Por: Rangel Alves da Costa(*)
SALVE,
INCENDIÁRIOS!!!
A respeito das
últimas manifestações populares em protesto contra os aumentos nas tarifas de
ônibus de São Paulo, Rio de janeiro e Porto Alegre, e os gastos com e estádio
Mané Garrincha, em Brasília, alguém, acertadamente, já disse que as fumaças
espalhadas indicam incêndios maiores. E que ainda eclodirão.
Verdade é que
o pavio da revolta está aceso e não será fácil debelar esse fogo depois que se
alastrar pelos quatro cantos do país. E não é sem motivos que as revoltas, as
indignações, a saída do povo às ruas em protesto, já estão pontuando pipocando
pelas capitais. Aos poucos o povo vai se encorajando ao protesto, e de repente
milhares de pessoas estarão às ruas reivindicando direitos. Ao menos é isso que
se espera das camadas insurgentes.
Nos outros
países, principalmente os europeus, as manifestações justificadas já teriam
eclodido com maior vigor. Por lá não se relega ao esquecimento os abusos
governamentais. Diferentemente da brasileira, a população europeia não suporta
ser achincalhada nem esmagada por muito tempo sem que tome as praças para
mostrar suas insurgências e insatisfações.
O povo
brasileiro acostumou-se a uma passividade doentia. Por aqui, a classe
governante pode tomar medidas absurdas contra o povo, diminuí-lo com as
carestias e as altas inflacionárias, manter vergonhosas redes de corrupção que,
ainda assim, o povo silencia e cruza os braços, se vitimando por conta própria.
É preciso que surja algum movimento organizado tocando fogo no primeiro pneu
para que as autoridades entrem em alerta.
Será, pois,
sempre legítima, legal e justificável, toda e qualquer ação reivindicatória que
parta da população. O povo não pode ficar apenas sentindo na pele e no bolso os
desmandos políticos, e ainda assim permanecer na quietude dos submissos, dos
escravizados. Já é o momento de dar um basta nesses poderes extravagantes, nas
medidas tomadas contra a sociedade, nas atitudes tomadas para ferir ainda mais
a honra e a dignidade do povo trabalhador e cada vez mais penalizado.
O que não é
legítimo nem aceitável num país que se diz de direito e democrático, é que os
próprios governantes coloquem a polícia - paga pela própria sociedade - para
impedir as justas manifestações com barbarismos, arrogâncias, brutalidades,
exacerbação da violência. E o que mais revolta é saber que os ditadores de
plantão, os governantes eleitos pelo povo, afirmem que a polícia apenas estava
fazendo o seu dever em defesa do patrimônio publico.
Senhores
governadores, senhores prefeitos, nada justifica a violência gratuita, a
brutalidade desmedida, a selvagem arrogância, o desrespeito total à
incolumidade física de pessoas que nas ruas estavam apenas manifestando suas
revoltas, suas indignações.
Diferentemente
dos governantes, que sempre veem seus covardes brutamontes tratando pessoas com
cordialidade, todo o restante da população brasileira viu as vergonhosas cenas
com as barbaridades praticadas pela elite aterrorizante das polícias. Balas de
canhões, bombas de efeito moral, gases lacrimogêneos, armas e cassetetes em
punho; enfim, um aparato de guerra sendo usado contra o povo. E qual o crime
cometido? Protestar contra atos governamentais que vão de encontro à população.
Que tais
episódios - ainda que de violência desmedida por parte da polícia - sirvam de
exemplo e encorajamento para futuras lutas, para futuras batalhas se preciso
for. Que os incendiários não se contentem mais em acender pequenas fogueiras,
mas que procurem disseminar as labaredas maiores da ferrenha irresignação toda
vez que governantes sádicos e ditatoriais tomem medidas esdrúxulas e depois
defendam risonhamente as criminosas ações de suas tropas.
Com razão a
minha colega advogada Meirivone Aragão, que em postagem no facebook assim se
manifestou: No Brasil o ato de reivindicar é mal visto, criminalizado,
marginalizado. Só aplaudimos a multidão que se arrasta embriagada atrás dos
trios ou a que goza o êxtase coletivo dos estádios. Atos de protesto coletivo
costumam ser pacíficos até a intromissão da polícia, ordenada por um governo
que não aceita críticas, por um sistema que se protege unido. Quanto ao povo
que grita? Baderneiros, vândalos, desocupados! O respeito ao exercício do
legítimo direito de resistência ainda é lição a aprender. "E a resposta,
meu amigo, continua soprando ao vento..."
Que as
labaredas nunca apaguem. Precisamos de mais incendiários que aticem chamas
nesse circo de corrupção e truculência. Quem viver verá!!!
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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