sábado, 7 de fevereiro de 2015

PREFÁCIO: UM BREVE COMENTÁRIO SOBRE JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO

Por Valderi Idalino da Silva

Professor supervisor do PIBID/Geografia/CAMEAM/UERN – Campo de atuação: Escola Estadual “Dr. José Fernandes de Melo” – valderiidalino@hotmail.com

Kaliana Maria Dantas de Freitas

Professor supervisor do PIBID/Geografia/CAMEAM/UERN – Campo de atuação: Escola Estadual “Dr. José Fernandes de Melo” - kaliana_freitas@hotmail.com

Luiz Eduardo do Nascimento Neto Coordenador do Subprojeto PIBID/Geografia/CAMEAM/UERN - lugiarts@yahoo.com.br

Resumo

Pesquisa pertinente ao processo histórico que contribuiu significativamente com a configuração da cultura do Nordeste do Brasil e seu quadro socioeconômico. À luz do sábio geógrafo José Romero Araújo Cardoso, efetivou-se um passeio pelos emblemáticos rincões do sertão semiárido, na perspectiva de se conhecer as organizações sociais, costumes e façanhas de um povo que via na política oligárquica latifundiária uma inspiração de felicidade, bem como, na religião, no folclore indígeno africano, na valentia e na vingança, os fundamentos da honra e da moral. Todo relato, por este discorrido, enfatiza, sobretudo, a vida do cangaço e dos modus operandi das autoridades estatais no combate ao bandoleirismo proporcionando instigantes racontos que, embora reais, se misturam com o folclore pluralista, típico do lugar, onde nasceu a Terra de Vera Cruz, sob a força da invasão europeia às propriedades indígenas.

Palavras-chave: Sertão – Cultura - Cangaço

Introdução

José Romero Araújo Cardoso (...) um verdadeiro homem na expressão da palavra, além de culto, ícone inconteste da densidade e da maturidade acadêmica, um homem que pela sua história de vida, dentre os tantos percalços, pedras e espinhos na sua caminhada, sempre se faz vitorioso. Archimedes Marques. In: Cardoso (2013:11).

