Por José
Romero Araújo Cardoso
O hábito de
ler proporciona descortinar horizontes que sem este estaríamos fadados à
restrição no que tange à necessidade infinita, ilimitada de buscarmos galgar
novas compreensões referentes a coisas e fatos, ao mundo sempre em construção,
processo contínuo que vem embasando a dinâmica contínua dos dias atuais.
Ler permite
novas estruturas de pensamento, enredando as exigências de um tempo cada vez
mais condicionadas ao complexo e complicado domínio informacional, condição
sine qua non de afirmação em um intricado jogo no qual o conhecimento
invariavelmente ocupa posição de destaque em virtude de suas inúmeras
proporcionalidades.
Justifica-se
luta ímpar de homens e mulheres, a exemplo do mecenas Vingt-un Rosado, para que
a leitura integrasse o cotidiano das pessoas. Ensejada no distante ano de 1949,
a Coleção Mossoroense, não obstante os percalços e desafios contemporâneos, tem
destaque na História das criações literárias.
Vingt-un
compreendia perfeitamente que a leitura permite despertar clarividência
necessária para dimensionar-se a estrutura de complexas criações humanas,
notabilizando a forma como estas poderiam ser avaliadas ao longo dos tempos,
das eras nas quais as mesmas perdurassem, pois nada é sólido e concreto,
precisando que reavaliações e conjecturas possam ser pensadas.
Exemplo de
transigência em seios oligárquicos, nos quais imperam ideias rígidas a fim de
fomentar processos de reprodução, Vingt-un não se eximiu em publicar certos
temas proibidos, como trabalhos sobre o polêmico sindicato do garrancho,
surgido no oeste potiguar em função da força que a leitura possui.
O poder da
leitura é tão impressionante que a partir da doação de clássicos do marxismo
pela professora mossoroense Celina Guimarães Viana aos filhos de sua lavadeira,
intuindo fazê-los bons leitores, que sem querer despertou-se nestes a
consciência de classes e a efetivação de fato histórico que até a decisão do
idealizador da Coleção Mossoroense era negado pela elite pensante, pela
História oficial.
Temos que ler
tudo e sabermos cessar os exageros, pois não creio ser salutar ao respeito à
dignidade humana tomarmos como referência livros que pregam o ódio e o
dissabor, a exemplo de Mein Kampf, escrito por Adolf Hitler quando de sua
prisão após a frustrada tentativa de tomada de poder.
A leitura deve
se constituir em hábito saudável, não que cause descontentamento e
constrangimento conforme o padrão inserido em linhas. Clássicos da História
literária brasileira estão eivados de inenarráveis preconceitos, os quais
atingiram louvados pensadores nacionais, militantes históricos de partidos de
esquerda. Encontramos em diversos livros escritos por Graciliano Ramos e Caio
Prado Júnior festival inconcebível de afronta à dignidade humana.
A monografia
sobre o centenário republicano, inserida em Alexandre e Outros Heróis revela
ódio inaudito, quando Guimarães Rosa defende que em Canudos estaria a ralé
canalhada roça. Taxar negros e mestiço como sub-raça é constante nas obras do
citado alagoano. Em Memórias do Cárcere notamos essa tendência inconcebível,
mesmo para a época que o autor viveu e, sobretudo, em razão da simpatia com a
esquerda brasileira e internacional.
Em Evolução
Política do Brasil, Caio Prado Júnior chegou a pregar o necessário cerceamento
da raça negra, inibindo-a, como verdadeira intocável de casta indiana, a
qualquer possibilidade de superação do que a classe da qual provinha fomentou
enquanto regra para o processo de construção social coletiva.
O hábito de
ler deve fazer parte do cotidiano das pessoas, mas devemos superar o joio do
trigo, conseguindo-se isso somente com a entronização da necessidade de
pluralizar o humanismo e o amor como pedras fundamentais de todas as nossas
ações.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Contato: romero.cardoso@gmail.com
Enviado pelo escritor, professor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso
Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário