segunda-feira, 10 de agosto de 2015

VIVER DE ESPERANÇAS

Por Rangel Alves da Costa*

Quando os planos não são concretizados e a realidade se mostra cada vez mais difícil, outra coisa não há a fazer senão viver de esperanças.
Diriam que ninguém vive apenas de expectativas, num mundo de ilusão que acaba distorcendo o enfrentamento da vida real. Mas às vezes não há outra saída.

Situações existem onde o ser humano tem de se apegar a qualquer possibilidade. Ou assim faz ou se anula, ou se prostrai como ser passivo e entregue aos desvãos do mundo.

Verdade que as esperanças não são garantias de nada nem fazem dar por contente aquele que a elas se apega. Mas eis que surge a ideia de luz no fim do túnel, de expectativa.

A luz no túnel da vida nada mais é que seguir em frente em busca de saída para os problemas existentes, para as tristezas e angústias que amedrontam e fragilizam o ser.

Com plena razão aquele que afirma ser melhor tentar avistar o sol pela fresta a procurar se acostumar com o negrume que se estende ao redor e dentro da alma.

Como dito, muitas vezes não há outra saída senão fazer da esperança um sonho plausível. É como uma fé que exsurge como certeza de que algo bom logo acontecerá.

Neste momento em que o Brasil e a maioria dos brasileiros passam por tantas dificuldades, a desesperança aos poucos vai se transformando em desilusão e descrença total.

E não sem razão. Os desmandos políticos, as corrupções, as negociatas, as propinas, o círculo vicioso dos favores, tudo isso foi levando o País a um abismo jamais imaginado.

Mas o problema não é com o País, pois este possui força suficiente para retomar suas forças. O problema é com o povo que está afundando no abismo no lugar do País.

Mesmo à beira do abismo, o Brasil vai suportando a tentação de cair de vez. Mas o povo não tem essa força, não possui qualquer ânimo quando se vê impotente de tudo.

A fragilidade do povo é tamanha que parece haver perdido a voz, o grito, o poder de indignação. Porém se lança à esperança antes que o abismo lhe abrace nas profundezas.


Mesmo sabendo que sua esperança é de pouca valia, vez que o medo tomou conta de tudo, ainda assim o povo deseja se erguer e caminhar mesmo que seja na escuridão.

É a vontade de não sucumbir de vez que ainda faz o povo avistar aquela luz no fim do túnel, ou na visão do abismo. Sabe que não merece submeter-se pelos erros dos outros.

Contudo, coisas existem que não há esperança que alimente a consciência. Em determinados contexto, não há esperança maior que faça algo ser algum dia modificado.

Há esperança que o lamaçal da política e dos políticos seja algum dia modificado? Há esperança que um dia acabe as corrupções, as improbidades, a roubalheira desenfreada?

Há esperança que os governantes cumpram suas promessas de campanha e depois de eleitos avistem o povo como seres humanos e não como vermes que merecem ser pisoteados?

Há esperança de dignidade na saúde, na educação, na segurança pública, na presteza dos serviços públicos? Há esperança de que o povo não seja visto apenas como voto?

Desse modo, para muita coisa verdadeiramente não há esperança. O que se enraíza como mal e é sempre alimentado com novos malefícios, jamais brotará uma flor perfumada.

Tamanha desesperança no povo que se apega a qualquer esperança miúda. Diante da impossibilidade de ter mais, acaba lhe restando o sonho de apenas continuar existindo.

E a esperança pequena se reduz a coisas mínimas. Ínfimas, pois inerentes ao ser humano, e se tornando imensas perante o deplorável estado social que vorazmente se alastra.

Daí restar a esperança de a conta de energia não subir ainda mais, a esperança de poder comprar o remédio, a esperança de poder ir à feira e voltar com algum alimento.

E também a esperança de não desumanizar-se tanto perante as desesperanças, a esperança de continuar ao menos com a dignidade humana que tanto desejam usurpar.

São poucas coisas, poucas esperanças. Apenas continuar subsistindo, sobrevivendo, suportando as más notícias que todos os dias surgem como vergonhosa enxurrada.

Não pode mudar a política, não pode mudar os políticos, não pode mudar os ajustes governamentais que desajustam a sociedade. Não pode nada. Até morrer está caro demais.

Então não há o que fazer. Viver das mínimas esperanças é o que lhe resta. E abre a porta desalentado para caminhar pelas ruas em meio a pessoas que apenas caminham.

Apenas caminham porque não há com o que comprar, com o que pagar, com o que se manter. E a esperança não possui preço barato. É sonho. E sonhar pode custar muito caro.

Poeta e cronista
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