por José Gonçalves do Nascimento*
(para Sther
Andrade)
Não é possível mensurar, com exatidão, o número de pessoas que dedicaram tempo
e vida à construção, administração e defesa da comunidade de Canudos. O que se
sabe é que o arraial sertanejo não foi obra apenas de Antônio Conselheiro, e
sim resultado de um grande mutirão. Mutirão que envolveu milhares de homens e
mulheres, provenientes de todos os rincões do nordeste brasileiro.
Cumpre aqui acentuar o protagonismo feminino no âmbito na sociedade canudense.
Longe de restringir-se apenas às atividades religiosas, tal protagonismo
estendeu-se também à luta diária do povoado, inclusive tomando parte no
confronto armado contra as forças da repressão. A seguir, as mulheres que mais
se destacaram no cotidiano da aldeia do Bom Jesus.
MARIA DA GUERRA - “Jagunça braba e heroína no fogo do Cocorobó”, como descreve
o escritor e folclorista José Aras, de raízes canudenses, Maria da Guerra
defendeu bravamente a rua da Caridade, na luta contra a expedição Moreira
César, ocasião em que matou muito soldado a foice. Sobrevivente, morreria
décadas depois, num acidente automobilístico nas proximidades de Uauá (BA).
BENTA E CARIDADE - Naturais do município baiano de Itapicuru, Benta e Caridade
estavam entre as personalidades mais distintas do povoado. A primeira, dentre
outras atividades, cuidava da administração do Santuário, morada sagrada de
Antônio Conselheiro; a segunda, além do ofício de parteira, ocupava-se também
da cura dos enfermos, utilizando-se, para tanto, de suas meizinhas e
“garrafadas”. Diariamente, multidões de doentes a ela recorriam em busca de
alívio para as suas enfermidades.
TERESA JARDELINA DE ALENCAR - Mulher de Honório Vilanova, Teresa Jardelina de
Alencar recebera o apelido de Pimpona devido à sua encantadora formosura.
Dantas Barreto a descreveu como “bonita morena de olhos grandes e negros".
Foi balconista na loja do cunhado Antônio e defensora aguerrida do arraial, chegando
a ser ferida em pleno combate.
MARIA LEANDRA DOS SANTOS - Maria Leandra dos Santos era viúva de Rosendo
Maximiliano dos Santos, homem de posse da região de Tucano. No final da guerra,
foi levada para a cidade baiana de Alagoinhas, juntamente com outras
prisioneiras. Ficou conhecida pelos atos de solidariedade, em favor das suas
companheiras de infortúnio, tendo, com isso, despendido grande parte da sua
herança.
MARIA RITA - Maria Rita, cognominada virgem das caatingas, era sobrinha de
Joaquim Macambira. Magra, olhos amendoados, maçãs salientes, cabelos lisos e
soltos, gozava de agilidade admirável. Durante a peleja, ocupou as posições
mais estratégicas, sendo uma das figuras femininas mais respeitadas na comuna
conselheirista. Envolveu-se no combate do Tabuleirinhos, lutando corpo a corpo
com as forças da República. Atingida por bala inimiga, percorreu longo caminho
a pé, até cair sem vida na porta do Santuário.
PROFESSORAS - Destacam-se ainda, no séquito feminino do Conselheiro, os nomes
de Maria Francisca de Vasconcelos, Maria Bibiana e Marta Figueira. Eram elas as
professoras do arraial, a quem cabia o ensino da criançada. As duas primeiras
desapareceram durante o morticínio; a última sobreviveu à catástrofe e passou a
residir em Salvador.
*Poeta e cronista
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero de Araújo Cardoso
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