Por: Rangel Alves
da Costa(*)
Sempre
imaginei que a cultura fosse prioridade nas políticas governamentais. Ao menos
em Sergipe - e perante leis e órgãos criados para incentivar a produção
cultural - verdadeiramente não é. Pelo contrário. Negam a cultura tanto pelas
exigências burocráticas como pela velha e descabida desculpa de contenção de
despesas.
Mas não foi
sempre assim. Em 1996 tive o apoio do governo estadual, sob o comando de Albano
Franco, para publicar o meu primeiro livro: Todo Inverso. Foi publicado pela
Pesquise/Sociedade Editorial de Sergipe, tendo à frente Luiz Antônio Barreto.
Daí em diante os apoios acabaram e os meus livros passaram a ser publicados por
uma editora paulistana, a Agbook.
Contudo,
diante da importância do novo livro que escrevi, “Todo o Sertão num só Coração
- Vida e Obra de Alcino Alves Costa”, uma biografia completa do meu pai
falecido em novembro de 2012 - e que deixou um extenso e importante
legado cultural no estado e por todo o país -, eu acreditava que os bons ventos
do apoio cultural soprariam a meu favor.
Redigi ofício,
mostrei a importância do livro e do biografado, afirmei sobre a contrapartida
do eventual apoio, juntei orçamentos para a obra com cerca de 400 páginas, e o
encaminhei à superintendência do Instituto Banese. Ora, é um órgão estatal cuja
missão é, dentre outros aspectos, “promover o resgate, preservação e difusão da
cultura sergipana”. Contudo, a resposta foi exatamente contradizendo sua missão
de difusão da cultura sergipana.
O Instituto
Banese se negou a colaborar com a publicação do livro. E, ao negar apoio, o fez
de uma forma muito antiga e utilizada para dizer não: “Informamos que o
Instituto Banese está passando por um período de contenção de despesas,
deixando assim de atender a sua solicitação ao apoio da publicação do livro de
sua autoria, ao tempo em que estamos à disposição para futuras solicitações”.
Só isso, e pronto.
Não precisa
muito esforço mental para saber que contenção significa diminuição, limitação.
Do mesmo modo, de forma mais abrangente, se tem contenção de despesas como
economia nos investimentos ou diminuição dos gastos com a promoção e difusão da
cultura. Não significa, contudo, que investimentos, apoios e patrocínios não
continuem sendo realizados pela instituição. Contudo, o meu livro foi escolhido
para exemplificar essa alegada nova realidade de negação à difusão cultural.
A não ser que
se tenha a literatura como produção cultural menor, insignificante no contexto
daquela instituição, que não mereça de apoio estatal para ser produzida,
divulgada e conhecida. Mas creio que não seja assim, vez que o mesmo órgão tem
patrocinado a publicação de livros de poesia e outras manifestações.
O que escrevi
é uma biografia sobre um importante homem da cultura sergipana e nordestina,
que com os seus livros, composições e palestras, difundiu com maestria os
valores culturais, históricos e sociológicos do Nordeste, principalmente no
aprofundamento de seus estudos sobre o fenômeno cangaço e suas afluências.
Porque Alcino Alves Costa, além de político vitorioso na região sertaneja, foi
o porta-voz de suas raízes mais profundas e mais marcantes.
Não é, ainda
que a alguns possa parecer, apenas um breve relato sobre a vida desse sertanejo
que gostava de se intitular “O Caipira de Poço Redondo”. É, ao lado do
histórico do homem, também o histórico da realidade sertaneja, pois seus livros
procuraram analisar em profundidade fenômenos sociais marcantes do Nordeste,
numa saga envolvendo cangaceiros, coronéis, jagunços, volantes, coiteiros,
misticismo, violência e religiosidade, dentre outros aspectos. E tudo isso é
avistado na sua biografia.
Mas o
Instituto Banese se negou a apoiar sua publicação. Como afirmado, contenção de
despesas foi a justificativa. E na mesma via da negação da cultura sergipana
age o próprio Banese enquanto instituição financeira que, paradoxalmente, criou
recentemente um programa de crédito especial para a cultura denominado Credi
Cultural.
O Credi
Cultural Banese, um projeto criado pelo Banese em parceria com Secretaria de
Estado da Cultura/Secult, visa disponibilizar uma linha de crédito destinada
especialmente para o empreendedor cultural de Sergipe, com acesso de
financiamento também para pessoa física. E antes mesmo de procurar o Instituto
Banese procurei me informar sobre a tal linha de crédito cultural.
E a minha
impressão foi que a linha de crédito nada tem de especial e que se a cultura
sergipana depender dela continuará no limbo. Ora, fui informado das mesmas
exigências para a obtenção de um crédito bancário normal, sujeito à análise,
com comprovação de rendimentos e a necessidade de ser correntista do banco a
pelo menos seis meses, além de outras miudezas burocráticas.
Daí o
questionamento: O que será da cultura sergipana se precisar de tais
instituições governamentais? O Instituto Banese não pode patrocinar cultura por
contenção de despesas e o Banese pela inviabilidade que deu a um programa
criado exatamente para viabilizar a produção cultural. Daí não se chegar a
outra conclusão que não seja a da certeza que a valorização estatal da cultura
se satisfaz apenas com a aparência.
Enquanto isso
o meu livro continua na gaveta. Mas quem quiser pode ajudar. Confio mais na
iniciativa privada do que no Estado. Qualquer apoio/patrocínio será de boa
acolhida para a publicação da obra. Contato pelo e-mail: rac3478@hotmail.com.
(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.
Poeta e cronista
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