Por Valderi Idalino da Silva
Professor
supervisor do PIBID/Geografia/CAMEAM/UERN – Campo de atuação: Escola Estadual “Dr.
José Fernandes de Melo” – valderiidalino@hotmail.com
Kaliana
Maria Dantas de Freitas
Professor
supervisor do PIBID/Geografia/CAMEAM/UERN – Campo de atuação: Escola Estadual “Dr.
José Fernandes de Melo” - kaliana_freitas@hotmail.com
Luiz
Eduardo do Nascimento Neto Coordenador do Subprojeto PIBID/Geografia/CAMEAM/UERN
- lugiarts@yahoo.com.br
Resumo
Pesquisa
pertinente ao processo histórico que contribuiu significativamente com a configuração
da cultura do Nordeste do Brasil e seu quadro socioeconômico. À luz do sábio geógrafo
José Romero Araújo Cardoso, efetivou-se um passeio pelos emblemáticos rincões do
sertão semiárido, na perspectiva de se conhecer as organizações sociais, costumes
e façanhas de um povo que via na política oligárquica latifundiária uma inspiração
de felicidade, bem como, na religião, no folclore indígeno africano, na valentia
e na vingança, os fundamentos da honra e da moral. Todo relato, por este discorrido,
enfatiza, sobretudo, a vida do cangaço e dos modus operandi das autoridades estatais
no combate ao bandoleirismo proporcionando instigantes racontos que, embora reais,
se misturam com o folclore pluralista, típico do lugar, onde nasceu a Terra de Vera
Cruz, sob a força da invasão europeia às propriedades indígenas.
Palavras-chave:
Sertão – Cultura - Cangaço
Introdução
José
Romero Araújo Cardoso (...) um verdadeiro homem na expressão da palavra, além de
culto, ícone inconteste da densidade e da maturidade acadêmica, um homem que pela
sua história de vida, dentre os tantos percalços, pedras e espinhos na sua caminhada,
sempre se faz vitorioso. Archimedes Marques. In: Cardoso (2013:11).
O professor
José Romero Araújo Cardoso, Romero Cardoso, como gosta de ser chamado, nasceu em
28 de setembro de 1969, na cidade de Pombal Estado da Paraíba, filho de Maria de
Lourdes Araújo Cardoso e Severino Cruz Cardoso. Em sua terra natal viveu e cresceu
como um menino simples, membro de uma família humilde, mas logo
se interessou pelos estudos e graduou-se em Geografia pela UFPB. Atualmente, é professor
adjunto do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande Norte,
desde 1998; e, mestre em desenvolvimento e meio ambiente-PRODEMA-UERN, 2002. Cardoso
dedica-se a pesquisas relacionadas à geografia humana com destaque para o campo
da globalização econômica e suas consequências, mas a sua referencia maior está
atrelada a geografia da cultura do Nordeste do Brasil. As lendas, os costumes, os
fatos marcantes, como o cangaço e o coronelismo, a religiosidade e o processo histórico
que configurou, ao longo do tempo, a vida política, social e econômica dessa macrorregião.