O professor José Romero Araújo Cardoso, Romero Cardoso, como gosta de ser chamado, nasceu em 28 de setembro de 1969, na cidade de Pombal Estado da Paraíba, filho de Maria de Lourdes Araújo Cardoso e Severino Cruz Cardoso. Em sua terra natal viveu e cresceu como um menino simples, membro de uma família humilde, mas logo se interessou pelos estudos e graduou-se em Geografia pela UFPB. Atualmente, é professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande Norte, desde 1998; e, mestre em desenvolvimento e meio ambiente-PRODEMA-UERN, 2002. Cardoso dedica-se a pesquisas relacionadas à geografia humana com destaque para o campo da globalização econômica e suas consequências, mas a sua referencia maior está atrelada a geografia da cultura do Nordeste do Brasil. As lendas, os costumes, os fatos marcantes, como o cangaço e o coronelismo, a religiosidade e o processo histórico que configurou, ao longo do tempo, a vida política, social e econômica dessa macrorregião.
Algumas de suas pesquisas e produções acadêmicas referem-se a: Globalização e mundo contemporâneo – Globalização; Globalização e cultura local - Notas sobre o boom econômico nordestino depois; A civilização do couro - Chile–11 de setembro de 1973: quarenta anos do início de uma dolorosa tragédia no Cone Sul; Literatura Nordestina e Cultura Popular - O ABC de Jesuíno Brilhante reeditado pela Queima-bucha; Jesuíno Brilhante - A literatura de cordel em defesa do lado bom do nordeste; A lenda do Poço Feio - A literatura de cordel enquanto veículo de contestação: o caso do cordel “Confusão no cemitério”; A canção e a lenda da Cabocla Maringá - De Maria do Ingá a Maringá: a cabocla paraibana que deu nome a uma cidade do Paraná; Maringá: Hino Oficial de um Senador da República - Virgulino Ferreira da Silva – o cangaceiro Lampião; A importância do cordel na sala de aula - A verdade sobre onde nasceu Leandro Gomes de Barros; A vida e a obra do sagrado filho de Januário e Santana em cordel de Arievaldo Viana - “Lampeão, sua história”: objetivos da primeira biografia erudita do “Rei do cangaço”; Luiz Gonzaga e a defesa do Assum preto - Notas sobre a história regional do nordeste brasileiro; Canudos: notas sobre uma guerra desumana e cruel - Pajeú: O maior estrategista das guerrilhas da guarda católica de Antônio Conselheiro; Padre Cícero: Santo ou embusteiro? - Benjamin Abraão Botto e a involuntária extinção do cangaço comandado por Lampião; Coronel Manuel Benício: Notas sobre um comandante paraibano de forças volantes - Métodos de sangramento utilizados por volantes e cangaceiros – Entrevistas com o Coronel Manuel Arruda de Assis; Notas sobre entrada de Sabino das abóboras no cangaço - Meia-noite e o fogo da casa de farinha do sítio Tataíra; Moreno e a vingança implacável de Lampião - A vingança de Lampião contra o “Coronel” Zé Pereira; Notas históricas sobre o ousado ataque cangaceiro (27 de julho de 1924) à cidade de Sousa – PB - O trucidamento de Jararaca em Mossoró; A história do navegador João de Calais - Luiz Gonzaga, a voz que traduziu as aspirações e a cultura de um povo sofrido; Tropeiros da Borborema - Aboio dos vaqueiros: Patrimônio imaterial do nordeste brasileiro; Mossoró no diário de Getúlio Vargas - Notas históricas sobre a importância da cera de carnaúba; Mossoró e os comboieiros de outrora - A Grande Seca de 1877-1879; Notas sobre a grande seca de 1932- Princesa: maior manifestação de insurgência do mandonismo local; Marcolino Pereira Diniz e Xanduzinha: imortalizados através da arte de Luiz “Lua” Gonzaga - João Pessoa: o martírio do grande governante; Josué de Castro e o cenário do Nordeste brasileiro - O avanço da Modernidade sobre a feira de Apodi; Meio ambiente e a herança da agricultura itinerante no semiárido nordestino - A importância da educação ambiental para a preservação da área do Poço Feio; A batalha de Vingt-Un Rosado em defesa da pesquisa de petróleo na Bacia Potiguar - Josué de Castro e as feridas abertas que os poderosos insistem em não curar; A estrela oculta do sertão - A morte de Josué de Castro no exílio; A origem do topônimo favela na geografia urbana brasileira - Josué de Castro: ainda um ilustre desconhecido; O heroísmo das parteiras tradicionais - Importância de Josué de Castro para a formação de novas consciências; Considerações biográficas sobre dona Maria Joaquina de Souza (Maria Correia), a parteira das mulheres pobres de Mossoró (RN) - Delmiro Gouveia e o sonho de industrializar o semiárido; Gilberto Freyre e a essência do impossível - Notas sobre a atualidade do pensamento de Josué de Castro: sessenta e cinco anos de publicação da “Geografia da fome”; A importância da Caprinovinocultura em assentamentos rurais de Mossoró-RN - Ariano Suassuna e o movimento armorial: interesses e valores das oligarquias sertanejas agropastoris; e, Josué de Castro e a ousadia de denunciar um tema ainda proibido.

Mediante esse sistematizado acervo bibliográfico, Cardoso, oferece a seus leitores uma possibilidade de conhecer melhor as características, sobretudo, politico e socioeconômicas do semiárido nordestino brasileiro, inclusive, aqueles conhecimentos de causa que se encontram nas entre linhas da História, explicados com uma didática peculiar do autor. Certamente, se faz necessário, inclusive nas salas de aula, enfatizarem-se as riquezas existentes nas terras onde nasceu o Brasil português e bem como os contrastes sociais que ainda insistem em espavorir muitas famílias dessa região.

Na região do Semiárido, em termos socioeconômicos, a pobreza extrema atinge quase metade de sua população, assim como o desemprego e o subemprego, que são muito elevados nessa sub- região. As desigualdades de renda aumentaram nas últimas décadas e os padrões de educação, saúde e de habitação de grande parcela da população ainda são bastante precários. Segundo Guerino (2010:229).

Nesse primeiro momento de discussão, de forma sucinta, enfocaremos, através de Cardoso, alguns elementos literários pertinentes à geo-história do Nordeste do Brasil e sua Cultura Popular. Veja a seguir, a partir da página 05:
  
Objetivos

Este texto propõe uma discussão pertinente à geografia social do seminário nordestino brasileiro por meio do olhar meticuloso do Geógrafo José Romero Araújo Cardoso. Além de enfatizar a relevância desse estudioso no processo de pesquisas acadêmicas, no que diz respeito, predominantemente, a cultura, a política e a economia do povo do sertão e agreste nordestinos. E, bem como conhecer com maior clareza as peculiaridades da História dessa região do país, com a contribuição da luz desse pesquisador.

Metodologia

Para conhecer o pesquisador, e sua produção científica, de quem se trata este artigo, desenvolveu-se uma minuciosa pesquisa bibliográfica através da internet, e, de seu recente livro: Textos vivos e reverenciados de um imortal nordestino, organizados por Marinalva Freire da Silva, 2013. Na sequência, foi-se compilando textos e confrontando-os entre si e com outros autores que discorrem sobre temáticas, semelhantemente, abordadas.

Discorrendo sobre as produções acadêmicas do pesquisador

Em Literatura Nordestina e Cultura Popular: O ABC de Jesuíno Brilhante reeditado pela Queima-bucha, o escritor, explica como Jesuíno Alves de Melo Calado ingressou na vida bandoleira do cangaço e aponta quais os códigos de conduta foram adotados pelo o bando, através de seu líder, um homem com retidão de caráter, segundo o estudioso em referencia. Jesuíno Calado teve seus dias findos no final de 1879, vítima de uma emboscada empreendida pelo o seu inimigo mortal conhecido por Preto Limão, na localidade de Riacho dos Porcos, município de Brejo do Cruz, Estado da Paraíba. (p. 35-39).

No artigo: A literatura de cordel em defesa do lado bom do nordeste, Cardoso faz uma dura crítica à visão que se tem de um Nordeste brasileiro dependente, de forma quase exclusiva, das condições climáticas, ou mais precisamente das precipitações pluviométricas irregulares, segundo esse estudioso, a problema da seca não é a causa das desigualdades sociais e acentuada pobreza em alguns pontos do semiárido nordestino, mas a falta de interesse político associado aos processos econômicos responsáveis pelo o desenvolvimento histórico dessa grande região do Brasil. Em suas observações, Cardoso, faz menção da obra: O Lado Bom do Nordeste, escrita pelo o poeta popular Moreira de Acopiara, pois que: “destaca o que há de belo e positivo no povo e na cultura da região”, (p. 45).

De fato, a seca no semiárido nordestino, tem sido durante muito tempo uma oportunidade para se explorar os votos em campanhas eleitorais das famílias mais carentes.  Não  tem  sido  desenvolvidos  pelos  poderes  constituídos  competentes, programas de políticas públicas de Estado, persistentes e eficazes, no combate as causas da seca; mediante essa realidade trabalha-se apenas com medidas paliativas.

Matos, (2012:1-2) afirma que: A seca é uma realidade ecológico-sócio- política que tem flagelado o ser humano em muitas épocas históricas (...) a própria seca não pode ser definida apenas a partir da intensidade e frequência das precipitações, mas envolve uma articulação entre fatores naturais e humanos.

Escrevendo sobre “A lenda do poço feio”, Cardoso, narra e ao mesmo tempo desmitifica um personagem folclórico que sobre vive num poço calcário possuidor de

águas cristalinas conhecido como o “Baú da Moça”, pois que segundo a lenda, existe nesse lugar, Poço Feio/Mossoró, uma belíssima mulher encantada que aparece nas noites de lua cheia e atrai banhistas para a morte, até agora as fatalidades que se registraram estão mais diretamente relacionadas ao uso de bebida alcóolica. (p. 48).

Quando se refere À literatura de cordel enquanto veículo de contestação: o caso do cordel “confusão no cemitério”. Cardoso denuncia o preconceito que se tem com esse tipo de produção literária e relembra que o notável cordelista paraibano, radicado no Rio de Janeiro, conhecido por Raimundo Santa Helena, foi impedido de concorrer a uma vaga na Academia Brasileira de Letras por muito, provavelmente, pertencer a um segmento social mais simples sem vínculos com o elitismo erudito brasileiro. Outro personagem marcante citado é José Ribamar Alves, repentista profissional desde 1983, autor dos cordéis “Armadilhas do Destino”, “Pela Vida do Planeta”, “A Quebra de Silêncio”, “A Crueldade de Osama e A Vingança de Bush” e “Confusão no Cemitério”.

Segundo Cardoso (p. 52), Em “Confusão no Cemitério” José Ribamar Alves sintetiza a cosmovisão popular e o seu imaginário quanto ao desejo de buscar a superação das distorções sociais que separam ricos e pobres num fosso indevassável da realidade criada pelas elites que se arvoraram em donas do poder desde nossa formação sócio- econômica.

