quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

TERNO E GRAVATA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 18 de fevereiro de 2015 - Crônica Nº 1.369

No descambar dos anos 60, ainda bebíamos água das cacimbas arenosas do leito seco do rio Ipanema. O velho Panema ainda fazia a cidade crescer e progredir. Por trás do comércio havia o importante balneário Poço dos Homens, diversão principal de jovens e adultos. Poucos tomavam banho nu, porém, ao espremer os calções, alguns não tinham muito cuidado em relação ao casario situado a cerca de 80 metros, ribanceira acima.


Por isso ou por aquilo (já narramos esse fato antes) alguém foi dizer ao delegado civil, comerciante José Ricardo, sobre a falta de vergonha de alguns banhistas.

O delegado, então, proíbe severamente o banho com uso de calções. Para isso soldados ficavam entre o Beco São Sebastião, no comércio e a descida para o poço, atração gostosa da cidade.

Logo os maiores frequentadores do balneário entre as pedras lisas do Ipanema, tomaram conhecimento. E como Zé Ricardo era um homem de bem, mas de queixo duro, a rapaziada preferiu não criar problema com a autoridade e nem mais utilizar os calções da safadeza.

A solução encontrada foi descer para o banho de terno e gravata, mergulhando com roupa e tudo naquela delícia.

O caso “folclórico” foi comentado com riso frouxo durante semanas e meses às costas do delegado.

Diante da exigência moderna, vai ficando sem prestígio o do calção, da bermuda, das roupas afuleiradas ou mesmo os dos trapos comuns... O tapa sexo completo de cada dia. O olhar alheio para o caráter exemplar em roupa coletiva passeia do pescoço ao calçado.

O terno bota para correr o mau cidadão e rouba momentaneamente à dignidade de quem tem. É o homem enganando o próprio homem. A frase que se usa hoje como brincadeira, não passa da verdade embutida: “Homem de gravata eu respeito”.

Bem, por via das dúvidas, vá de terno mesmo compadre. Mesmo sem colete e a rima danada que ele tem.

Afinal, o que é o tempo senão as repetições das horas!
Sua ordem ainda tem prazo de validade, Zé Ricardo!



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