Algumas
de suas pesquisas e produções acadêmicas referem-se a: Globalização e mundo contemporâneo
– Globalização; Globalização e cultura local - Notas sobre o boom econômico nordestino
depois; A civilização do couro - Chile–11 de setembro de 1973: quarenta anos do
início de uma dolorosa tragédia no Cone Sul; Literatura Nordestina e Cultura Popular
- O ABC de Jesuíno Brilhante reeditado pela Queima-bucha; Jesuíno Brilhante - A
literatura de cordel em defesa do lado bom do nordeste; A lenda do Poço Feio - A
literatura de cordel enquanto veículo de contestação: o caso do cordel “Confusão
no cemitério”; A canção e a lenda da Cabocla Maringá - De Maria do Ingá a Maringá:
a cabocla paraibana que deu nome a uma cidade do Paraná; Maringá: Hino Oficial de
um Senador da República - Virgulino Ferreira da Silva – o cangaceiro Lampião; A
importância do cordel na sala de aula - A verdade sobre onde nasceu Leandro Gomes
de Barros; A vida e a obra do sagrado filho de Januário e Santana em cordel de Arievaldo
Viana - “Lampeão, sua história”: objetivos da primeira biografia erudita do “Rei
do cangaço”; Luiz Gonzaga e a defesa do Assum preto - Notas sobre a história regional
do nordeste brasileiro; Canudos: notas sobre uma guerra desumana e cruel - Pajeú:
O maior estrategista das guerrilhas da guarda católica de Antônio Conselheiro; Padre
Cícero: Santo ou embusteiro? - Benjamin Abraão Botto e a involuntária extinção do
cangaço comandado por Lampião; Coronel Manuel Benício: Notas sobre um comandante
paraibano de forças volantes - Métodos de sangramento utilizados por volantes e
cangaceiros – Entrevistas com o Coronel Manuel Arruda de Assis; Notas sobre entrada
de Sabino das abóboras no cangaço - Meia-noite e o fogo da casa de farinha do sítio
Tataíra; Moreno e a vingança implacável de Lampião - A vingança de Lampião contra
o “Coronel” Zé Pereira; Notas históricas
sobre o ousado ataque cangaceiro (27 de julho de 1924) à cidade de Sousa – PB
- O trucidamento de Jararaca em Mossoró; A história do navegador João de Calais
- Luiz Gonzaga, a voz que traduziu as aspirações e a cultura de um povo sofrido;
Tropeiros da Borborema - Aboio dos vaqueiros: Patrimônio imaterial do nordeste brasileiro;
Mossoró no diário de Getúlio Vargas - Notas históricas sobre a importância da cera
de carnaúba; Mossoró e os comboieiros de outrora - A Grande Seca de 1877-1879; Notas
sobre a grande seca de 1932- Princesa: maior manifestação de insurgência do mandonismo
local; Marcolino Pereira Diniz e Xanduzinha: imortalizados através da arte de Luiz
“Lua” Gonzaga - João Pessoa: o martírio do grande governante; Josué de Castro e
o cenário do Nordeste brasileiro - O avanço da Modernidade sobre a feira de Apodi;
Meio ambiente e a herança da agricultura itinerante no semiárido nordestino - A
importância da educação ambiental para a preservação da área do Poço Feio; A batalha
de Vingt-Un Rosado em defesa da pesquisa de petróleo na Bacia Potiguar - Josué de
Castro e as feridas abertas que os poderosos insistem em não curar; A estrela oculta
do sertão - A morte de Josué de Castro no exílio; A origem do topônimo favela na
geografia urbana brasileira - Josué de Castro: ainda um ilustre desconhecido; O
heroísmo das parteiras tradicionais - Importância de Josué de Castro para a formação
de novas consciências; Considerações biográficas sobre dona Maria Joaquina de Souza
(Maria Correia), a parteira das mulheres pobres de Mossoró (RN) - Delmiro Gouveia
e o sonho de industrializar o semiárido; Gilberto Freyre e a essência do impossível
- Notas sobre a atualidade do pensamento de Josué de Castro: sessenta e cinco anos
de publicação da “Geografia da fome”; A importância da Caprinovinocultura em assentamentos
rurais de Mossoró-RN - Ariano Suassuna e o movimento armorial: interesses e valores
das oligarquias sertanejas agropastoris; e, Josué de Castro e a ousadia de denunciar
um tema ainda proibido.
Mediante
esse sistematizado acervo bibliográfico, Cardoso, oferece a seus leitores uma possibilidade
de conhecer melhor as características, sobretudo, politico e socioeconômicas do
semiárido nordestino brasileiro, inclusive, aqueles conhecimentos de causa que se
encontram nas entre linhas da História, explicados com uma didática peculiar do
autor. Certamente, se faz necessário, inclusive nas salas de aula, enfatizarem-se
as riquezas existentes nas terras onde nasceu o Brasil português
e bem como os contrastes sociais que ainda insistem em espavorir muitas famílias
dessa região.
