sábado, 20 de junho de 2015

TRISTE SÃO JOÃO: MINHA RUA SEM BANDEIROLAS, SEM ENFEITES, SEM NADA...

Por Rangel Alves da Costa*


Moro em Aracaju desde 1974 e na Avenida Carlos Bulamarqui já em torno dos trinta anos e nunca presenciei um mês junino tão triste e desanimado como o que se apresenta agora. Ao menos no trecho onde moro e mais adiante, não se avista nada que faça lembrar que estamos no mês dos três santos famosos: Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29).

O que mais espanta e entristece é o fato de o mês de junho nunca ter sido relegado dessa forma. Mesmo estando na região central da capital sergipana, a Carlos Bulamarqui sempre foi famosa pelo seu São João. Ainda em maio e um grupo de moradores saía arrecadando contribuições para a compra dos enfeites e pagamento da estrutura dos festejos. Já no ano passado, contudo, observou-se um desinteresse que redundou numa comemoração desanimada e com pouca gente. Nem mesmo os moradores estavam ao redor de fogueiras.

Ainda assim, mesmo sem o ânimo desejado, bandeirolas coloridas eram avistadas balançando ao vento, balões estavam estendidos em alguns pontos do trecho, as pessoas se sentiam diante do clima junino. O fole roncou, houve apresentação de quadrilha junina, algumas brincadeiras, mas muito diferente de outros tempos. O quadro apresentado já era o mais desalentador possível ante a grandiosidade costumeira da festança.

Como dito, muito diferente de outros tempos. Recordo a avenida apinhada de gente, de moradores, convidados e visitantes. Enfeites multicoloridos dando uma graça especial e provocando sensações alegres, festivas. Diversos sanfoneiros, geralmente duas quadrilhas, forró pé-de-serra e chinelos ralando pelo asfalto. Uma fogueira adiante de cada casa, mesas nas calçadas e sortidas das gostosuras juninas, fogos subindo pelos ares, numa festança que não tinha hora para acabar.


O São João da Carlos Bulamarqui era um verdadeiro reencontro de amigos, familiares e de gulosos e apreciadores do licor, do quentão, da cachaça e da cerveja. Milho assado e cozido, pamonha, arroz doce, canjica, pé-de-moleque, queijo assado, amendoim, carne assada, de tudo que fosse ao coco, cravo, canela e milho. E chegavam as meninas bonitas com seus chapéus, botas até os joelhos, calça jeans ou saia rodada, e os rapazes com suas roupas quadriculadas e seus olhares admirados de tanta beleza.

E ninguém jamais imaginaria que tal tradição um dia fosse acabar. E acabou de forma quase abrupta, sem ter nenhuma explicação para tal. Que os forrós, as quadrilhas e as brincadeiras chegassem ao fim por falta de pessoas interessadas em organizar e também pelas dificuldades financeiras reclamadas por todos, mas não estender uma bandeirinha sequer, aí já é demais. Nada mais triste que o anoitecer junino sem o som dos enfeites sendo sacudidos pelo vento. Mas é esta a realidade de agora.

Ao chegar o mês de maio logo estranhei que ninguém me procurou para contribuir com o evento. Também estranhei não ter avistado cordames sendo estendidos para a arrumação das bandeirolas. Sobre a comemoração, o silêncio era total, ninguém se manifestava sobre nada. E quando junho chegou e manhã após manhã nenhum enfeite era avistado, então não mais duvidei que o nosso São João houvesse acabado. E de vez. E da forma mais triste possível, pois sem ao menos uma bandeirinha por todo o trecho.

Não sei como serão as noites da véspera e da data festiva. Vai ser difícil sair para a calçada e nada avistar daquilo que tanto me acostumei a ver, a sentir, a brincar. Talvez algumas fogueiras solitárias e o silêncio melancólico por todo lugar. Tenho certeza que as calçadas estarão vazias e nenhum cheiro bom de canjica será sentido. Um menino ou outro estará soltando uma chuvinha, um traque, uma bombinha. E só.
Nada mais do São João e das noites juninas e festeiras da Carlos Bulamarqui. Será somente o silêncio entrecortado por alguns pipocos. E as bandeirinhas invisíveis balançando como lenços em triste adeus. Ou apenas o esvoaçar de saudade.

Poeta e cronista
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