Por: Rangel Alves da Costa(*)
AQUELA POESIA
Algum dia na
vida você já leu, ouviu ou soube algo a respeito das poesias abaixo citadas em
seus trechos mais famosos. Pois bem, são criações poéticas e cujos bardos
merecem todo reconhecimento. Contudo, creio não ser nada de mais que
acrescentemos, por pretensiosidade própria, palavras outras jamais imaginadas
pelos poetas.
Que me
desculpem, pois, Eduardo Alves da Costa (No caminho com Maiakovski), Drummond
(No meio do caminho), Vinícius de Moraes (Soneto da Fidelidade), Cecília
Meireles (Canteiros), Florbela Espanca (Fumo), Camões (Amor é fogo que arde sem
se ver), e Jorge Luís Borges (Instantes). Mas muitos afirmam que “Instantes” ou
“Momentos” é, na verdade, de autoria de Nadine Stair ou mesmo de Don Herold.
Vamos então aos versos criados após os versos tão conhecidos.
“Na primeira
noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não
dizemos nada...”.
A nossa
solidão está refletida no jardim. Assim entristecido e abandonado, ao descaso e
ao desalento, chegam e levam as flores e também os animais de estimação. E
talvez nem percebêssemos se fôssemos retirados dessa escuridão e jogados ao
luar.
“No meio do
caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra.
No meio do caminho tinha uma pedra...”.
E também
espinhos. Havia espinhos no meio do caminho. Por mais que eu desejasse alcançar
a flor perfumada à beira da estrada, no meio do caminho tinha pedras e
espinhos. Por mais que eu vencesse as pedras e os espinhos, não haveria mais
flor naquele caminho.
“E assim,
quando mais tarde me procure, quem sabe a morte, angústia de quem vive. Quem
sabe a solidão, fim de quem ama. Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não
seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure...”.
E mesmo a
morte que me arrebate a vida, e do amor sentido só reste as cinzas, ainda assim
a consolação: Na morte a ressurreição, no renascimento a mesma paixão, eis que
amor tão verdadeiro não se apaga numa despedida, senão permanecer além da vida.
“Quando penso
em você, fecho os olhos de saudade, tenho tido muita coisa, menos a felicidade.
Correm os meus dedos longos, em versos tristes que invento, nem aquilo a que me
entrego já me traz contentamento...”.
Pois a saudade
mira a imagem e fraqueja o espírito pelo tanto recordar. Das mãos frágeis e
trêmulas não surgem uma estrofe sequer, e do coração apaixonado, molhado do
olhar embaçado, apenas a poesia do doloroso lamento.
“Longe de ti
são ermos os caminhos, longe de ti não há luar nem rosas. Longe de ti há noites
silenciosas, há dias sem calor, beirais sem ninhos!... Os dias são Outonos:
choram... choram... Há crisântemos roxos que descoram... Há murmúrios dolentes
de segredos... Invoco o nosso sonho! Estendo os braços! E ele é, ó meu Amor,
pelos espaços, Fumo leve que foge entre os meus dedos!...”.
E tudo é
presença na dor da ausência. A saudade irrompe quebrando cristais e derramando
cálices. Não há motivo de lua nem de sol que mude a paisagem entristecida desse
meu olhar. Uma fonte, um espelho um reflexo, um grito que some nas cinzas do
cigarro aceso. E mais um trago para voar nas mesmas asas que possui seu retrato
distante ao fugir de mim!
“Amor é fogo
que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento
descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um
cuidar que ganha em se perder...”.
Nesse tudo de
amor e nesse nada do amor amado, pergunto ao coração a razão desse querer
exacerbado. E ainda a resposta que o amor é tudo, é trincheira e escudo, mas
uma fatalidade ao menor descuido; que o amor fortifica e fortalece, porém
alquebra a que ele desobedece. E ser obediente no amor não é se entregar com
paixão, mas o comedimento da razão e da medida certa ao coração.
“Se eu pudesse
novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não
tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho
sido... Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no
começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas
na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se
tivesse outra vez uma vida pela frente...”.
Porque o tempo
passa como ventania, e o tempo que me leva em asa se esconde na nuvem para que
eu não veja o passado. Mas um dia descerei dessa cadeira de balanço de brisa e
sopro, e lá embaixo seguirei pelos canteiros do jardim e soltarei uma pipa que
ainda guardo na memória. Depois roubarei o outono e o guardarei para quando eu
quiser partir. Talvez numa tarde primaveril, e depois de jogar milho aos
pombos.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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