Na região
do Semiárido, em termos socioeconômicos, a pobreza extrema atinge quase metade de
sua população, assim como o desemprego e o subemprego, que são muito elevados nessa
sub- região. As desigualdades de renda aumentaram nas últimas décadas e os padrões
de educação, saúde e de habitação de grande parcela da população ainda são bastante
precários. Segundo Guerino (2010:229).
Nesse
primeiro momento de discussão, de forma sucinta, enfocaremos, através de Cardoso,
alguns elementos literários pertinentes à geo-história do Nordeste do Brasil e sua
Cultura Popular. Veja a seguir, a partir da página 05:
Objetivos
Este
texto propõe uma discussão pertinente à geografia social do seminário nordestino
brasileiro por meio do olhar meticuloso do Geógrafo José Romero Araújo Cardoso.
Além de enfatizar a relevância desse estudioso no processo de pesquisas acadêmicas,
no que diz respeito, predominantemente, a cultura, a política e a economia do povo
do sertão e agreste nordestinos. E, bem como conhecer com maior clareza as peculiaridades
da História dessa região do país, com a contribuição da luz desse pesquisador.
Metodologia
Para
conhecer o pesquisador, e sua produção científica, de quem se trata este artigo,
desenvolveu-se uma minuciosa pesquisa bibliográfica através da internet, e, de seu
recente livro: Textos vivos e reverenciados de um imortal nordestino, organizados
por Marinalva Freire da Silva, 2013. Na sequência, foi-se compilando textos e confrontando-os
entre si e com outros autores que discorrem sobre temáticas, semelhantemente, abordadas.
Discorrendo
sobre as produções acadêmicas do pesquisador
Em Literatura
Nordestina e Cultura Popular: O ABC de Jesuíno Brilhante reeditado pela Queima-bucha,
o escritor, explica como Jesuíno Alves de Melo Calado ingressou na vida bandoleira
do cangaço e aponta quais os códigos de conduta foram adotados pelo o bando, através
de seu líder, um homem com retidão de caráter, segundo o estudioso em
referencia. Jesuíno Calado teve seus dias findos no final de 1879, vítima de uma
emboscada empreendida pelo o seu inimigo mortal conhecido por Preto Limão, na localidade
de Riacho dos Porcos, município de Brejo do Cruz, Estado da Paraíba. (p. 35-39).
No artigo:
A literatura de cordel em defesa do lado bom do nordeste, Cardoso faz uma dura crítica
à visão que se tem de um Nordeste brasileiro dependente, de forma quase exclusiva,
das condições climáticas, ou mais precisamente das precipitações pluviométricas
irregulares, segundo esse estudioso, a problema da seca não é a causa das desigualdades
sociais e acentuada pobreza em alguns pontos do semiárido nordestino, mas a falta
de interesse político associado aos processos econômicos responsáveis pelo o desenvolvimento
histórico dessa grande região do Brasil. Em suas observações, Cardoso, faz menção
da obra: O Lado Bom do Nordeste, escrita pelo o poeta popular Moreira de
Acopiara, pois que: “destaca o que há de belo e positivo no povo e na cultura da
região”, (p. 45).
De fato,
a seca no semiárido nordestino, tem sido durante muito tempo uma oportunidade para
se explorar os votos em campanhas eleitorais das famílias mais carentes. Não tem
sido desenvolvidos pelos poderes
constituídos competentes, programas de políticas públicas de
Estado, persistentes e eficazes, no combate as causas da seca; mediante essa realidade
trabalha-se apenas com medidas paliativas.
Matos,
(2012:1-2) afirma que: A seca é uma realidade ecológico-sócio- política que tem
flagelado o ser humano em muitas épocas históricas (...) a própria seca não pode
ser definida apenas a partir da intensidade e frequência das precipitações, mas
envolve uma articulação entre fatores naturais e humanos.
