Por José Romero
Araújo Cardoso[1 e Marcela Ferreira Lopes[2]
Duas culturas agrícolas tropicais estiveram intrinsecamente ligadas ao
capitalismo industrial, principalmente quando do auge da segunda fase desse
importante momento do modo de produção capitalista.
O café foi responsável pela criteriosa redefinição do escravismo colonial
devido imprescindir da mão-de-obra escrava. Enquanto as colônias americanas
haviam triunfado em humanismo, mas também tendo formado importante mercado
consumidor de produtos importados, fomentado interesse sobretudo da Inglaterra,
o Brasil recrudescia os laços do escravismo colonial a ponto de somente em 1888
ter todos os escravos libertos.
O cacau, introduzido no sul da Bahia, dependente de sombra da mata nativa e
água dos córregos, não obstante ser nativo da América Central e de pequena
porção setentrional da parte meridional do continente americano, adaptou-se
muito bem às condições de solo e clima baianos.
O café que durante muito tempo figurou como principal produto na pauta das
exportações brasileiras destinava-se principalmente ao proletariado, pois o
regime de trabalho com mais de 12 horas diárias seria impossível de ser
cumprido se não houvesse um estimulante que garantisse que os trabalhadores
estivessem firmes nas fábricas.
A importância do café no cenário socioeconômico nacional era tão grade no
século XIX que foi para o Planalto Paulista que forma enviados boa parte dos
malês do recôncavo baiano que escapou da chacina imperial em 1836. Negros
islamizados, chegaram ostentando cultura, declamando Castro Alves, despertando
a ira dos ricos fazendeiros do oeste paulista. A punição inclemente e desumana
definiu em essência o próprio poder representado pelo café.
A mais-valia não poderia ser extraída na forma analisada por Marx se não
tivesse havido a interferência direta das potencialidades da rubiácea no
organismo dos trabalhadores quando daquela fase do capitalismo industrial que
se dinamizava na Europa, nos Estados Unidos e em algumas frações do globo, como
o Japão, que apostou firme na industrialização a ponto de se tornar potência no
século XX.
O cacaueiro que servia para fazer uma bebida amarga apreciada pela nobreza
nativa da América Central, antes da chegada de Colombo, deu ênfase ao
surgimento de uma poderosa elite dominante no sul da Bahia, cujos feitos, atos
e disputas foram imortalizados por Jorge Amado em diversos romances.
O chocolate produzido a partir da amêndoa torrada e fermentada do cacau passou
a ser bastante apreciada pela burguesia industrial europeia. Casa de chocolate
começaram a surgir em todas as partes do velho mundo devido ao gosto pela
bebida, pois a sofisticação no preparo foi se desenvolvendo constantemente, a
ponto de nos dias de hoje haver uma profusão de ofertas referente ao chocolate.
A Bahia figurou muito tempo como grande produtor de cacau, mas com o advento da
vassoura de bruxa nos anos noventa do século passado os prejuízos forma
grandes. Nos dias de hoje os países da África ocidental despontam como maiores
produtores.
Quando da quebra da Bolsa de Valores de Nova York em setembro de 1929, ambas
culturas agrícolas para exportação foram duramente penalizadas, pois as safras
records registradas não tiveram como ser absorvidas pelo capitalismo industrial
com o qual estavam intrinsecamente vinculadas.
[1] José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial
(UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA/UERN).
[2] Marcela
Ferreira Lopes. Geógrafa-UFCG/CFP. Especialista em Educação de Jovens e Adultos
com ênfase em Economia Solidária-UFCG/CCJS. Graduanda em Pedagogia-UFCG/CFP.
Membro do grupo de pesquisa (FORPECS) na mesma instituição.
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do "Cangaço" José Romero de Araújo Cardoso
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