Segundo, Cacciamali (2002:06), Nas sociedades democráticas modernas, em cada momento histórico, essas questões, mediadas pelo grau de organização social dos interesses econômicos e de classes, levam a conflitos explícitos. Estes são canalizados por grupos ou partidos políticos que, dependendo da estrutura de poder, podem vir a ser filtrados pelos dirigentes e orientar a política econômica.

Quando diz respeito À canção e a lenda da cabocla Maringá, obra musical do compositor e médico mineiro Joubert Gontijo de Carvalho (1900-1977), Cardoso, enfatiza o regionalismo cultural, tem na figura Maria do Ingá, uma fonte de inspiração e contos históricos que impressionaram o fim do século de XIX e começo do século XX com o cancioneirismo clássico popular. Maringá tornou-se um verdadeiro hino do povo pombalense do sertão paraibano.

Os fatos narrados em torno do tema: Virgulino Ferreira da silva – o cangaceiro lampião é uma, outra, especialidade do intelectual pombalense paraibano Romero Cardoso, que junto com Benedito Vasconcelos Mendes e Suzana Goretti Lima Leite, discorre sobre a vida e o envolvimento desse personagem marcante da história do sertão nordestino com o cangaço. Segundo esses pesquisadores, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, nasceu a sete de julho de 1897 no município de Villa Bella, hoje Serra Talhada, Estado de Pernambuco (p.63). Lampião era filho de José Ferreira dos Santos e Maria Sulema da Purificação. Inicialmente, na condição de almocreve, sua vida, de homem de labor, foi percorrer vários lugares do Sertão, o que lhe proporcionou um vasto conhecimento geográfico dessa região que mais tarde foi utilizado no cangaço. Foi em Alagoas onde Virgulino ingressou no mundo do crime, tornando-se um líder, quando da sua ascensão a chefe do bando de Sinhô Pereira no ano de 1922. Os pesquisadores, em Cardoso, discorrem sobre a vida antes e depois de Virgulino entrar para o cangaço e destacam as principais cidades atacadas pelo o seu bando, bem como os principais coiteiros de Lampião e a repressão do governo, além de enfatizar o interessante envolvimento de Maria Déa de Oliveira – “Maria Bonita”, amante de Lampião, no cangaço, ao mesmo tempo em que fazem menção da famosa Dadá, esposa do cangaceiro Corisco, que lutou ao lado de seu companheiro até o último momento, e, por fim, narram como ocorreu a morte do temido Lampião.

De forma provocante, no bom uso da palavra, em atividades didáticas, Cardoso, comenta a importância do cordel na sala de aula, como instrumento de linguagem regional, compreensível e apreciado pelos os estudantes, haja vista a facilidade com se tem de aprender os conteúdos disciplinares por meio dessa técnica de comunicação.

A importância de estudar o cordel em sala de aula está sendo enfatizado em projeto ousado e inovador, por título Acorda Cordel, coordenado pelo poeta popular,  radialista,  ilustrador e publicitário cearense Arievaldo Viana, nascido aos 18 de setembro de 1967, nos sertões adustos de Quixeramobim, terra que também viu nascer o beato Antônio Conselheiro. Cardoso (p. 75).

Lacerda e Menezes Neto (2010:219), afirmam que: Ao mesmo tempo, tal fonte histórica, considerando as suas próprias peculiaridades, permite justamente pensar as diversidades das práticas culturais, os significados que os grupos sociais dão ao seu cotidiano. Ao lado disso, o próprio texto do cordel, devido ao seu caráter de poesia rimada e de

fácil entendimento, pode se apresentar como um ponto de partida para que muitas crianças, adolescentes e jovens tenham mais contato com a leitura e com a escrita. (2010:219)

Cardoso levanta uma discussão pertinente à verdade sobre onde nasceu Leandro de Gomes Barros, o Príncipe dos Poetas Brasileiros, segundo Carlos Drummond de Andrade, reiterado pelo o pesquisador. Foi em Barros que, Ariano Suassuna, se inspirou para escrever suas grandiosas obras. A Vossa Alteza dos poetas brasileiros nasceu em dezenove de novembro de 1865 na fazenda melancia, então distrito de Paulista, pertencente na época a Pombal (PB), ver p.77.

Destaca-se nessa discussão a relevância do poeta Barros para sua terra natal, até os dias de hoje, inclusive no plano econômico. Cardoso, no entanto, critica o fato de Pombal lucrar com isso e não Paulista, a verdadeira naturalidade de Barros.