Escrevendo
sobre “A lenda do poço feio”, Cardoso, narra e ao mesmo tempo desmitifica um personagem
folclórico que sobre vive num poço calcário possuidor de
águas
cristalinas conhecido como o “Baú da Moça”, pois que segundo a lenda, existe nesse
lugar, Poço Feio/Mossoró, uma belíssima mulher encantada que aparece nas noites
de lua cheia e atrai banhistas para a morte, até agora as fatalidades que se registraram
estão mais diretamente relacionadas ao uso de bebida alcóolica. (p. 48).
Quando
se refere À literatura de cordel enquanto veículo de contestação: o caso do cordel
“confusão no cemitério”. Cardoso denuncia o preconceito que se tem com esse tipo
de produção literária e relembra que o notável cordelista paraibano, radicado no
Rio de Janeiro, conhecido por Raimundo Santa Helena, foi impedido de concorrer a
uma vaga na Academia Brasileira de Letras por muito, provavelmente, pertencer a
um segmento social mais simples sem vínculos com o elitismo erudito brasileiro.
Outro personagem marcante citado é José Ribamar Alves, repentista profissional desde
1983, autor dos cordéis “Armadilhas do Destino”, “Pela Vida do Planeta”, “A Quebra
de Silêncio”, “A Crueldade de Osama e A Vingança de Bush” e “Confusão no Cemitério”.
Segundo
Cardoso (p. 52), Em “Confusão no Cemitério” José Ribamar Alves sintetiza a cosmovisão
popular e o seu imaginário quanto ao desejo de buscar a superação das distorções
sociais que separam ricos e pobres num fosso indevassável da realidade criada pelas
elites que se arvoraram em donas do poder desde nossa formação sócio- econômica.
Segundo,
Cacciamali (2002:06), Nas sociedades democráticas modernas, em cada momento histórico,
essas questões, mediadas pelo grau de organização social dos interesses econômicos
e de classes, levam a conflitos explícitos. Estes são canalizados por grupos ou
partidos políticos que, dependendo da estrutura de poder, podem vir a ser filtrados
pelos dirigentes e orientar a política econômica.
Quando
diz respeito À canção e a lenda da cabocla Maringá, obra musical do compositor e
médico mineiro Joubert Gontijo de Carvalho (1900-1977), Cardoso, enfatiza o
regionalismo cultural, tem na figura Maria do Ingá, uma fonte de inspiração e contos
históricos que impressionaram o fim do século de XIX e começo do século XX com o
cancioneirismo clássico popular. Maringá tornou-se um verdadeiro hino do povo pombalense
do sertão paraibano.
Os fatos
narrados em torno do tema: Virgulino Ferreira da silva – o cangaceiro lampião é
uma, outra, especialidade do intelectual pombalense paraibano Romero Cardoso,
que junto com Benedito Vasconcelos Mendes e Suzana Goretti Lima Leite, discorre
sobre a vida e o envolvimento desse personagem marcante da história do sertão nordestino
com o cangaço. Segundo esses pesquisadores, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião,
nasceu a sete de julho de 1897 no município de Villa Bella, hoje Serra Talhada,
Estado de Pernambuco (p.63). Lampião era filho de José Ferreira dos Santos e Maria
Sulema da Purificação. Inicialmente, na condição de almocreve, sua vida, de homem
de labor, foi percorrer vários lugares do Sertão, o que lhe proporcionou um vasto
conhecimento geográfico dessa região que mais tarde foi utilizado no cangaço. Foi
em Alagoas onde Virgulino ingressou no mundo do crime, tornando-se um líder, quando
da sua ascensão a chefe do bando de Sinhô Pereira no ano de 1922. Os pesquisadores,
em Cardoso, discorrem sobre a vida antes e depois de Virgulino entrar para o cangaço
e destacam as principais cidades atacadas pelo o seu bando, bem como os principais
coiteiros de Lampião e a repressão do governo, além de enfatizar o interessante
envolvimento de Maria Déa de Oliveira – “Maria Bonita”, amante de Lampião, no cangaço,
ao mesmo tempo em que fazem menção da famosa Dadá, esposa do cangaceiro Corisco,
que lutou ao lado de seu companheiro até o último momento, e, por fim, narram como
ocorreu a morte do temido Lampião.
