Por: Rangel Alves
da Costa(*)
O MAL DA POLÍTICA BRASILEIRA
A cronicidade
doentia do Brasil prolifera basicamente de dois focos principais: a
ineficiência governamental em tudo que vá além das desavergonhadas políticas
assistencialistas e a falência da política, por ato de seus representantes.
Acerca da
ineficiência governamental basta citar a educação de péssima qualidade, mesmo
com as mentiras veiculadas para falsear a realidade; a saúde na hora da morte,
com hospitais sem médicos e doentes tratados na mais vergonhosa indignidade
humana; a falácia no combate à pobreza e à miséria, vez que os programas
assistencialistas apenas ocultam os graves problemas sociais que continuam se
alastrando.
Contudo, se
alargam as percepções que podem ser feitas a respeito da imoral política
brasileira. Como o governo nasce de um processo político, na política se
sustenta e por ela é, a um só tempo, envolvido e manipulado, logo se tem que é
a política assoma uma importância fundamental na sobrevivência do país.
E quando ela
está mal, desacreditada, corrompida, aviltada em seus preceitos, manipulada em
nome de interesses escusos e servindo de sustentação a verdadeiros bandidos com
mandato, então se demonstra sua face de mero e distorcido objeto perante o
sistema político. E é tal sistema, carcomido e aviltante, que alimenta esse
grande e malcheiroso lamaçal conhecido por todos.
E por que a
política, enquanto ato de governar, de administrar e cuidar das
instituições públicas, bem como legislar e atender os anseios da população, se
torna em algo tão perverso que passa a não mais atender os seus objetivos?
Só há uma
resposta: os agentes políticos primordiais, que são os governantes e os
parlamentares, negam o poder outorgado pelo povo e transformam a política num
jogo de interesses pessoais ou passam a agir contrariamente aos anseios da sociedade.
A política,
contudo, é o joio bom que é maculado pelas ervas daninhas avistáveis nos seus
agentes. Em si, a política não tem culpa nenhuma se aqueles que agem em seu
nome passam a enlamear seu conceito. Mas o fazem de tal forma que a descrença
na política generaliza-se de tal modo que parte da população lhe nega qualquer
valor.
Contudo, como
afirmado, são os políticos e não a política que, com suas abomináveis ações,
suas omissões e negligências, ou mesmo com o mau uso do poder outorgado, acabam
transformando o país num antro de mazelas e aberrações. Os políticos usam a
política para alcançar o poder; no entanto, ao invés de preservá-la enquanto
sistema, passam a denegrir sua imagem com ações incabíveis perante o poder
obtido.
Mas como não é
fácil separar o joio do trigo, tudo que há de ruim no governo ou no legislativo
é na política que recai a culpa. Neste sentido é que se pode falar num sistema
político falido, na política descompromissada com as causas da nação, na
política como meio para as práticas insidiosas tão conhecidas e noticiadas.
Na verdade, se
há uma culpa na política esta será em abarcar, sob o seu nome, governantes e
parlamentares que usam do poder para manipular, praticar arbitrariedades, achar
que tudo podem porque possuem um mandato. E é a cegueira do poder a porta
aberta para os abusos, as improbidades e os enriquecimentos ilícitos.
Desse modo,
não há como não reconhecer que é no seio da política, através de seus agentes,
que nasce a corrupção, o uso indevido de verba pública, a burocracia criminosa,
a improbidade administrativa, o peculato, a formação de quadrilha; enfim, uma
tipificação talvez maior que a contida no Código Penal e leis extravagantes.
E uma soma de
fatores se reúne para desacreditar de vez a política. Pelo lado dos governantes
reconhece-se desde a precariedade no exercício do poder à má gestão da máquina
estatal. Mas no seu bojo se revelam ainda aspectos como autoritarismos, egoísmo
governamental, distanciamento do povo e negação geral da sociedade.
Contudo,
alguns fatores são característicos de governantes que transformam a política em
objetivos muito distantes daqueles requeridos pela população. Assistencialismo
para aceitação de camadas sociais; manipulação de dados educacionais e de
assistência à saúde, de modo a transformar as ineficiências em algo de
qualidade; a falta de objetivos claros e ações precisas no combate à miséria, à
criminalidade galopante, às drogas. Sem falar na arrogância com que o povo é
tratado nas suas mais justas reivindicações.
Pelo lado do
parlamentar, seja ele senador, deputado ou vereador, o que se tem é o
verdadeiro espanto da população ao perceber que o seu candidato de repente se
transformou naquilo que há de pior na política. E não porque não faz nada, não
produz, mas porque se envolve em falcatruas, corrupções e todos os tipos de
aberrações políticas. Além da velha e conhecida mercantilização do mandato.
Para o
parlamentar, logicamente numa considerável parcela, a política é apenas um meio
onde a ilicitude é o fim. Tudo faz para obter o poder porque sabe que este
servirá como escudo para a prática de ilícitos, para a manipulação e o
exercício da influência arbitrária perante os órgãos. E principalmente para
tornar o mandato num reinado atroz e imoral.
Somente o povo
para combater, para extirpar os males da política, espelhando o que há de pior.
Mas o povo, enfim, parece ter despertado. Já começou, através das recentes
manifestações, a amolecer as raízes apodrecidas. Na verdade, não da política, e
sim dos políticos que acabam transformando o Brasil num covil putrefato e cheio
de ratos engravatados. Ou de laquê no cabelo.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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