galeria Newton Navarro, Natal RN

1991 - III Exposição Coletiva Papel e Tela, Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, Natal RN

1992 - III Exposição Coletiva Papel e tela, Galeria do Museu Assis Chateaubriand Campina Grande PB

1995 - Exposição Coletiva “Mini Quadros”, Taba Galeria, Natal RN

1997 - Exposição Coletiva “Todos Nós”, Taba Galeria, Natal RN

1999 - Exposição Coletiva FAL Faculdade de Natal, Natal RN
Exposição Coletiva “Dia do Artista Plástico”, Solar Bela Vista, Natal RN

2000 - Exposição Coletiva “O Descobrimento da Cultura Potiguar, Lisboa Portugal

2000 - Exposição Coletiva “Traços e Cores Potiguares”, realizada nas dependências de vários órgãos públicos e privados, tais como: Petrobras, Caern, TCU, INSS, Universidade Federal do RN, Procuradoria Geral do Estado, etc...
Exposição coletiva “Expoarte Brasil 2000 As cores do Rio Grande do Norte”, Palma de Mallorca, Madrid e Barcelona, na Espanha.

2001 - Exposição Coletiva Escola de idiomas Iázigy, Natal RN
Projetos Quadros Crescente Sindicato dos Petroleiros do RN, Natal RN
Exposição Coletiva “8 de Março Dia do Artista Plástico”, Natal RN
Individuais
1991 - “Corpo e Movimento”, Galeria da Biblioteca Câmara Cascudo, Natal/RN

2001 - Exposição “Aquarelas”, Sparta Book & Store, Natal RN

2003 - Exposição Inauguração da Pinacoteca do Estado, Natal RN

2008 - Exposição “Aquarelas”, Bardallo’s, Natal RN


Exposição Virtual


Todas as obras são óleo sobre tela
 
Carta de Tarô
- Sanfoneiro-

Pastorinhas-

Ojuara no pavão misterioso-

Capitão Lampião-

Virgulino Lampião-

Palhaço do pastoril-

Galinha da Angola-

Dom Quixote-

Dom Quixote-

São Francisco-

Rabequeiro-

Lampião e Maria Bonita-

Chorinho-

Chorinho
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Brincantes do Boi de Reis-

Banda Filarmônica-

Seresta Cangaceira
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Chegada do circo

Um comentário:

José Mendes Pereira disse...

Valeu Fábio Eduardo!

Eis um grande artista.

José Mendes Pereira
Mossoró-Rio Grande do Norte