De forma
provocante, no bom uso da palavra, em atividades didáticas, Cardoso, comenta a importância
do cordel na sala de aula, como instrumento de linguagem regional, compreensível
e apreciado pelos os estudantes, haja vista a facilidade com se tem de aprender
os conteúdos disciplinares por meio dessa técnica de comunicação.
A importância
de estudar o cordel em sala de aula está sendo enfatizado em projeto ousado e inovador,
por título Acorda Cordel, coordenado pelo poeta popular, radialista,
ilustrador e publicitário cearense Arievaldo Viana, nascido aos 18 de setembro
de 1967, nos sertões adustos de Quixeramobim, terra que também viu nascer o beato
Antônio Conselheiro. Cardoso (p. 75).
Lacerda
e Menezes Neto (2010:219), afirmam que: Ao mesmo tempo, tal fonte histórica, considerando
as suas próprias peculiaridades, permite justamente pensar as diversidades das práticas
culturais, os significados que os grupos sociais dão ao seu cotidiano. Ao lado disso,
o próprio texto do cordel, devido ao seu caráter de poesia rimada e de
fácil
entendimento, pode se apresentar como um ponto de partida para que muitas crianças,
adolescentes e jovens tenham mais contato com a leitura e com a escrita.
(2010:219)
Cardoso
levanta uma discussão pertinente à verdade sobre onde nasceu Leandro de Gomes Barros,
o Príncipe dos Poetas Brasileiros, segundo Carlos Drummond de Andrade, reiterado
pelo o pesquisador. Foi em Barros que, Ariano Suassuna, se inspirou para escrever
suas grandiosas obras. A Vossa Alteza dos poetas brasileiros nasceu em dezenove
de novembro de 1865 na fazenda melancia, então distrito de Paulista, pertencente
na época a Pombal (PB), ver p.77.
Destaca-se
nessa discussão a relevância do poeta Barros para sua terra natal, até os dias de
hoje, inclusive no plano econômico. Cardoso, no entanto, critica o fato de Pombal
lucrar com isso e não Paulista, a verdadeira naturalidade de Barros.
No que
diz respeito à vida e a obra do sagrado filho de Januário e Santana em cordel de
Arievaldo Viana, Cardoso, comenta com certa maestria as origens do Rei do Baião,
o Luiz Gonzaga, como se esse artista tornou-se um imponente marco da cultura e música
nordestina.
Gonzaga
foi à representação da alma do sertão, a essência máxima de um povo e de uma cultura
extraordinariamente rica. O velho “Lua” trouxe para a música a simplicidade e o
bucolismo de um sertão que marcou a infância e a juventude do eterno cantador que
nunca esqueceu sua terra, o chão sagrado do semiárido. (p. 80).
Em Notas
sobre a história regional do nordeste brasileiro - Rio Preto: A revolta extrema
de um negro humilhado, o estudioso da cultura nordestina faz um breve comentário
sobre o cangaceiro solitário conhecido por Luiz. O pesquisador caracteriza a personalidade
perversa e psicopática desse homicida que atuou na região de Pombal, na Paraíba.
Além de narrar à trajetória e fim da história de um assassino covarde, a quem chama
de fera perigosa. Não deixa, no entanto, de proferir uma breve crítica ao Padre
Amâncio Leite, que criou o Luiz, fazendo uso de métodos humilhantes no processo
de educação do menino.
Afirmo
categoricamente que o responsável pela gênese do malvado cangaceiro paraibano foi
o Padre Amâncio Leite. Esse foi o principal responsável pelo terror instalado no
sertão devido a forma extremamente perversa como tratou a criança desde a mais tenra
idade,
infringindo-lhe castigos terríveis que forjaram a personalidade doentia e criminosa
de Rio Preto. Cardoso (p.88).
No tema:
Canudos: notas sobre uma guerra desumana e cruel. Cardoso, afirma que as famílias
simples, em geral agricultoras, oriundas do campo fugiam da fúria do latifúndio
e da prepotência dos senhores de baraço e cutelo que vicejavam de forma proeminente
no sertão nordestino daquela época. Segundo o pesquisador, uma calúnia proferida
por Arlindo Leone, juiz de direito de Juazeiro (BA), criou as condições necessárias
para a futura destruição do arraial que mudou a vida de muitos excluídos nordestinos.
Associaram-se a esse fato, as perseguições empreendidas pela a Igreja Católica e
a imprensa nacional que não poupavam falácias contrárias a Canudos, incitando, dessa
forma, as autoridades, que na sua grande maioria estavam ligadas ao coronelismo,
para que combatesse e destruísse Canudos. “A questão é ressaltar a importância e
a envergadura do debate político que opôs civis e militares e levou à supervalorização
dos conselheiristas como poderosos inimigos da nação”. Hermann (1996:3).
Referindo-se
a temática, Padre Cícero: santo ou embusteiro? Cardoso relata a devoção do sacerdote
e a fidelidade do povo para com seu líder religioso. Cícero do Juazeiro, mesmo excomungado
continuava a ser a referência religiosa do catolicismo em todo Juazeiro e
região.
No artigo
referente a Benjamin Abraão Botto e a involuntária extinção do cangaço comandado
por lampião, o pesquisador relata como o libanês Botto auxiliou o padre Cícero e
se envolveu com o cinema e fotografia.
Com a
morte do padre Cícero Romão Batista, no ano de 1934, Benjamin Abraão Botto começou
a elaborar ousado projeto que objetivava captar imagens fotográficas e cinematográficas
do bando comandado por Lampião, cuja atuação havia se concentrado, desde 1928, entre
os estados da Bahia, de Sergipe e de Alagoas. (p.104)
Em Coronel
Manuel Benício: notas sobre um comandante paraibano de forças volantes, Cardoso,
destaca a sagacidade do coronel Benício no combate ao cangaço. A inteligência e
frieza de espírito desse militar rendeu-lhe o título de homem extremamente corajoso
do sertão paraibano.
Métodos
de sangramento utilizados por volantes e cangaceiros – entrevistas com o coronel
Manuel arruda de Assis. Nesse capítulo de suas pesquisas, Cardoso, explica como
funcionavam os métodos macabros de morte por sangramento realizado por cangaceiros,
inclusive por Lampião, cruel homicida, e soldados.
Símbolo
de uma cultura forjada pela colonização erigida sob a ênfase da força e da violência,
responsável pelo extermínio dos índios que habitavam a hinterlândia, a “técnica”
de sangramento foi aperfeiçoada ao máximo (...) As veias jugulares, outras que também
eram preferidas pelos “sangradores” das lutas do cangaço nordestino, são de extrema
importância para o organismo. A veia jugular interna é a principal. Ao rompê-la
é quase impossível de haver qualquer possibilidade de salvação. (p.108-9).
Em notas
sobre entrada de Sabino das abóboras no cangaço, o pesquisador, relata os motivos
e fatores que levaram Sabino Gório a entrar no cangaço e tornar-se um bandoleiro
fora da lei. Destaca-se nesse episódio o assassinato de um primo legítimo de nome
Josino Paulo, razão maior para seu ingresso no mundo do crime.
Sabino
Gório nasceu e foi criado nesta fazenda mantendo contatos ininterruptos com famanazes
do banditismo rural sertanejo. (p.111). O meio social, sem dúvida, influencia a
formação intelectual de um homem.
. A cada
estímulo do mundo corresponde uma resposta. Estímulo e resposta são, neste sentido,
respectivamente, causa e efeito. Vilarinho (2008:4).
