Por Clerisvaldo B.
Chagas, 24 de outubro de 2014 - Crônica Nº
1.289
Como às vezes
ignoro os quilômetros, propositadamente, sei muito bem que o povoado Pedrão
(é), fica a uma légua da cidade de Olho d’Água das Flores, no seu município.
Meses sem
conta durante as férias, quando criança, vivi no Pedrão. Três meses no final do
ano letivo mais o mês de julho. Ali morava minha tia Delídia casada com o
senhor Manoel Anastácio. O marido da irmã do meu pai era o mandachuva do
povoado. Ao terminar as aulas, eu seguia para lá ou a cavalo, na garupa, ou de
carro de boi. Foi ali naquele povoado onde tudo observava e aprendia sobre
costumes rurais, que armazenei a bagagem para os meus romances. As ladainhas, o
Ofício a Nossa Senhora, as missas esporádicas, os cavaleiros que vinham da
feira de Olho d’Água, os bêbados na bodega, as corridas de cavalos na lagoa
seca, os forrós, as farinhadas, o movimento do algodão, a venda de cereais,
mamona, gás óleo, o pinicar de palma, os cânticos das apanhadeiras de algodão,
tudo ficava na memória. Lembro-me da única escolinha, a de Expedita e seu
marido Barrinho. Os doces da minha tia, as visitas do padre de Olho d’Água ou
do padre Cirilo com o sacristão Jaime, chegando a cavalo e, muito mais,
muitíssimo mais. Quase todas as casas eram em preto. A pobreza geral não tinha
cor.
O carreiro
Ulisses cantava:
Ô sanfoneiro
moça mandou lhe chamar
Para tocar um
baião no Ceará...
Ou Jaime
cantando ajoelhado no cemitério, o padre Cirilo e a multidão:
Abre os céus
Das almas
tende compaixão...
Eu disse que
um dia fazia e acabo de fazer. Qual o fotógrafo que tirou foto do povoado
Pedrão na década de 50? Quem tinha interesse, nisso meu amigo! Pois bem, o
povoado a quem eu devo 80% dos meus romances, acaba de ser mapeado pela minha
memória, nos mínimos detalhes físicos. Está ali desenhado tudo. O casarão do
mandachuva, a igreja, a lagoa, o vapor, a bodega, a casa de farinha, cercados,
largo, rua, beco... Tudo companheiro, com riqueza de detalhes. E
para que vai servir? Não sei. Tenho o mapa de um pedaço da minha vida e minha
alavanca literária. Agora, para Olho d’Água das Flores deve ser um documento
impagável para sua História. Mesmo assim, prefeita, bote preço, kkkkkkkkkkkk,
como faz a juventude.
Quem tiver
interesse no documento, escreva para (clerisvaldobchagas@hotmail.com)
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