No que diz respeito à vida e a obra do sagrado filho de Januário e Santana em cordel de Arievaldo Viana, Cardoso, comenta com certa maestria as origens do Rei do Baião, o Luiz Gonzaga, como se esse artista tornou-se um imponente marco da cultura e música nordestina.

Gonzaga foi à representação da alma do sertão, a essência máxima de um povo e de uma cultura extraordinariamente rica. O velho “Lua” trouxe para a música a simplicidade e o bucolismo de um sertão que marcou a infância e a juventude do eterno cantador que nunca esqueceu sua terra, o chão sagrado do semiárido. (p. 80).

Em Notas sobre a história regional do nordeste brasileiro - Rio Preto: A revolta extrema de um negro humilhado, o estudioso da cultura nordestina faz um breve comentário sobre o cangaceiro solitário conhecido por Luiz. O pesquisador caracteriza a personalidade perversa e psicopática desse homicida que atuou na região de Pombal, na Paraíba. Além de narrar à trajetória e fim da história de um assassino covarde, a quem chama de fera perigosa. Não deixa, no entanto, de proferir uma breve crítica ao Padre Amâncio Leite, que criou o Luiz, fazendo uso de métodos humilhantes no processo de educação do menino.

Afirmo categoricamente que o responsável pela gênese do malvado cangaceiro paraibano foi o Padre Amâncio Leite. Esse foi o principal responsável pelo terror instalado no sertão devido a forma extremamente perversa como tratou a criança desde a mais tenra

idade, infringindo-lhe castigos terríveis que forjaram a personalidade doentia e criminosa de Rio Preto. Cardoso (p.88).

No tema: Canudos: notas sobre uma guerra desumana e cruel. Cardoso, afirma que as famílias simples, em geral agricultoras, oriundas do campo fugiam da fúria do latifúndio e da prepotência dos senhores de baraço e cutelo que vicejavam de forma proeminente no sertão nordestino daquela época. Segundo o pesquisador, uma calúnia proferida por Arlindo Leone, juiz de direito de Juazeiro (BA), criou as condições necessárias para a futura destruição do arraial que mudou a vida de muitos excluídos nordestinos. Associaram-se a esse fato, as perseguições empreendidas pela a Igreja Católica e a imprensa nacional que não poupavam falácias contrárias a Canudos, incitando, dessa forma, as autoridades, que na sua grande maioria estavam ligadas ao coronelismo, para que combatesse e destruísse Canudos. “A questão é ressaltar a importância e a envergadura do debate político que opôs civis e militares e levou à supervalorização dos conselheiristas como poderosos inimigos da nação”. Hermann (1996:3).

Referindo-se a temática, Padre Cícero: santo ou embusteiro? Cardoso relata a devoção do sacerdote e a fidelidade do povo para com seu líder religioso. Cícero do Juazeiro, mesmo excomungado continuava a ser a referência religiosa do catolicismo em todo Juazeiro e região.

No artigo referente a Benjamin Abraão Botto e a involuntária extinção do cangaço comandado por lampião, o pesquisador relata como o libanês Botto auxiliou o padre Cícero e se envolveu com o cinema e fotografia.

Com a morte do padre Cícero Romão Batista, no ano de 1934, Benjamin Abraão Botto começou a elaborar ousado projeto que objetivava captar imagens fotográficas e cinematográficas do bando comandado por Lampião, cuja atuação havia se concentrado, desde 1928, entre os estados da Bahia, de Sergipe e de Alagoas. (p.104)

Em Coronel Manuel Benício: notas sobre um comandante paraibano de forças volantes, Cardoso, destaca a sagacidade do coronel Benício no combate ao cangaço. A inteligência e frieza de espírito desse militar rendeu-lhe o título de homem extremamente corajoso do sertão paraibano.

Métodos de sangramento utilizados por volantes e cangaceiros – entrevistas com o coronel Manuel arruda de Assis. Nesse capítulo de suas pesquisas, Cardoso, explica como funcionavam os métodos macabros de morte por sangramento realizado por cangaceiros, inclusive por Lampião, cruel homicida, e soldados.

Símbolo de uma cultura forjada pela colonização erigida sob a ênfase da força e da violência, responsável pelo extermínio dos índios que habitavam a hinterlândia, a “técnica” de sangramento foi aperfeiçoada ao máximo (...) As veias jugulares, outras que também eram preferidas pelos “sangradores” das lutas do cangaço nordestino, são de extrema importância para o organismo. A veia jugular interna é a principal. Ao rompê-la é quase impossível de haver qualquer possibilidade de salvação. (p.108-9).