Considerações
finais
Estudar
as causas e fatores responsáveis pela configuração da cultura do sertão do semiárido
nordestino do Brasil se faz relevante para conhecermos o quadro socioeconômico e
político atual dessa rica região. Quanto a isso, lermos o geógrafo, José Romero
Araújo Cardo, faz-se tarefa obrigatória, pelo acervo bibliográfico volumoso e detalhista
com que esse estudioso do sertão se debruça em suas pesquisas minuciosas que revelam
os protagonistas e seus feitos, às vezes lendários, construtores de uma História
que deu sequência ao país de Portugal em terras americanas.
É de
se compreender, que neste primeiro momento, empreendeu-se um esforço para se discutir,
de forma sucinta, uma parcela da coletânea de textos do sábio pesquisador geógrafo
Cardoso, pois que não seria possível mensurar a profundidade de detalhes, qual utiliza
para falar dos personagens que desbravaram os sertões e impuseram suas próprias
regras de sobrevivência e competição acirrada, em muitos momentos, pelo o poder
e por aquilo a que chamavam de honra.
Nesse
processo social, destaca-se a religiosidade catolicista, o folclore indígena e os
mitos afrodescendentes, além da economia pecuária e canavieira, sob a égide da aristocracia
oligárquica e coronelista.
Pois
bem, este é só um ponto de partida, essa caminhada deve continuar, haja vista que,
o sertão do Brasil ainda reserva muitos tesouros que são indispensáveis para explicar
a nossa Sócia Antropologia.
Referencias
Cacciamal,
Maria Cristina. Distribuição de renda no Brasil: persistência do elevado grau de
desigualdade. Manual de Economia, São Paulo: Ed. Saraiva, 2002,
p. 406
- 422. Disponível em < http://www.fea.usp.br/feaecon//media/livros/file_529.pdf
>,
acesso em 23.06.2013.
Cardoso,
José Romero Araújo. Textos vivos e reverenciados de um imortal nordestino / José
Romero Araújo Cardoso. - João Pessoa: Ideia, 2013.
Guerino,
Luiza Angélica. A dinâmica do espaço brasileiro. Vol. 2. – Curitiba: Positivo, 2010.
Hermann,
Jacqueline. Canudos Destruído em Nome da República Uma reflexão sobre as causas
políticas do massacre de 1897. Tempo, Rio de Janeiro, vol. 2, n°. 3, 1996, p. 81-105.
Disponível em < http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg3-4.pdf
>, acesso em 23.06.2013.
Lacerda,
Franciane Gama; Menezes Neto, Geraldo Magella de. Ensino e pesquisa em História:
a literatura de cordel na sala de aula. Outros Tempos - Volume 7, número 10, dezembro
de 2010, p. 217 - 236 - Dossiê História e Educação. Disponível em
http://www.outrostempos.uema.br/artigos%20em%20pdf/Franciane_Gama_Geraldo. pdf
>, acesso em 23.06.2013.
Matos,
Marcos Paulo Santa Rosa. Famílias desagregadas sobre a terra ressequida: indústria
da seca e deslocamentos familiares no Nordeste do Brasil. Nómadas. Revista Crítica
de Ciencias Sociales y Jurídicas | Núm. Especial: América Latina (2012). Disponível
em < http://pendientedemigracion.ucm.es/info/nomadas/americalatina2012/marcospaulosa ntarosa.pdf
>, acesso em 23.06.2013.
Vilarinho,
Yuri Coutinho. A influência social na formação do indivíduo: aproximações entre
as teorias de Wilhelm Reich e de Lev Vygotski. In: Encontro paranaense, congresso
brasileiro, convenção brasil/latino-américa, XIII, VIII, II, 2008. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2008. CD-ROM. [ISBN – 978-85-87691-13-2].
Disponível em < http://www.centroreichiano.com.br/Anais%202008/Yuri%20Coutinho%20Vilarinho.pdf
>,
acesso em 24.06.2013.
Enviado pelo escritor, professor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso.
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