Em notas sobre entrada de Sabino das abóboras no cangaço, o pesquisador, relata os motivos e fatores que levaram Sabino Gório a entrar no cangaço e tornar-se um bandoleiro fora da lei. Destaca-se nesse episódio o assassinato de um primo legítimo de nome Josino Paulo, razão maior para seu ingresso no mundo do crime.

Sabino Gório nasceu e foi criado nesta fazenda mantendo contatos ininterruptos com famanazes do banditismo rural sertanejo. (p.111). O meio social, sem dúvida, influencia a formação intelectual de um homem.

. A cada estímulo do mundo corresponde uma resposta. Estímulo e resposta são, neste sentido, respectivamente, causa e efeito. Vilarinho (2008:4).

Considerações finais

Estudar as causas e fatores responsáveis pela configuração da cultura do sertão do semiárido nordestino do Brasil se faz relevante para conhecermos o quadro socioeconômico e político atual dessa rica região. Quanto a isso, lermos o geógrafo, José Romero Araújo Cardo, faz-se tarefa obrigatória, pelo acervo bibliográfico volumoso e detalhista com que esse estudioso do sertão se debruça em suas pesquisas minuciosas que revelam os protagonistas e seus feitos, às vezes lendários, construtores de uma História que deu sequência ao país de Portugal em terras americanas.

É de se compreender, que neste primeiro momento, empreendeu-se um esforço para se discutir, de forma sucinta, uma parcela da coletânea de textos do sábio pesquisador geógrafo Cardoso, pois que não seria possível mensurar a profundidade de detalhes, qual utiliza para falar dos personagens que desbravaram os sertões e impuseram suas próprias regras de sobrevivência e competição acirrada, em muitos momentos, pelo o poder e por aquilo a que chamavam de honra.

Nesse processo social, destaca-se a religiosidade catolicista, o folclore indígena e os mitos afrodescendentes, além da economia pecuária e canavieira, sob a égide da aristocracia oligárquica e coronelista.

Pois bem, este é só um ponto de partida, essa caminhada deve continuar, haja vista que, o sertão do Brasil ainda reserva muitos tesouros que são indispensáveis para explicar a nossa Sócia Antropologia.

Referencias

Cacciamal, Maria Cristina. Distribuição de renda no Brasil: persistência do elevado grau de desigualdade. Manual de Economia, São Paulo: Ed. Saraiva, 2002,
>, acesso em 23.06.2013.
Cardoso, José Romero Araújo. Textos vivos e reverenciados de um imortal nordestino / José Romero Araújo Cardoso. - João Pessoa: Ideia, 2013.
Guerino, Luiza Angélica. A dinâmica do espaço brasileiro. Vol. 2. – Curitiba: Positivo, 2010.
Hermann, Jacqueline. Canudos Destruído em Nome da República Uma reflexão sobre as causas políticas do massacre de 1897. Tempo, Rio de Janeiro, vol. 2, n°. 3, 1996, p. 81-105. Disponível em <  http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg3-4.pdf >, acesso em 23.06.2013.
Lacerda, Franciane Gama; Menezes Neto, Geraldo Magella de. Ensino e pesquisa em História: a literatura de cordel na sala de aula. Outros Tempos - Volume 7, número 10, dezembro de 2010, p. 217 - 236 - Dossiê História e Educação. Disponível em                                                 
Matos, Marcos Paulo Santa Rosa. Famílias desagregadas sobre a terra ressequida: indústria da seca e deslocamentos familiares no Nordeste do Brasil. Nómadas. Revista Crítica de Ciencias Sociales y Jurídicas | Núm. Especial: América Latina (2012). Disponível em <  http://pendientedemigracion.ucm.es/info/nomadas/americalatina2012/marcospaulosa  ntarosa.pdf >, acesso em 23.06.2013.
Vilarinho, Yuri Coutinho. A influência social na formação do indivíduo: aproximações entre as teorias de Wilhelm Reich e de Lev Vygotski. In: Encontro paranaense, congresso brasileiro, convenção brasil/latino-américa, XIII, VIII, II, 2008. Anais. Curitiba:  Centro Reichiano, 2008. CD-ROM. [ISBN – 978-85-87691-13-2]. Disponível em <  http://www.centroreichiano.com.br/Anais%202008/Yuri%20Coutinho%20Vilarinho.pdf
>, acesso em 24.06.2013.

Enviado pelo escritor, professor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso.

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